Informações do Monitor da Floresta do PlenaMata trazem estimativas em tempo real, com base nos dados do Inpe, e apontam perda de 1,6 milhão de árvores por dia. Foram 100 milhões em pouco mais de um mês.
Mais de 400 milhões de árvores foram derrubadas na Amazônia brasileira entre 1º janeiro e 15 de setembro de 2022, de acordo com dados inéditos do Monitor da Floresta do PlenaMata, uma iniciativa do MapBiomas, InfoAmazonia, Natura e Hacklab pelo fim do desmatamento. Nesse período, foram perdidas mais de 1,6 milhão de árvores por dia, uma média de 1.156 a cada minuto, 19 a cada segundo.
No entanto, no último mês, a velocidade da devastação acelerou ainda mais. Em 11 de agosto, o PlenaMata e o InfoAmazonia já haviam noticiado que o número de árvores derrubadas havia ultrapassado a marca de 300 milhões. Agora, em pouco mais de 1 mês (34 dias), o montante agrega mais 100 milhões de árvores tombadas, totalizando as 400 milhões derrubadas este ano.
Contador do PlenaMata traz estimativa em tempo real de árvores derrubadas na Amazônia Legal. No fechamento desta reportagem, em 15 de setembro, marcava 403 milhões de árvores derrubadas por desmatamento em 2022.
Ao todo, desde o início do ano, a Amazônia perdeu quase 6 cidades do Rio de Janeiro (7.190 km²) em floresta. Só na última semana, foram 2.909 árvores derrubadas por minuto, ou 48 por segundo, mais do que o dobro (151%) em relação à velocidade média de árvores perdidas em 2022.
Como funciona o contador
O Monitor da Floresta inclui um contador de árvores derrubadas, que utiliza como base os alertas diários de áreas desmatadas do DETER: Ferramenta do governo federal que gera alertas rápidos para evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia e no Cerrado[+], do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e multiplica pela quantidade média de árvores estimada pela ciência para cada hectare de floresta na Bacia Amazônica, que é de 565 árvores — número obtido de um amplo estudo realizado por mais de uma centena de cientistas e publicado na revista Science, em 2013.
Como os alertas do Deter são divulgados semana a semana, o contador inclui uma estimativa em tempo real de quantas árvores estão caindo até o presente momento.
Ela funciona da seguinte forma: todas as sextas-feiras, o Inpe atualiza seus dados referentes à semana anterior. Por exemplo, no próximo dia 16, a taxa divulgada será referente ao período que vai do dia 3 a 9 de setembro — e não entre os dias 10 e 16.
Com base nesse novo dado divulgado pelo Inpe — o mais recente disponível —, o contador também faz uma atualização de sua taxa semanalmente, às 12h de sexta-feira, incluindo a conversão de km² para o número de árvores. Como o número é referente à semana anterior, o índice é replicado para a semana do momento, seguindo assim a tendência e fazendo uma estimativa em tempo real.
Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, o que o contador faz é transformar os dados de desmatamento do Inpe em números de árvores tombadas. “Tudo isso para representar de forma mais concreta o significado da derrubada da floresta. Em vez de falarmos em áreas, abordamos em números de árvores, o que dá um pouco mais de noção do tamanho do desastre”.
Assim, o Amazonas, estado mais desmatado no primeiro semestre de 2022, lidera o ranking de árvores tombadas entre janeiro e setembro.
Árvores derrubadas entre janeiro e setembro de 2022
Amazonas: 114,7 milhões de árvores
Pará: 128,6 milhões de árvores
Mato Grosso: 77,5 milhões de árvores
Rondônia: 50,4 milhões
Acre: 17,3 milhões de árvores
Roraima: 7,3 milhões de árvores
Maranhão: 3,6 milhões de árvores
Tocantins: 373,8 mil árvores
Amapá: 98 mil árvores
Fonte: Monitor da Floresta do PlenaMata
Efeitos do desmatamento
A floresta amazônica contribui para a manutenção do clima na Terra ao estocar grande quantidade de dióxido de carbono (CO2), um dos gases responsáveis pelo efeito estufa e aquecimento global. No entanto, um estudo liderado pela pesquisadora do Inpe Luciana Gatti e publicado em julho de 2021 na revista científica Nature aponta que o lado leste da Amazônia tem perdido a função de reter o gás carbônico.
A pesquisa, uma das mais completas sobre o assunto, apurou a concentração de CO2 em diferentes regiões da Amazônia entre 2010 e 2018 e mostrou que o nordeste e sudeste da floresta, os mais desmatados e queimados, já emitem mais dióxido de carbono do que absorvem, ou seja, tornaram-se fontes de emissão de CO2.
Em entrevista ao InfoAmazonia e PlenaMata, a cientista explica em detalhes o fenômeno “catastrófico” e alerta que o processo tem reduzido ainda a formação de chuvas na região e aumentado a temperatura a níveis preocupantes, com impactos na saúde humana, na segurança das populações e na economia brasileira, uma vez que o agronegócio é diretamente afetado pelas mudanças no clima.
Reportagem do InfoAmazonia para o projeto PlenaMata.