Estado representa 99% da degradação detectada no bioma nos primeiros 4 meses do ano, com mais de 282 mil hectares. Roraima concentrou a maioria das áreas degradadas pelo fogo nos últimos meses e também tem enfrentado uma seca histórica.
Entre janeiro e abril deste ano, mais de 282 mil hectares de floresta foram detectados como degradados em Roraima, representando 99% dos registros no primeiro quadrimestre na Amazônia — um total de 284.600 hectares, segundo monitoramento por imagens de satélite do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Esse é o maior índice de degradação em 15 anos para o bioma, relacionado às queimadas e ao corte seletivo de madeira.
Diferentemente do desmatamento, que segue em queda na Amazônia (leia no intertítulo ‘Desmatamento na Amazônia registra 13º mês consecutivo de queda’) e é registrado quando toda a floresta é derrubada, a degradação mantém áreas de vegetação em diferentes estágios, mas resulta em perda de biodiversidade e impactos negativos nas funções ambientais. Seca, fogo, efeito de borda: Alterações na floresta causadas por áreas limítrofes desmatadas. e extração de madeira: Redução da área florestada, principalmente para fins comerciais. são os principais fatores que contribuem para a degradação. Um estudo publicado na revista Science concluiu que 38% da floresta amazônica já está degradada devido à ação humana.
“As áreas degradadas têm grandes chances de se tornarem áreas desmatadas, por isso a importância de se monitorar tanto as áreas com pressão em relação ao desmatamento quanto em relação à degradação florestal”, afirma Larissa Amorim, pesquisadora do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon.
“Por isso, é muito importante que enquanto os governos federal e dos estados sigam intensificando o combate à derrubada da floresta, sejam realizadas ações específicas de enfrentamento às queimadas, focando principalmente em Roraima”, completou.
Apenas em abril, o Imazon detectou 69,3 mil hectares de degradação em Roraima, equivalente ao tamanho de Salvador. Em março, esse dano foi ainda maior, atingindo 212 mil hectares, área maior do que a cidade de São Paulo. Apenas nesses últimos dois meses, a degradação foi tão intensa que representou quase 5 mil campos de futebol por dia.
Além do estado ter concentrado a maioria das áreas degradadas pelo fogo nos últimos meses, também vem sofrendo com uma seca histórica. Mais da metade dos focos (51%) de queimadas deste ano ocorreu em áreas de florestas primárias, segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que, por serem densas e úmidas, deveriam ser menos suscetíveis ao fogo.
“O risco de queimadas aumenta com o estresse hídrico, que tem sido um grande problema em Roraima. Segundo os nossos monitoramentos da superfície de água no bioma Amazônia, que apresenta dados desde 1985, o estado foi o mais afetado pela redução hídrica, onde as várzeas estão ficando mais secas a cada verão”, explica Carlos Souza Jr, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon e responsável técnico pela iniciativa MapBiomas Água.
Essa seca na região teve influência do El Niño, que provoca um período de estiagem mais severo acima da linha do equador. E, diferente dos demais estados da Amazônia brasileira, onde o verão amazônico terminou em outubro, em Roraima ele vai de dezembro a abril.
Desmatamento tem 13º mês consecutivo de queda
O desmatamento na Amazônia, principal fonte de emissão de gases de efeito estufa no Brasil, apresentou em abril seu décimo terceiro mês consecutivo de redução, de acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Imazon. Essa diminuição é crucial no combate às mudanças climáticas, que intensificam eventos extremos como secas e chuvas torrenciais, levando a emergências climáticas graves, como a enfrentada atualmente no Rio Grande do Sul.
Apesar da redução em relação ao primeiro quadrimestre do ano passado, Mato Grosso, Amazonas e Roraima foram os estados que mais desmataram a floresta no período, responsáveis por quase 80% do desmate entre janeiro e abril, segundo o Imazon.
Em Mato Grosso, a devastação avançou principalmente nos municípios da metade norte, como Colniza, Nova Maringá e Juara, que figuraram entre os 10 mais desmatados da Amazônia em fevereiro, março e abril. Unidades de conservação também estão entre as mais atingidas, como a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt (janeiro, março e abril), Parque Estadual Cristalino (fevereiro) e Estação Ecológica do Rio Roosevelt (abril).
No Amazonas, o desmatamento tem se concentrado na região sul, na divisa com Acre e Rondônia, conhecida como Amacro, especialmente nos municípios de Novo Aripuanã e Apuí, que também figuraram entre os 10 mais desmatados da Amazônia nos últimos meses. O estado tem se destacado negativamente em assentamentos, como Aripuanã-Guariba, Rio Juma e Acari, presentes nas listas dos 10 mais destruídos de fevereiro a abril.
Em Roraima, o desmatamento tem avançado em municípios como Rorainópolis, Iracema, Caracaraí e Cantá, todos presentes em pelo menos uma das listas mensais dos mais devastados no quadrimestre. Entre as terras indígenas, a Raposa Serra do Sol foi a mais afetada, com 140 mil hectares derrubados entre janeiro e abril.