Especialistas alertam que a redução do desmatamento em abril não pode ser considerada como uma tendência duradoura. Eles explicam que os próximos meses serão marcados pela temporada de seca, o que pode ter uma influência significativa na alta dos números relacionados à destruição da floresta.
O Deter: Ferramenta do governo federal que gera alertas rápidos para evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia e no Cerrado., sistema de alertas rápidos de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostrou uma queda de 68% na quantidade de avisos de desmatamento: Eliminação total da vegetação nativa numa determinada área seguida, em geral, pela ocupação com outra cobertura ou uso da terra. na Amazônia Legal: É uma região que ocupa quase metade do território brasileiro, abrange 9 estados e tem área superior ao do bioma amazônico. em comparação com o mesmo mês do ano passado. Em termos de área, o contraste chama a atenção. Enquanto no mês passado foram registrados 329 km² de florestas ceifadas, em abril de 2022 foram registrados 1.026 km² – a média histórica para abril é de 473 km².
Desmatamento em abril de 2023 caiu 68% na Amazônia
O número, apesar de positivo, precisa ser colocado em perspectiva, segundo especialistas ouvidos pela reportagem. Um dos pontos importantes é que o quarto mês de 2022, último ano do governo Bolsonaro, registrou o maior desmatamento da série histórica para abril, que começou em 2016. Portanto, uma eventual queda já era esperada. No entanto, isso não deixa de ser significativo em termos numéricos. A taxa identificada agora pelo sistema oficial de monitoramento do governo é a mais baixa dos últimos quatro anos.
Outro fato que atenua um pouco a importância da taxa de abril é de ordem climática. Na Amazônia, os primeiros meses do ano são marcados pelas abundantes chuvas tropicais, o que dificulta o trabalho dos desmatadores – e as nuvens também são um complicador adicional para o monitoramento da destruição florestal por imagens de satélite, que é o caso do Deter.
Além disso, apesar de órgãos como o Ibama terem voltado a atuar na Amazônia - as multas aplicadas pelo instituto aumentaram 90% nos quatro primeiros meses do governo Lula - e dos dados positivos de abril, ainda não se pode falar em uma tendência de queda no desmatamento, de acordo com a especialista Mariana Napolitano, gerente de Conservação do WWF-Brasil. "Os números estão em um patamar muito alto e a temporada da seca, favorável ao desmatamento, ainda não começou", diz. Um raciocínio semelhante é compartilhado pelo físico Paulo Artaxo, da USP, que também estuda a região há décadas. "Observamos que o número de desmatamento caiu [em abril], mas é muito cedo para estabelecer qualquer relação com as multas do Ibama ou o aumento da fiscalização. Vamos aguardar um pouco mais", afirmou o cientista.
Para aqueles familiarizados com os detalhes dos processos de desmatamento na Amazônia, é complicado estabelecer uma relação direta entre a retomada de uma política ambiental no Brasil e os índices registrados em abril, mas é possível dizer, de acordo com Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon, que a mudança de direção do vento é algo positivo. "A retomada da pauta ambiental pode ser um dos fatores que explicam a queda. Qualquer discurso que não estimule a devastação da Amazônia, por si só, já funciona como um desestímulo para os desmatadores ilegais, que perdem a sensação de impunidade", explica a engenheira florestal.
Apesar das ressalvas, é importante estar atento para verificar se a queda de abril se concretiza como uma tendência. O acúmulo de alertas entre janeiro e abril deste ano, nos quatro primeiros meses do governo Lula, representa uma área de 1.173 km², em comparação com os 1.968 km² acumulados nos quatro primeiros meses de 2022. Ou seja, o acumulado até agora em 2023 teve uma queda de 36% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Geografia da destruição
A Sala de Situação do Inpe – ferramenta que visa subsidiar ações de inteligência territorial através da visualização resumida de indicadores de áreas críticas do desmatamento – também revela a porcentagem de perda de floresta por categorias fundiárias existentes na Amazônia. Quase metade da destruição (46,5%) detectada pelo Deter em abril ocorreu em áreas listadas no Cadastro Ambiental Rural: Registro eletrônico obrigatório, feito por autodeclaração e voltado à regularização ambiental de imóveis rurais de todo o país. (CAR), registro eletrônico feito por autodeclaração e voltado à regularização ambiental de imóveis rurais.
O desmatamento dentro de terras indígenas aparece em último lugar no ranking, representando menos de 1% do total. De acordo com a metodologia do Inpe, os alertas registrados em cada uma das categorias (terras indígenas, unidades de conservação: É um território voltado à manutenção de ecossistemas e de recursos naturais para toda a sociedade e com delimitação, gestão e proteção do poder público., assentamentos: Conjunto de imóveis em zona rural delimitado pelo poder público federal ou estadual para fins de reforma agrária, Áreas de Proteção Ambiental, Cadastro Ambiental Rural, Florestas Públicas Não Destinadas: Florestas públicas não destinadas são áreas que estão sob a administração do governo federal ou de algum governo estadual, mas ainda não receberam uma finalidade específica, como serem designadas como terras indígenas, unidades de conservação ou outras formas de áreas protegidas. e Indefinida) não apresentam sobreposição.
Em relação às unidades federativas do país, os estados inseridos no chamado arco do desmatamento - Mato Grosso (80 km²), Amazonas (89 km²) e Pará (86 km²) - foram os que registraram mais desmatamento no mês passado. Os dez municípios com maior desmatamento no agregado dos 30 dias de abril estão localizados nesses três estados.
O desafio até o Prodes
Ao contrário do Deter, sistema do Inpe que emite alertas rápidos para ajudar na fiscalização e combate do desmatamento pelos órgãos de controle, o Prodes: Projeto para o mapeamento oficial das perdas anuais de vegetação nativa na Amazônia Legal. é utilizado para divulgar as taxas anuais de desmatamento da região. Os 12 meses usados na análise desse sistema, precisamente para incorporar os períodos secos e chuvosos dos trópicos, vão de agosto de um ano a julho do ano seguinte.
A análise realizada com base nos dados de desmatamento na Amazônia Legal entre agosto de 2022 e abril de 2023 indica que o atual governo terá que fazer um esforço árduo para que o Prodes 2023/2022 seja mais baixo do que o registrado nos últimos 12 meses do governo Bolsonaro.
Entre agosto de 2021 e julho de 2022, os alertas de desmatamento do Deter cobriram uma área equivalente a 8.590 km² de floresta. No atual ano utilizado para o cálculo do desmatamento, ou seja, entre agosto de 2022 e abril de 2023, já foram desmatados 5.977 km². Isso significa que a quantidade de alertas de desmatamento teria que diminuir significativamente entre maio, junho e julho, a fim de zerar a diferença restante de 2.613 km².
Por isso, a meta para os próximos meses é bastante difícil. Na prática, as séries históricas mostram que é no período de maio a setembro que os desmatadores operam com maior intensidade na Amazônia. Os climatologistas também preveem a ocorrência de um fenômeno El Niño na região nos próximos meses, o que tornaria o ambiente ainda mais seco.
“Os próximos três meses serão vitais para conseguir reduzir os dados de forma mais consistente e tentar obter um resultado para o Prodes 2023 menor do que o de 2022. Repetir números baixos como o de abril, sem dúvida, seria uma ajuda", afirma Luis Maurano, tecnologista sênior do Inpe, responsável pelos programas de monitoramento do Instituto.
Reportagem da InfoAmazonia para o projeto PlenaMata.