Mapeamento da Rede Cidadã InfoAmazonia tem emissoras que tratam de temas socioambientais em 38 municípios dos nove estados da Amazônia Legal.

Alô, ouvinte! O Mapa Vivo de Mídias da Amazônia está sintonizando novas rádios. Quarenta emissoras dos nove estados da Amazônia Legal foram incluídas entres os meios de comunicação da região que mantêm cobertura socioambiental, totalizando 49 rádios com essa cobertura na região. As estações mapeadas vêm de 38 municípios da região.

Com a atualização, as mídias de áudio passam a representar 16% do total de 307 meios de jornalismo que realizam cobertura socioambiental na Amazônia. Você pode conferir todos os veículos do mapa aqui. Trata-se de um formato de jornalismo ainda muito relevante em uma região com dimensões e distâncias como as da Amazônia.

“Quando a gente vai estudar o rádio no Brasil, a Amazônia Legal tem uma configuração diferente. As distâncias aqui são enormes. Então, o rádio é fundamental. É o meio de comunicação de mais alcance, de mais abrangência. E mais rápido”, afirma a professora de Jornalismo Izani Mustafá, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Quando a gente vai estudar o rádio no Brasil, a Amazônia Legal tem uma configuração diferente. As distâncias aqui são enormes. Então, o rádio é fundamental. É o meio de comunicação de mais alcance, de mais abrangência. E mais rápido.

Izani Mustafá, professora da UFMA

De Boa Vista, a Monte Roraima FM é uma das rádios incluídas no mapeamento. A emissora, no ar há 23 anos, foi criada pela Diocese de Roraima e, além de levar a mensagem religiosa, passa o recado dos territórios em programas como “A voz dos povos indígenas”. Mais de 15% da população de Roraima é formada por indígenas, o maior percentual entre os estados brasileiros. 

“A Rádio Monte Roraima se faz a voz dos povos originários, dos povos migratórios e também das questões socioambientais que afligem o nosso estado”, conta o padre Luiz Botteon, diretor da emissora. A presença do garimpo ilegal em terras indígenas é um dos crimes que tem gerado a morte de pessoas, rios e florestas em Roraima.

A quase 2 mil quilômetros de Boa Vista, a CBN Tocantins ocupa as manhãs de Palmas com informação local. A estação é afiliada da rede nacional CBN e é transmitida na capital do Tocantins desde 2011. Às quintas-feiras, o noticiário conta com a coluna “Sustentabilidade no ar”, que discute assuntos ligados à pauta ambiental, como as mudanças climáticas. Mais de 57% das emissoras mapeadas disseram manter formato fixo na programação sobre questões socioambientais.

“Também temos o projeto “Diálogos da sustentabilidade”, que é como um estúdio itinerante da CBN Tocantins”, lembra France Santiago, coordenadora de jornalismo e âncora da rádio. “Abordar temas ambientais é uma das propostas enquanto emissora que contribui, por meio do seu jornalismo, com a formação de uma consciência crítica”.

Mudando as estações

As emissoras do mapa são majoritariamente rádios FM (45%) e comunitárias, as RadCom (42,5%). A radiodifusão na Amazônia, por muitos anos, foi marcada pelo importante papel das rádios  AM, em onda média e onda tropical, que têm maior alcance que as FM. 

O cenário vem mudando com a migração das estações AM que operavam em onda média para a faixa de FM. A extinção do serviço de radiodifusão sonora local em ondas médias e a possibilidade de migração para FM foi definido por decreto presidencial de 2023. A mudança veio porque, apesar do maior alcance de distância das rádios AM, elas tinham muito mais interferência em suas transmissões. 

Outra peça nesse mapa são as rádios comunitárias, que têm alcance limitado ao raio de um quilômetro. “Elas têm o papel de levar a informação local, de dar uma sustentação para a comunidade, mesmo que o alcance seja pequeno. Mas muitas acabam sendo usadas por políticos ou por igrejas”,complementa  Izani Mustafá.

“As rádios comunitárias precisam de investimentos. O que seria uma política pública para as rádios comunitárias? Que elas tivessem uma verba federal para se manter. Ou uma ajuda de custo para atualizar seus equipamentos”, defende a professora de Jornalismo da UFMA.

