Informações do Monitor da Floresta do PlenaMata trazem estimativas em tempo real, com base nos dados do Inpe, e apontam perda de 1,6 milhão de árvores por dia.

Quase 600 milhões de árvores foram derrubadas na Amazônia brasileira entre 1º janeiro e 30 de dezembro de 2022, de acordo com dados inéditos do Monitor da Floresta do PlenaMata, uma iniciativa do MapBiomas, InfoAmazonia, Natura e Hacklab pelo fim do desmatamento. Nesse período, foram perdidas mais de 1,6 milhão de árvores por dia, uma média de 1.128 a cada minuto, 18 a cada segundo.

Contador do PlenaMata traz estimativa em tempo real de árvores derrubadas na Amazônia Legal. No fechamento desta reportagem, em 30 de dezembro, marcava 576 milhões de árvores derrubadas por desmatamento em 2022.

Ao todo, desde o início do ano, a Amazônia perdeu 8,5 cidades do Rio de Janeiro (10.238 km²) em floresta. Na última semana, foram 146 árvores derrubadas por minuto.

Como funciona o contador

O Monitor da Floresta inclui um contador de árvores derrubadas: Ferramenta desenvolvida pelo MapBiomas/PlenaMata que estima em tempo real quantas árvores são derrubadas na Amazônia Legal brasileira, que utiliza como base os alertas diários de áreas desmatadas do DETER: Ferramenta do governo federal que gera alertas rápidos para evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia e no Cerrado[+], do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e multiplica pela quantidade média de árvores estimada pela ciência para cada hectare de floresta na Bacia Amazônica, que é de 565 árvores — número obtido de um amplo estudo realizado por mais de uma centena de cientistas e publicado na revista Science, em 2013.

Como os alertas do Deter são divulgados semana a semana, o contador inclui uma estimativa em tempo real de quantas árvores estão caindo até o presente momento.

Ela funciona da seguinte forma: todas as sextas-feiras, o Inpe atualiza seus dados referentes à semana anterior. Por exemplo, nesta sexta-feira (30), a taxa divulgada é referente ao período que vai do dia 19 a 23 de dezembro — e não entre os dias 26 e 30.

Com base nesse novo dado divulgado pelo Inpe — o mais recente disponível —, o contador também faz uma atualização de sua taxa semanalmente, às 12h de sexta-feira, incluindo a conversão de km² para o número de árvores. Como o número é referente à semana anterior, o índice é replicado para a semana do momento, seguindo assim a tendência e fazendo uma estimativa em tempo real.

Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, o que o contador faz é transformar os dados de desmatamento do Inpe em números de árvores tombadas. “Tudo isso para representar de forma mais concreta o significado da derrubada da floresta. Em vez de falarmos em áreas, abordamos em números de árvores, o que dá um pouco mais de noção do tamanho do desastre”.

 Tudo isso para representar de forma mais concreta o significado da derrubada da floresta. Em vez de falarmos em áreas, abordamos em números de árvores, o que dá um pouco mais de noção do tamanho do desastre.

Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas

Assim, o Pará lidera o ranking de árvores tombadas entre janeiro e dezembro. Neste ano, o Amazonas consolidou a vice-liderança entre os estados mais desmatados da Amazônia.

Árvores derrubadas entre janeiro e dezembro de 2022

Pará: 197 milhões de árvores
Amazonas: 144,8 milhões de árvores
Mato Grosso: 113,7 milhões de árvores
Rondônia: 70,3 milhões
Acre: 32,9 milhões de árvores
Roraima: 10,9 milhões de árvores
Maranhão: 6 milhões de árvores
Tocantins: 516 mil árvores
Amapá: 380,9 mil árvores

Fonte: Monitor da Floresta do PlenaMata

Dados do Prodes

O Prodes: Projeto para o mapeamento oficial das perdas anuais de vegetação nativa na Amazônia Legal., sistema de monitoramento anual de perda de vegetação do Inpe, reúne seus dados entre agosto e julho. Entre esses meses de 2021 e 2022, a Amazônia perdeu 11,5 mil km² de floresta, um índice 11% menor do que o contabilizado entre 2020 e 2021, quando a devastação somou 13,2 mil km².

Apesar da queda, especialistas ouvidos pelo PlenaMata analisam que, neste ano, o pico de desmatamento ocorreu entre agosto, setembro e outubro e, portanto, não foi contabilizado nos dados divulgados até o momento pelo Prodes.

Essa análise está de acordo com o que foi monitorado pelo contador de árvores derrubadas, que leva em conta os dados do Deter, sistema que faz o monitoramento semanal e é divulgado todas as sextas: na primeira quinzena de setembro, estavam sendo desmatadas quase 3 mil árvores por minuto, índice alarmante que chegou a ser destaque em um dos debates do período eleitoral.

Mesmo que os dados mais recentes do Prodes apontem uma queda em relação à 2020/2021, o índice ainda figura como o segundo pior dos últimos 14 anos. Entre 2019 e 2022, na era Bolsonaro, a Amazônia Legal perdeu um total de 45,5 mil km² de floresta. O número é quase 60% superior ao balanço dos quatro anos anteriores – entre 2015 e 2018, foram 28,5 mil km². No atual governo, o desmatamento na maior floresta tropical do planeta voltou a índices de 15 anos atrás.

Efeitos do desmatamento

A floresta amazônica contribui para a manutenção do clima na Terra ao estocar grande quantidade de dióxido de carbono (CO2), um dos gases responsáveis pelo efeito estufa e aquecimento global. No entanto, um estudo liderado pela pesquisadora do Inpe Luciana Gatti e publicado em julho de 2021 na revista científica Nature aponta que o lado leste da Amazônia tem perdido a função de reter o gás carbônico.

A pesquisa, uma das mais completas sobre o assunto, apurou a concentração de CO2 em diferentes regiões da Amazônia entre 2010 e 2018 e mostrou que o nordeste e sudeste da floresta, os mais desmatados e queimados, já emitem mais dióxido de carbono do que absorvem, ou seja, tornaram-se fontes de emissão de CO2.

Em entrevista ao InfoAmazonia e PlenaMata, a cientista explica em detalhes o fenômeno “catastrófico” e alerta que o processo tem reduzido ainda a formação de chuvas na região e aumentado a temperatura a níveis preocupantes, com impactos na saúde humana, na segurança das populações e na economia brasileira, uma vez que o agronegócio é diretamente afetado pelas mudanças no clima.

Ilustração de Julia Lima, com dados de MapBiomas e Luciana Gatti (Inpe)

Reportagem do InfoAmazonia para o projeto PlenaMata.

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