Iniciativas de participação cidadã para a conservação e a pesquisa científica serão um dos destaques do Espaço Amazônia do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC)
14 das maiores ONGs amazônicas se unem para levar ao Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação experiências que aliam ciência e populações tradicionais
Por Thadeu Melo
Florianopólis – Iniciativas de participação cidadã para a conservação e a pesquisa científica serão um dos destaques do Espaço Amazônia do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que começa nesta terça (31), em Florianópolis (SC). O encontro, realizado desde 1997, é um dos principais sobre áreas protegidas e conservação da natureza na América Latina.
Produzido por 14 organizações não-governamentais que atuam na Amazônia, o espaço apresentará ações de envolvimento direto de cidadãos em atividades como monitoramento da biodiversidade, fiscalização, coleta de dados, pesquisas de campo e gestão para a conservação de recursos naturais. Todas as ONGs recebem apoio da Fundação Gordon and Betty Moore.
“O engajamento cidadão é uma das tendências mais importantes da conservação da natureza, porque não existe possibilidade de gestão do patrimônio natural sem a participação das pessoas que vivem nessas áreas e se relacionam com esses recursos”, explica Gina Leite, gerente do Projeto de Ciência Cidadã para a Amazônia da Wildlife Conservation Society (WCS).
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Incluindo palestras, diálogos, lançamentos de livros e outras atividades interativas, a programação tem como tema central o ‘Uso sustentável nas unidades de conservação e o papel das populações tradicionais no manejo e conservação da Amazônia’. A visitação do espaço é pública e gratuita, das 12h30 às 19h. Veja aqui a programação completa
Colaboração para conservação
Entre os destaques do primeiro dia do encontro está a experiência de manejo sustentável participativo do pirarucu, realizada pelo Instituto Mamirauá há quase duas décadas. Conhecida como uma das mais bem-sucedidas iniciativas de manejo pesqueiro, o projeto conduzido com populações ribeirinhas no curso médio do rio Solimões é famoso por garantir a conservação do pirarucu, ao mesmo tempo que gera renda localmente e atende a parte da demanda pelo consumo desse apreciado peixe amazônico.
Aprendizados sobre como envolver a sociedade no monitoramento da biodiversidade também serão compartilhados pelas equipes do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela gestão das UCs federais.
No segundo dia, o destaque será a reunião técnica, em formato de talk show, com representantes de seis organizações que atuam na gestão do conhecimento para conservação, envolvendo populações locais. Entre as iniciativas mais longevas nessa área estão as conduzidas pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que possuem longa experiência na capacitação de comunidades locais para a gestão e a governança ampliada de UCs.
Estabelecido mais recentemente, o projeto Ciência Cidadã para a Amazônia, desenvolvido pela WCS em articulação com mais de 40 entidades no Brasil e em outros quatro países da bacia amazônica, aparece como uma das principais novidades nesse cenário. Unindo ciência e tecnologia, o projeto desenvolveu e está promovendo o aplicativo ICTIO para celular, facilitando o envolvimento de pescadores e pescadoras na coleta de dados sobre a migração de peixes amazônicos. Baseado em tecnologia semelhante à usada para monitoramento de aves, o ICTIO deve gerar uma grande base de conhecimento em nível local e regional, para auxiliar na definição de políticas públicas para a gestão pesqueira na bacia.
O terceiro e último dia de funcionamento do espaço terá em sua programação diálogos sobre turismo de base comunitária em áreas protegidas. Exemplos de integração de atividades de conservação, turismo e geração de renda, os projetos desenvolvidos no Parque Nacional do Pico da Neblina e na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, e na Floresta Estadual de Faro, no Pará, já se consolidam como referências para a complexa gestão de áreas protegidas remotas no vasto território amazônico.
Unidos pela conservação da Amazônia
Fazem parte do Espaço Amazônia o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Fundação Vitória Amazônica (FVA), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas , Instituto Socioambiental (ISA), Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental, Wildlife Conservation Society (WCS) Brasil , Woods Hole Research Center (WHRC) e World Wild Fund for Nature (WWF) Brasil.
Todas as ONGs integram a Iniciativa Andes-Amazônia, da Fundação Gordon and Betty Moore, que tem como meta conservar a biodiversidade e a função climática da Bacia Amazônica em longo prazo. O InfoAmazonia vai acompanhar os eventos do Espaço Amazônia do IX CBUC a convite da WCS Brasil.
Sobre o CBUC
Com mais de 20 anos de história, o Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação é um dos principais congressos da América Latina sobre a conservação da natureza.
Idealizado e organizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, o CBUC reúne a cada edição centenas de especialistas em biodiversidade e gestão ambiental para tratar das Unidades de Conservação em território nacional e de formas de fortalecer essas áreas protegidas.
O evento acontecerá nos dias 31 de julho e 1 e 2 de agosto. Saiba mais: https://eventos.fundacaogrupoboticario.org.br/IXCBUC.