Preocupados com a crise hídrica no Brasil, profissionais de diversas disciplinas se reuniram duas vezes em setembro para discutir de que forma a tecnologia pode auxiliar na difusão de informação.
No dia 5 de setembro, a equipe do InfoAmazonia.org promoveu a “Hackatona: Dados e Sensores para medir a qualidade d’água”. O evento, ocorrido no Garoa Hacker Clube (São Paulo) reuniu 30 participantes em torno da discussão sobre monitoramento da qualidade dos recursos hídricos e jornalismo de dados na Amazônia. Ambos assuntos são temas do projeto Rede InfoAmazonia, iniciativa piloto que visa desenvolver sensores de baixo custo para monitorar a qualidade da água e comunicar informações com transparência.
Participaram acadêmicos, consultores na área de recursos hídricos, programadores, jornalistas e ativistas. Os participantes da hackatona se dividiram em duas trilhas de pesquisa: desenvolvimento de hardware livres e dados públicos.
A trilha de hardware foi liderada por Ricardo Guima, pesquisador e desenvolvedor de hardware livre. A criação de sensores de baixo custo é um desafio frente aos equipamentos patenteados que fazem monitoramento do meio ambiente. O desenvolvimento dos sensores garante a transparência dos dados desde a captura até a publicação, defendeu Guima durante os debates com os participantes
A trilha de dados públicos foi coordenada pelo jornalista Gustavo Faleiros, do InfoAmazonia. A busca do grupo de trabalho foi relacionar as bases de dados públicas sobre saúde e saneamento (IBGE e DataSUS, que hoje compõem o índice da Fiocruz Água Brasil) para disponibilizar online análises de dados por meio de mapas e infográficos. O trabalho deu origem ao aplicativo Visaguas – http://visaguas.infoamazonia.org/
Segundo encontro
Os ativistas Rodrigo de Luna e Maru Whatley apresentaram a plataforma do Cidade Democrática como ambiente de participação cidadã, dando ênfase a políticas públicas com o tema da água na cidade de SP e como a visualização de dados pode ser um fator chave na articulação e fomento de novas propostas.
Os desenvolvedores do InfoAmazonia, Miguel Peixe e Vitor George, apresentaram o portal visaguas.infoamazonia.org e o mananciais.tk, ambos projetos que fazem o acompanhamento de dados da qualidade e disponibilidade da água.
Desenvolvimento dos sensores
No encontro foram discutidas metodologias de análise d’água que fazem o tipo de sensoriamento necessário para monitorar com uma taxa de amostragem maior do que as utilizadas atualmente pelos órgãos oficiais na Amazônia Legal.
A discussão foi orientada por especialistas em monitoramento de qualidade da água e por meio da literatura de ciência cidadã disponíveis na internet, onde projetos semelhantes foram desenvolvidos e passaram por obstáculos comuns para quem trabalha com sensores.
O fato de ser um sistema de sensoriamento autônomo, que ficará exposto às intempéries da natureza, dificulta seguir o procedimento rigoroso para coleta de dados. Por exemplo, o fato de deixar o eletrodo químico para leitura de pH na água por aproximadamente um mês, sem manutenção ou limpeza, aumenta consideravelmente a imprecisão dos dados adquiridos.
Como alternativa, o grupo entendeu que, na verdade, não seria necessário desenvolver um sistema mirabolante de autolimpeza dos sensores. Um sistema capaz de bombear um volume de água em uma câmara interna da caixa do sensor foi sugerida, e decidimos investigar tecnologias que solucionem a leitura de dados a partir de técnicas in vitro. O projeto ganhou cara de um microlaboratório de espectrometria (técnica que utiliza a luz para medir concentrações em soluções por meio da interação da luz com a matéria).
Em São Paulo, onde a maioria dos colaboradores visava um sistema para análise da própria água em casa, a solução é viável, mas o
desafio de colocar um microlaboratório de espectrometria à deriva em um rio, lago ou reservatório, é diferente. O sistema precisaria de uma colaboração mínima da comunidade local.
O InfoAmazonia possui um projeto de hardware a ser lançado no final deste ano, utilizando sensores menos complexos e que podem atender ao mínimo para inferir dúvida sobre a qualidade da água examinada, desta forma será possível articular com as comunidades locais um grupo para analisar a água utilizando sensores mais precisos, como os de espectrometria construídos com hardware livre.