A Terra Indígena Yanomami é historicamente afetada pelo garimpo ilegal. No final de junho, a InfoAmazonia publicou uma reportagem com dados inéditos dimensionando o problema no território: 59% dos rios habitados por indígenas no Distrito Sanitário Especial Indígena sofrem com o impacto das invasões

Durante essa primeira análise, foi possível ver que havia uma quantidade considerável de cicatrizes de queimadas, principalmente na parte leste do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI). Isso foi possível observar com a ajuda dos dados enviados pelos pesquisadores do grupo Geo-Yanomami, criado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mas que contou com a parceria de diversas instituições: Universidade Veiga de Almeida (UVA), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), entre outros. 

Sabe-se que as queimadas na Amazônia são de autoria criminosa: o fogo não é natural do bioma. O ciclo na região funciona ligado ao desmatamento: os seres humanos cortam as árvores de uma determinada área para, depois, queimar e liberar o terreno para agricultura ou pecuária. Assim, a detecção das cicatrizes em uma parte do território dos Yanomami levou a uma série de perguntas: Como o desmatamento afeta a TI Yanomami? De que maneira o uso da terra mudou nos últimos anos? E de que modo o mapeamento do desmatamento pode ajudar a coordenar ações humanitárias na região? O que as lideranças locais acham disso?

Principais dados

Para responder a essas perguntas, os pesquisadores do grupo Geo-Yanomami, em parceria com o Laboratório InfoAmazonia de Geojornalismo, usaram uma análise do sistema Deter para avaliar as alterações na cobertura vegetal dentro do DSEI Yanomami. Primeiro, os especialistas verificaram quantas alterações, também chamadas de manchas, surgiram no período entre agosto de 2016 e novembro de 2022. 

Reprodução de tela durante análise de dados do Deter com cicatrizes de queimadas detectadas durante a investigação.

Depois, as 509 manchas encontradas por imagens de satélite foram reclassificadas como 22 áreas de clareira, 151 áreas com outros tipos de desmatamento, 145 áreas de mineração (incluindo o garimpo) e 191 áreas de queimadas. 

Para cada uma dessas manchas, foram calculados a área, em quilômetros quadrados, e o perímetro, em quilômetros. Esse cálculo resultou em uma descoberta importante: ao todo, 729 quilômetros quadrados sofreram alterações significativas na sua cobertura vegetal durante o período analisado. 

A partir da descoberta deste dado, a reportagem entrou em contato com especialistas para avaliar o que o número representa e analisar quais pistas a geolocalização destas áreas pode trazer. Com isso, foi possível verificar que o fogo em áreas periféricas da TIY, como o leste do território, tem relação com a atividade madeireira e com a expansão das áreas de pastagem. 

Fontes e cientistas

A escolha das fontes se baseou na busca por respostas para as principais perguntas apontadas acima. Para entender como o desmatamento afeta a terra indígena, de modo geral, a ideia era conversar com pesquisadores que possam analisar seus efeitos no território e comparar com outras terras indígenas, apontando semelhanças e diferenças no uso do solo. 

Além disso, também era necessário encontrar especialistas que pudessem analisar como Roraima, onde está a maior parte do território, se insere no contexto nacional e difere do contexto de outros estados da Amazônia Legal. Para isso, a reportagem buscou a pesquisadora Martha Fellows Dourado, que é vinculada ao Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e que é formada em Gestão Ambiental pela Universidade de Brasília (UnB). 

Paralelamente, outra pergunta a ser respondida pela reportagem está relacionada aos impactos deste desmatamento dentro da TI. Para isso, seria necessário conversar com líderes de entidades nacionais que possam relacionar a situação deste território com a de outras terras do entorno. Neste sentido, foi essencial a entrevista com Kleper Karipuna, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que contextualizou a demanda do Povo Yanomami junto a outras demandas nacionais. 

Ainda mais essencial para responder essa pergunta é entrevistar porta-vozes da região, ou seja, lideranças indígenas da TI Yanomami. Neste caso, a opção foi por uma entrevista com Davi Kopenawa, da Hutukara Associação Yanomami, que é a principal entidade que atua na região hoje em dia e que tem grande relevância também no cenário internacional. 

Finalmente, para explicar de que maneira o uso da terra mudou nos últimos anos e de que modo o mapeamento do desmatamento pode ajudar a coordenar ações humanitárias na TI Yanomami, foram escolhidas fontes vinculadas ao projeto Geo-Yanomami, como Ana Claudia Rorato Vitor e Christovam Barcellos. Os especialistas foram indispensáveis para traduzir os dados em termos mais simples e compreensíveis para o grande público, além de ajudar a destacar quais as informações mais importantes dentre as diversas descobertas feitas pelo grupo. 

Fontes consultadas:


Este material é parte do Laboratório InfoAmazonia de Geojornalismo, realizado com o apoio do Instituto Serrapilheira, para promover e difundir o conhecimento científico e análise de dados geográficos na produção jornalística.

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