Uma compilação de dados dos últimos 30 anos revela que o extermínio de indígenas segue em marcha por todo país. Seja na Amazônia, no Cerrado, remanescentes de Mata Atlântica ou zonas urbanas, 947 índios de etnias diversas foram assassinatos entre 1985 e 2015. A informação faz parte da nova plataforma do InfoAmazonia: CACI – Cartografia dos Ataques Contra Indígenas.
Organizados em um mapa interativo, os casos de homicídio podem ser filtrados de acordo com os povos, estados e períodos mais atingidos pela violência. A palavra “caci” também significa dor em guarani.
O projeto, feito em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e Armazém Memória, representa o primeiro esforço de unir os documentos mais importantes no monitoramento de ataques contra indígenas, os relatórios anuais da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Ao geolocalizar os crimes no mapa, CACI faz a sobreposição com outras informações cartográficas, como os territórios indígenas, as áreas desmatadas e as hidrelétricas. Como em outros projetos do InfoAmazonia, esta linguagem permite relacionar fatos isolados com transformações ambientais de grande escala.
Para aprofundar o estudo dos casos de violência e revelar tendência, a plataforma também traz quatro dossiês elaborados por Marcelo Zelic, fundador do Armazém Memória e pesquisador da história recente das violações contra povos indígenas no país.
Um dos dossiês detalha o caso do Mato Grosso do Sul, onde, segundo sua avaliação, ocorre um genocídio. “Um em cada dois assassinatos de indígenas registrados no Brasil entre 2003 e 2014 aconteceu no Mato Grosso do Sul. Estado tem a segunda maior população indígena e pior distribuição de terras”, detalha o texto de Zelic.
No lançamento da plataforma CACI em São Paulo, a liderança guarani-mbya Tiago Honório dos Santos ressaltou que a questão da violência contra indígenas permanece invisível à sociedade brasileira e que os direitos aos territórios não são respeitados.
“Estive em Mato Grosso do Sul visitando os parentes e realidade é bem dura. Hoje, os Guarani-Cayowaá, assim como todos os povos indígenas do Brasil, são vistos como um estorvo ao progresso”, disse o indígena.
Navegue pela plataforma CACI no mapa interativo abaixo ou no endereço – http://caci.rosaluxspba.org/