
A transição energética é o processo de mudar a forma como produzimos e consumimos energia, buscando causar menos impacto no clima do planeta e, idealmente, nenhum ou mínimo impacto ambiental.
Isso significa substituir gradualmente os combustíveis fósseis — como petróleo, carvão e gás —, que são os principais responsáveis pelas emissões globais de gases de efeito estufa, por fontes renováveis e mais limpas, como solar, eólica e biomassa.
O poder das palavras
Nos documentos assinados pelos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) em cada Conferência das Partes (COP), as palavras têm muita importância.
Cada mudança de termo significa muito.
Em 2021, na COP26, que aconteceu em Glasgow, na Escócia, o texto final sobre o uso de combustíveis fósseis sofreu vários ajustes em diferentes trechos.
Primeiro, falava em acelerar “a eliminação do carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis”. Depois, passou a prever “a eliminação progressiva do uso” do carvão e dos “subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis”. Por último, na versão final, a Índia pediu de última hora para trocar o termo “eliminação” por “redução” do uso do carvão.
Somente em 2023, na COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, os países assinaram um texto inédito trazendo o compromisso para uma “transição para o fim do uso do combustível fóssil”. Histórico.
Neste ano, o cenário está difícil. Os Estados Unidos declararam, pela segunda vez, a saída do Acordo de Paris, justamente no aniversário de 10 anos da assinatura do documento.
O contexto internacional segue marcado por disputas geopolíticas e guerras em evidência, como o conflito entre Israel e Palestina. Tudo isso ocorre no mesmo ano em que a conferência assume o papel de ser a “COP de tirar o compromisso do papel”.
PÍLULAS CLIMÁTICAS
Esta é uma Pílula Climática, o glossário da InfoAmazonia que explica termos e conceitos sobre a COP30 e a crise do clima. Confira outras pílulas aqui.
Do lado do Brasil, país anfitrião, o governo Lula vive sua principal contradição ambiental: ao mesmo tempo em que defende a descarbonização e busca projetar o país como líder climático global, adota um posicionamento explícito a favor da abertura de novas frentes de exploração de petróleo, especialmente na bacia da Foz do Amazonas, na margem equatorial brasileira.
Essa defesa tem se refletido em declarações do presidente Lula (PT) e em avanços concretos da Petrobras no processo de licenciamento. O presidente já afirmou, com todas as letras, que “nós vamos explorar petróleo” e que o governo está “cumprindo etapas” até o momento. Ele também já havia dito que precisava autorizar as perfurações na região sob a justificativa de angariar recursos do petróleo para financiar a transição energética.
Em setembro, o Ibama aprovou, com condicionantes, as simulações da Petrobras na etapa final do processo para obter a licença para perfurar o bloco 59, na costa do Amapá.
Em junho de 2025, outros 19 blocos na mesma bacia da Foz do Amazonas foram concedidos para as petroleiras estadunidenses ExxonMobil e Chevron, em parcerias com a Petrobras e a estatal chinesa CNPC.Em abril deste ano, o especial Até a Última Gota, da InfoAmazonia e parceiros internacionais, já tinha revelado como Petroleiras criam ‘cortina de fumaça’ para viabilizar exploração na costa amazônica do Brasil. A insistência da Petrobras, com apoio do governo, foi apontada como estratégica para atender interesses de outras petroleiras na região, que nunca conseguiram avançar nos trâmites de licenciamento ambiental. Interlocutores do setor confirmam que nenhuma empresa conseguiria pressionar tanto pelo licenciamento de um bloco como a estatal – justamente por estar ligada ao governo.
Por que isso importa para a COP30?
O desafio da COP30 é garantir que os planos de transição energética avancem e que, ao final da conferência, os países cheguem a um acordo mais ambicioso.
Em reuniões preparatórias, surgiram divergências sobre a manutenção da expressão “transição para o fim do uso dos combustíveis fósseis” e sobre medidas unilaterais adotadas por alguns países, que podem afetar os esforços coletivos de transição.
Para nações altamente dependentes desses combustíveis — como vários países africanos, a Rússia, o Grupo Árabe e o grupo de países em desenvolvimento — a prioridade é garantir acesso universal à energia limpa, confiável, acessível e sustentável. Já Canadá, Austrália e Reino Unido defendem que o termo seja mantido, para acelerar a redução das emissões globais, propondo que a discussão avance em Belém.
Diante do impasse, três alternativas de redação foram colocadas: a primeira mantém a menção original; a segunda adota a lógica da descarbonização com ressalvas sobre segurança energética; e a terceira elimina completamente o trecho sobre a transição para o fim dos fósseis.
Mais um dilema a ser desatado na COP30.
Este conteúdo foi produzido com apoio da Oxfam Brasil.