Sob Bolsonaro, a maior floresta tropical do planeta viu devastação crescer quase 60% em relação ao governo anterior. Dados de 2022 consolidam a posição do Amazonas como o segundo estado que mais desmata, atrás apenas do Pará.

Após quatro anos consecutivos de aumento, o desmatamento na Amazônia Legal brasileira registrou, em 2022, uma redução de 11,27% em relação a 2021, segundo o Prodes: Projeto para o mapeamento oficial das perdas anuais de vegetação nativa na Amazônia Legal., o sistema de monitoramento anual de perda de floresta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O dado divulgado nesta quarta-feira (30) aponta que a Amazônia perdeu 11.568 km² de florestas entre agosto de 2021 e julho de 2022, período levado em conta para o cálculo da taxa. No ano passado, a área de desmate detectada havia sido de 13.038 km².

Apesar da redução, o índice de 2022 é o segundo pior dos últimos 14 anos, superando as altas taxas registradas na primeira metade do governo de Jair Bolsonaro (PL) – 10.129 km², em 2019, e 10.851 km², em 2020. Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, a queda não é motivo para comemoração: “Ainda é um número altíssimo”.

Mapa do Monitor do PlenaMata mostra a taxa anual de desmatamento de 1998 a 2022 (de amarelo a vermelho). Dê zoom para ver detalhes das áreas desmatadas e passe o mouse sobre as áreas de 2022 para mais informações.

O ambientalista avalia que a diminuição não apaga o histórico de Bolsonaro para a Amazônia. “Com certeza a redução não foi por causa de alguma ação governamental determinante. A gente pode ter tido mais chuvas no período, o que aconteceu no Pará e Mato Grosso, e também uma flutuação natural do crime ambiental de investir no desmatamento, porque desmatar custa caro”.

Com certeza a redução não foi por causa de alguma ação governamental determinante. A gente pode ter tido mais chuvas no período, o que aconteceu no Pará e Mato Grosso, e também uma flutuação natural do crime ambiental.

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima

Perda de floresta seguiu crescendo

Como o período oficial do Prodes é de agosto de 2021 a julho de 2022, o índice divulgado nesta quarta-feira não leva em consideração os recordes recentes detectados por outro sistema de monitoramento do Inpe, o Deter: Ferramenta do governo federal que gera alertas rápidos para evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia e no Cerrado., que faz uma contabilização semanal das áreas dos alertas de desmatamento da Amazônia Legal. Portanto, a perda de floresta registrada nos últimos cinco meses deste ano devem ser incluídas apenas junto ao balanço anual que será divulgado pelo Inpe no final de 2023.

Astrini lembra que os dados do Deter de agosto a novembro deste ano já dispararam cerca de 50% em relação ao mesmo período do ano passado, provando que a floresta segue sem governança. “Se tivesse em curso alguma política de combate ao desmatamento que explicasse a queda do índice de 2022, os alertas dos últimos quatro meses não teriam sido tão altos”, pondera.

Além disso, o Contador de Árvores Derrubadas: Ferramenta desenvolvida pelo MapBiomas/PlenaMata que estima em tempo real quantas árvores são derrubadas na Amazônia Legal brasileira do PlenaMata e MapBiomas apontou que foram desmatadas quase 3 mil árvores por minuto na primeira quinzena de setembro deste ano, mês em que o ritmo da destruição acelerou na região. Esse período tampouco foi contabilizado pelo recém-divulgado dado do Prodes. 

Os números do Inpe desta quarta-feira consolidam, ainda, o Amazonas como o segundo estado que mais desmata, posição que passou a ocupar pela primeira vez no ano passado, no lugar do Mato Grosso. Dos nove estados da Amazônia Legal, o Amazonas foi o único a registrar aumento do desmatamento entre 2021 e 2022, com variação de 13%. O Pará segue na liderança, embora tenha apresentado redução de mais de 20% nas derrubadas.

Balanço do governo Bolsonaro

Entre 2019 e 2022, na era Bolsonaro, a Amazônia Legal perdeu 45,5 mil km² de floresta. O número é quase 60% superior ao balanço dos quatro anos anteriores – entre 2015 e 2018, foram 28,5 mil km². No atual governo, o desmatamento na maior floresta tropical do planeta voltou a índices de 15 anos atrás.

Especialistas apontam que o desmonte dos órgãos de fiscalização, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por exemplo, aliado ao empoderamento do crime ambiental, foi um fator preponderante para o retrocesso nas taxas.


Reportagem do InfoAmazonia para o projeto PlenaMata.

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