A plataforma Floresta Silenciosa, lançada nesta terça-feira, 20, por uma parceria entre os cientistas da Rede Amazônia Sustentável (RAS) e a startup brasileira de jornalismo Ambiental Media, com apoio do InfoAmazonia, busca alertar cientistas, a mídia e toda a população para a gravidade e a extensão da degradação florestal na Amazônia. “A visualização de dados e a transformação de estudos científicos em informação atraente e acessível são passos fundamentais na luta pela conservação da floresta. Agora, é possível enxergar o quadro com mais clareza”, ressalta o jornalista Thiago Medaglia, coordenador editorial da plataforma Floresta Silenciosa e fundador da Ambiental Media.
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As informações da plataforma partiram de um estudo de cientistas brasileiros e estrangeiros, publicado no periódico Nature – “Distúrbios antrópicos em florestas tropicais podem dobrar a perda de biodiversidade causada pelo desmatamento” – que se concentrou em mostrar como as ações humanas afetam a biodiversidade e os serviços ambientais na Amazônia. A análise dos distúrbios florestais causados pelo homem, como a exploração seletiva de madeira, incêndios de pequeno e médio porte, caça e fragmentação, ganharam destaque na plataforma, que compilou todos estes dados em um mapa inédito. “Vários estudos olham para cada um dos efeitos isolados, como a extração de madeira e o fogo, mas as perturbações humanas acontecem todas juntas”, explica Jos Barlow, principal autor do estudo, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.
A combinação de todos estes dados tornou possível um cálculo inédito na ciência, o do Déficit de Valor de Conservação, que compara o número de espécies de diferentes grupos – no caso do estudo, os indicadores biológicos escolhidos foram árvores, aves e besouros – encontradas em florestas intactas com o das mesmas espécies em áreas degradadas. Estes dados serviram de base para a criação de um mapa da degradação no Pará, a partir de polígonos que mostram a porcentagem de degradação em áreas de 20 a 50 km² em todo o estado. Ao ver o mapa é possível observar que a situação das florestas do estado é preocupante: “Podemos dizer que a floresta não está funcionando em todo seu potencial”, reforça Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental e uma das líderes da RAS. O Pará abriga 25% da Amazônia brasileira e a perda de biodiversidade devido aos distúrbios antrópicos equivale ao desmatamento de 123 mil km² – uma área que corresponde ao desmatamento total identificado até hoje. Os dados também apontam que o valor de conservação nas matas avaliadas é de 50% do esperado.
“Não podemos apenas levar em conta uma classificação binária – se há ou não floresta. A qualidade da floresta causa impacto nos serviços ambientais que elas prestam, por isso precisamos começar a incorporar essa variável nas políticas de conservação”, diz Erika Berenguer, responsável pela equipe de campo do estudo. A plataforma ainda traz dados atualizados sobre incêndios e exploração ilegal de madeira.
Especial interativo aves da Amazônia
O Pará abriga mais de 10% das espécies de aves do planeta, muitas das quais endêmicas. São exatamente algumas destas espécies as que estão sofrendo o maior impacto da ação humana, pois elas não sobrevivem em ambientes com estes níveis de perturbação. Para entender o impacto da degradação sobre as aves da floresta, Alexander Lees, ornitólogo da Manchester Metropolitan University (Reino Unido), com atuação na região desde 2004, categorizou algumas espécies que encontrou em suas amostras.
Na plataforma Floresta Silenciosa é possível encontrar as fichas das aves classificadas como tolerantes à degradação, sensíveis à degradação e “favorecidas” pela degradação. A ficha interativa de cada ave contém uma ilustração, curiosidades, dados sobre sua ocorrência, alimentação, tamanho e um áudio com o canto da espécie.
Importante esclarecer que espécies de aves que ocorrem na mesma região podem ser muito diferentes entre si. Enquanto algumas são especialistas, outras recebem a classificação de generalistas. Estas são pouco exigentes no que diz respeito à qualidade do habitat e dos alimentos disponíveis e adaptam-se melhor a alterações no ambiente, como perda de árvores e mudança no clima. Embora algumas poucas espécies generalistas possam ser “beneficiadas” pela degradação, aquelas mais raras desaparecem, causando um empobrecimento da biodiversidade. “As espécies que restam são as de menor interesse de conservação, justamente porque já existem na Amazônia toda, alerta Alexander Lees, ornitólogo da Manchester Metropolitan University (Reino Unido) com atuação na Amazônia desde 2004.