Comunitárias e web rádios

Em Humaitá, no sul do Amazonas, a 104.9 FM, emissora da Associação Comunitária de Desenvolvimento Artístico e Cultural de Humaitá (Codearth), enfrenta as dificuldades comuns às rádios desse tipo. Recentemente, uma emissora que era AM e migrou para FM passou a concorrer com a 104.9, com um alcance maior, já que a estação da Codearth não abrange toda a cidade.

A desigualdade também é financeira. “A rádio sobrevive de apoio cultural, que tem limitações, não é igual a uma rádio comercial. A gente não recebe nenhuma ajuda, é só o comércio local que contribui. É dessa forma que a gente mantém a rádio”, relata a coordenadora da estação, Mônica Vanazzi.

A 104.9 tem espaço para jornalismo na programação. As queimadas que afetam a região aparecem na pauta. “Tem dias em que a fumaça está terrível. Hoje, graças a Deus, choveu. Então, amenizou”, disse a coordenadora no final de setembro.

Em Macapá, no Amapá, crianças e adolescentes da Escola José do Patrocínio aprendem sobre comunicação e meio ambiente participando da Rádio Escola JP Web. A estação toca em caixas acústicas instaladas dentro e na área externa do colégio, além de estar disponível na online. O projeto tem 20 anos e é coordenado pelos professores Antônio Júnior, Marlene Rosário e Marcondes Oliveira.

Uma visita à Área de Proteção Ambiental da Fazendinha com os estudantes fez nascer o programa “Falando do meio ambiente, a voz da natureza”. “Já falamos sobre o assoreamento que está acontecendo aqui onde o rio Amazonas desemboca, no Bailique. Começaram a desmatar e aquela parte que protege a entrada do Amazonas no mar está sumindo”, conta Marcondes Oliveira. Depois, os programas são transformados em reportagens no blog da Rádio Escola.

Metodologia do mapa

O mapeamento partiu de uma lista, com dados do sistema de estações por localidade da Anatel, de quase 800 emissoras. A lista indicava os nomes das entidades que tinham concessão de rádios nos estados. Foi feita uma busca para identificar nomes e contatos das estações. A Rede Cidadã InfoAmazonia tentou contatar mais de 400 emissoras por e-mail ou aplicativos de mensagem.

Paralelamente, foram consultadas fontes parceiras em todos os estados da Amazônia Legal, com pedido de indicação de rádios para o mapeamento. Entre as fontes, estão organizações socioambientais, sindicatos de jornalistas, associações de rádios comunitárias, professores, pesquisadores, comunicadores e jornalistas.

Na primeira versão do Mapa Vivo de Mídias da Amazônia, a busca ocorreu pelo cruzamento de palavras-chave. Àquela altura, entraram principalmente veículos que mantinham conteúdo de texto disponível online. Por isso, desta vez, com foco nas rádios, foi adotado como ajuste metodológico o envio de formulário online.

Sete emissoras que responderam ao formulário não entraram no mapa. O critério de corte foi a frequência da cobertura socioambiental. Para identificar essa frequência, houve perguntas sobre o aparecimento de temas como desmatamento, povos tradicionais e mudanças climáticas. Das três perguntas do formulário a respeito da frequência, em pelo menos duas os assuntos questionados deveriam ser tratados toda semana ou todo mês.

Também foi verificado se os sites da primeira versão do mapa, publicada em 2023, continuavam no ar. Os sites foram visitados em três datas diferentes, e aqueles que estavam inacessíveis na última verificação foram removidos do mapa. No total, 20 mídias foram removidas.

Este conteúdo faz parte do projeto Rede Cidadã InfoAmazonia, iniciativa para criar e distribuir conteúdos socioambientais produzidos na Amazônia.

Sobre o autor
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Guilherme Guerreiro Neto

Guilherme Guerreiro Neto é jornalista baseado em Belém, Pará. Colaborador da InfoAmazonia, foi repórter dos especiais Engolindo Fumaça e Amazônia Sufocada. Atuou em duas edições do projeto de fact-checking...

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