Análise da InfoAmazonia sobre os dados anuais de desmatamento da Amazônia Legal, medidos pelo Prodes, do Inpe, traz, além da taxa geral de desmatamento, uma avaliação da região da AMACRO e desmate por tipo de território, como terras indígenas e unidades de conservação, em todos os estados amazônicos.

No início de novembro, o governo federal divulgou a taxa anual de desmatamento da Amazônia Legal, medida pelo Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes: Programa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que monitora o desmatamento por corte raso na Amazônia Legal e produz desde 1988 as taxas anuais de desmatamento na região.), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Pelo segundo ano consecutivo, a região registrou uma queda no índice: 6.288 km² foram devastados entre agosto de 2023 e julho de 2024, contra 9.001 km²  no período de agosto de 2022 a julho de 2023 — uma redução de 30%.

Esses dados são referentes às áreas consideradas prioritárias pelo Inpe (leia mais informações na metodologia), que concentram 96% das áreas desmatadas no período anterior. No primeiro semestre de 2025, o instituto deverá divulgar a taxa do Prodes consolidada para toda a região. 

A maior área contínua desmatada em 2024 fica no município de Nova Maringá, em Mato Grosso. Imagens de satélite de maio de 2023 e outubro de 2024 mostram o avanço do desmatamento não só nessa área, mas também na vizinhança.

Todos os estados da Amazônia Legal apresentaram redução do desmatamento, com exceção de Roraima. Mato Grosso e Pará registraram as maiores quedas em números absolutos: de 1.940 km² em 2023 para 1.271 km² em 2024 (34,4% a menos), e de 2.885 km² em 2023 para 2.217 km² em 2024 (23%), respectivamente. As maiores reduções percentuais ficaram com Tocantins, com 89%, e Rondônia, com 58%. 

Desmatamento na AMACRO

A AMACRO é uma região de 45 milhões de hectares na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia, criada a partir de um projeto idealizado em 2018 e lançado durante o governo de Jair Bolsonaro para incentivar o agronegócio.

Neste ano, ela registrou uma redução de 38% no desmatamento, passando de 1.847 km² desmatados em 2023 para 1.144 km² em 2024. Apesar da queda na taxa, grande parte da devastação da floresta ainda ocorre próxima às rodovias: 26% (294 km²) do total desmatado estão localizados até 10 km de distância das estradas.

Perfil das áreas públicas desmatadas

A InfoAmazonia analisou o desmatamento detectado dentro de florestas públicas brasileiras, em informações disponibilizadas pelo Serviço Florestal Brasileiro no Cadastro Nacional de Florestas Públicas (CNFP).

As Florestas Públicas Não Destinadas (FPND) concentram a maior parte do desmatamento detectado: 2.228 km² (38%). Em seguida, vêm os Assentamentos, que somam 11% (626 km²). 

Já as áreas protegidas apresentam percentuais significativamente menores. As Unidades de Conservação correspondem a 5%, (308,16 km²), e as Terras Indígenas somam 3% (171,13 km²) do total desmatado na Amazônia Legal. As áreas de uso militar e as geridas por autarquias representam menos de 1% do total, com apenas 3,97 km² desmatados. 

As FPND recebem esse nome justamente por não terem uma destinação oficial definida pelo Estado — ainda não foram transformadas em unidades de conservação, demarcadas como terras indígenas ou quilombolas, nem foram transferidas para proprietários privados, apesar de estarem sob a responsabilidade e posse do poder público. 

Amazonas, Roraima e Rondônia são os três estados com a maior porcentagem de desmatamento em florestas públicas não destinadas, com 62,4% (599,4km²), 92,7% (372,44 km²) e 58,2% (192,60 km²), respectivamente.

COMO ANALISAMOS O DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA?

. Nesta publicação, analisamos os dados de 2023 e 2024 do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que realiza o monitoramento por satélites do desmatamento na Amazônia Legal e produz, desde 1988, as taxas anuais de desmatamento na região.

. Os períodos analisados seguem o chamado "ano Prodes", ou ano-calendário do desmatamento, que vai de 1º de agosto do ano anterior a 31 de julho do ano corrente. Assim, os dados de 2024 referem-se ao desmatamento ocorrido entre 1/08/2023 e 31/07/2024, enquanto os dados de 2023 abrangem o período de 1/08/2022 a 31/07/2023.

. As estimativas divulgadas nesta etapa baseiam-se na análise de cenas prioritárias, selecionadas segundo três critérios: cobrir a região onde foram registrados pelo menos 90% do desmatamento no período anterior do Prodes (agosto/2022 a julho/2023); cobrir regiões onde foram registrados pelo menos 90% dos avisos de desmatamento do DETER 2023/2024 (agosto/2023 a julho/2024); e cobrir os 70 municípios prioritários para fiscalização referidos na portaria GM/MMA nº 834, de 09 de novembro de 2023.

. As taxas anuais de desmatamento são estimadas a partir dos incrementos identificados nas imagens de satélite que cobrem a Amazônia Legal. A primeira divulgação, baseada nas cenas prioritárias, ocorre até dezembro, com cerca de 50% das imagens processadas. Os dados consolidados são apresentados no primeiro semestre do ano seguinte, após o processamento completo.

. Nesta análise, utilizamos a taxa geral estimada pelo Inpe para a região toda. As análises parciais, por estado, região ou categoria fundiária, foram realizadas a partir dos dados de incremento das cenas prioritárias.

. Cruzamos os incrementos de desmatamento com as informações do Cadastro Nacional de Florestas Públicas, disponibilizadas pelo Serviço Florestal Brasileiro. Este cadastro inclui terras indígenas, unidades de conservação, assentamentos, florestas públicas não destinadas e outras categorias, como terras de uso militar e geridas por autarquias. 

. As informações de rodovias, utilizadas na análise de desmatamento da AMACRO, são do Ministério dos Transportes.

. Para reforçar nosso compromisso com a transparência e garantir a replicabilidade das análises, a InfoAmazonia disponibiliza os dados nesta pasta.


Esta reportagem foi produzida pela Unidade de Geojornalismo InfoAmazonia, com o apoio do Instituto Serrapilheira.

Análise de dados: Renata Hirota
Visualização de dados: Carolina Passos
Edição: Carolina Dantas
Coordenação de dados: Thays Lavor
Direção editorial: Juliana Mori

Sobre o autor
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Carolina Passos

Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela USP, faz parte da Unidade de Geojornalismo da InfoAmazonia. Trabalha com análise de dados geoespaciais, experimentações cartográficas e visuais em projetos...

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Renata Hirota

Jornalista e estatística, faz parte da Unidade de Geojornalismo da InfoAmazonia. Trabalha com jornalismo de dados desde 2017, analisando dados ambientais, sobre política e tecnologia.


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