O estado tem 139 municípios, mas apenas nove deles concentram os 25 veículos de mídia mapeados pela InfoAmazonia.
O mais jovem dos estados brasileiros, Tocantins foi criado há 36 anos no mesmo ano da promulgação da Constituição Federal de 1988 — antes disso, integrava o território de Goiás. O estado tem 91% de sua área dentro do bioma Cerrado e 9% na Amazônia. Além disso, também faz parte da região chamada de Matopiba, que reúne também Maranhão, Piauí e Bahia, onde o agronegócio avançou 25% em 2023, com maior destaque para a monocultura da soja, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mesmo diante desse cenário relevante para o meio ambiente, apenas 6,5% dos municípios do Tocantins possuem veículos jornalísticos que realizam cobertura socioambiental. Ao todo, o estado tem 139 municípios, mas apenas 9 contam com mídia especializada no tema, de acordo com o Mapa Vivo das Mídias Amazônicas, levantamento realizado pela InfoAmazonia.
Ao todo, são 25 veículos de mídia que pautam questões ambientais, sendo que metade deles está localizada em Palmas. Entre as editorias temáticas, apenas dois veículos possuem espaço dedicado exclusivamente ao Meio Ambiente. Um deles conta com uma editoria chamada “Amazônia”, e outro, com uma intitulada “Indígenas e Vida Quilombola”.
Tocantins em Foco firma parcerias para fazer debate socioambiental
O portal de notícias Tocantins em Foco foi criado em 2019 pela jornalista tocantinense Núbia Oliveira com o objetivo de ter um espaço para valorizar a cultura regional, com pautas de interesse das comunidades tradicionais. Desde sua criação, o site cresceu organicamente, hoje conta com três pessoas na equipe para atender a demanda por uma produção maior de conteúdo.
Mudanças climáticas, queimadas e desmatamento estão entre os temas que são publicados no veículo, que além de divulgar ações institucionais tem apostado em parcerias com ONGs, associações e outras instituições governamentais que trabalham a pauta para garantir publicações dentro destas temáticas e financiar a produção interna.
Núbia conta que uma das matérias mais marcantes do portal foi sobre a plantação de soja no Jalapão, feita em parceria com o Laboratório de Jornalismo Énois. Segundo a jornalista, a reportagem teve grande repercussão no estado e gerou debates intensos.
“Enfrentamos retaliações por tratar de temas sensíveis, envolvendo grandes proprietários e investidores do agronegócio. Isso gera desconforto e nos coloca diante de dificuldades para dar continuidade a esse tipo de cobertura”, relata Núbia.
Gazeta do Cerrado: jornalismo independente e compromisso com os povos tradicionais tocantinense
A Gazeta do Cerrado foi criada em 2016 pela jornalista Maria José e pelo publicitário Marco Aurélio Jacob. Ambos fizeram empréstimos pessoais para dar início ao projeto de construir um espaço independente para produzir pautas sem a interferência governamental.
O veículo introduziu videorreportagens, transmissões ao vivo e coberturas em campo, algo que consideravam inovador no jornalismo digital da região na época. Entre os temas socioambientais, destacam-se denúncias sobre desmatamento inlegal, uso de agrotóxicos em áreas de mananciais e problemas relacionados à contaminação da água. Uma série de reportagens abordou os alagamentos no Bico do Papagaio, com uma cobertura imersiva que evidenciou o impacto das cheias nas comunidades locais.
A cobertura da Gazeta também prioriza os povos indígenas e quilombolas. Um dos projetos resultou no livro Guerreiras Populares Quilombolas, que retrata a trajetória de 40 mulheres em 11 comunidades quilombolas tocantinenses. Além disso, o documentário Lendas do Cerrado, produzido por Jacob, deu visibilidade à cosmologia de povos indígenas da região.
“Nosso papel é potencializar as vozes das comunidades e apoiar suas demandas, seja por meio de denúncias ou consultorias para projetos. Queremos continuar sendo a voz das comunidades, das causas sociais e ambientais, e contribuir para um Tocantins mais justo e informado”.
Marco Aurélio Jacob
T1 Notícias foi pioneiro e se consolidou como referência no Tocantins
No início de 2008, foi fundado por Roberta Tum e era o chamado “Blog da Tum, focado em colunas de análises políticas. Em 2009, se transformou em 2009 um portal de notícias, ampliando sua cobertura. Apenas em 2012, o veículo adotou oficialmente o nome T1 Notícias com a inclusão de diversas editorias, incluindo a de meio ambiente e utilizando a internet como ferramenta para alcançar todas as regiões do estado.
A linha editorial do T1 Notícias destaca as áreas de política e socioambiental. O veículo também tem realizado uma cobertura dos impactos da criação da Usina Hidrelétrica do Lajeado, que atingiu sete cidades no entorno de Palmas. O portal documentou as consequências sociais e ambientais da obra, como a inundação de comunidades inteiras, a realocação de moradores, e até o alagamento de um cemitério.
O veículo também acompanha os impactos ambientais em torno da qualidade das fontes de água disponíveis na região: “A questão ambiental no estado passa pela questão das águas, a política das águas, a formação de várias PCHs, pequenas hidrelétricas que geram energia e as consequências disso ficou no nosso eixo de cobertura. A nossa atenção é grande para as comunidades indígenas e quilombolas que vivem à margem dos rios”, afirma Roberta Tum, diretora do portal.
Com a chegada da pandemia de Covid-19, o veículo foi impactado financeiramente. Para garantir a sustentabilidade do projeto, os gestores precisaram reduzir a equipe e as editorias. Hoje, apesar de não existir mais uma editoria específica sobre meio ambiente, as pautas continuam sendo produzidas e alocadas dentro da editoria de cidades.
Apenas um adendo: o cemitério do Canela é que foi encoberto pelas águas do Tocantins no processo de formação do lago da UHE do Lageado. Gratos pela menção