José Antonio Dubiella (MBD), prefeito de Feliz Natal (MT), tem propriedade em município vizinho, com estrada que adentrou o Parque Indígena do Xingu em 2021 e está conectada a uma rede de outras vias secundárias onde ocorre a exploração madeireira ilegal.

José Antonio Dubiella (MBD), prefeito de Feliz Natal (MT), a terceira cidade mais desmatada em 2023, tem uma fazenda localizada em um município vizinho, Nova Ubiratã (MT). Uma investigação da InfoAmazonia revela que a propriedade está ligada a uma rede de ramais – estradas secundárias, que se conectam com outra principal – onde ocorre exploração ilegal de madeira do Parque Indígena do Xingu.

Dubiella foi um dos alvos da operação Desbaste, realizada nesta quinta-feira (21), onde a força-tarefa ambiental do Grupo de Atuação Contra o Crime Organizado (Gaeco) cumpriu 37 mandados de busca e apreensão e medidas cautelares contra um grupo criminoso envolvido em crimes ambientais em Mato Grosso. 

O prefeito de Cláudia (MT), Altamir Kurten (PSDB), também foi alvo da operação. “Foi confirmado que os prefeitos de Claudia e Feliz Natal foram alvos de busca e apreensão”, informou, por e-mail, a assessoria de imprensa do Ministério Público de Mato Grosso. 

“Os investigados respondem pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, inserção de dados falsos em sistemas de informação, corrupção e outros crimes contra a administração ambiental, dentre outros, cujas penas máximas somadas podem chegar a mais de 20 anos. O inquérito está sob sigilo judicial”, diz a nota sobre a operação enviada à imprensa.

A fazenda 

Com base no Sistema de Indicação por Radar de Desmatamento para a Bacia do Rio Xingu (Sirad-X), que utiliza informações do satélite Sentinel-1: Os satélites SENTINEL-1 são aplicados ao monitoramento terrestre e oceânico e levam a bordo sensores de radar SAR, um sensor de abertura sintética que opera na banda C (entre 8 a 4 GHz ou 3,8 – 7,5 cm)., e imagens de alta resolução da Planet: Com mais de 200 nanossatélites, o sistema Planet orbita os polos da Terra a cada 90 minutos, capturando toda a superfície terrestre diariamente com imagens diárias de alta resolução espacial (1 a 5 metros)., a reportagem constatou que um ramal ligado à Fazenda Tupasseretan, do prefeito de Feliz Natal, cruzou o limite do Parque Indígena do Xingu em julho de 2021. A propriedade está localizada no município de Nova Ubiratã (MT), tem requerimento de Cadastro Ambiental Rural: Registro eletrônico obrigatório, feito por autodeclaração e voltado à regularização ambiental de imóveis rurais de todo o país. (CAR) em nome de Dubiella, e fica na divisa com Feliz Natal, a menos de 500 metros do território indígena. 

O monitoramento do Sirad-X também já havia identificado ramais madeireiros que se ligam a uma rede de estradas que passam por algumas fazendas na região e que estão no limite do território indígena. Um dos casos é o da fazenda Tupasseretan.

É possível, por meio das imagens, constatar o desmatamento: Eliminação total da vegetação nativa numa determinada área seguida, em geral, pela ocupação com outra cobertura ou uso da terra. dentro do Parque Indígena do Xingu após a chegada da pequena estrada. Especificamente na área desses ramais, que adentram o território indígena no município de Nova Ubiratã, foram devastados 0,71 km² em 2021 e 2022 – sendo 0,59 km² apenas no ano passado, o que representa 36% de total registrado em todo o Parque Indígena do Xingu no ano (1,64 km²), segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes: Projeto para o mapeamento oficial das perdas anuais de vegetação nativa na Amazônia Legal.), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

E a perda de floresta é contínua. Em junho deste ano, o Deter: Ferramenta do governo federal que gera alertas rápidos para evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia e no Cerrado., sistema que gera alertas rápidos de desmatamento, também do Inpe, registrou aproximadamente 9 km² de desmatamento no Parque Indígena do Xingu, apenas na área ligada à fazenda Tupasseretan. 

Além disso, Feliz Natal figura entre as cidades mais afetadas pelo desmatamento em 2023. O município apresentou a maior área (175,45 km²) sob alerta no primeiro semestre (1º de janeiro a 31 de junho) na Amazônia Legal, segundo os dados do Deter.

Agora, no início de setembro, a cidade caiu duas posições, mas ainda assim é a terceira mais desmatada da região, atrás apenas de Apuí (AM) e Altamira (PA).