COP: Iniciativa liderada pelo México terá US$ 365 milhões para financiar recuperação de áreas degradas na América Latina. Brasil ficou de fora.

Lima, Peru – Oito países da América Latina e Caribe se comprometeram a restaurar 20 milhões de hectares de áreas degradadas até 2020, em um iniciativa que levou o nome de 20×20. A ideia fomenta o protagonismo da região. Esta é a primeira vez que uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ocorre num país amazônico e da América do Sul.

O anúncio foi feito durante o Global Landscapes Forum, o maior evento fora da conferência oficial das Nações Unidas. A COP20 vai até sexta, dia 12, em Lima, no Peru, e espera-se obter um rascunho com propostas a serem discutidas e acordadas entre os países em Paris, na COP de 2015, a fim de definir um grande acordo global de clima.

A segunda semana começou morna com os corredores e tendas esvaziados da conferência oficial. As delegações começaram a chegar nesta segunda-feira, dia 8, e as reuniões a portas fechadas estão começando a ocorrer.

O anúncio da recuperação de 20 milhões de hectares, quase um sexto do tamanho da Colômbia, sinalizou que há um esforço de articulação de países na região.

“A iniciativa 20×20 é algo muito prática, não é obrigatória e os países estão expressando sua vontade. A metade dos gases de efeito estufa na América Latina decorre das mudanças do uso da terra e do desmatamento para expansão agrícola. É um esforço para mudar a dinâmica de degradação na América Latina e remover as barreiras que existem entre os países”, disse a ((o))eco o pesquisador principal do World Resources Institute (WRI), Walter Vergara.

México à frente

A iniciativa é liderada pelo México que se compremeteu em recuperar 8,5 milhões de hectares. Em segundo lugar vem o Peru, com 3,2 milhões; Guatemala, 1,2 milhão; Colômbia e El Salvador com 1 milhão cada: Equador, 500 mil hectares; Chile, 100 mil; e Costa Rica com 50 mil hectares.

Não há apenas um bioma envolvido. Além do amazônico, estão biomas de áreas temperadas e a Patagônia que conta com um programa regional específico de conservação de 4,1 milhões de hectares.

“Cada país tem seus orçamentos próprios, mas a iniciativa organizou um grupo de investidores de impacto que anunciaram seus planos de investir US$ 365 milhões. Não é suficiente, mas já é um bom começo”, disse Vergara. Ainda há muita desconfiança por parte dos investidores em apostar na restauração como um negócio que pode ser rentável.

Na opinião do ex-presidente do México, Felipe Calderón, é preciso acabar com as “políticas contraditórias” feitas às custas dos recursas naturais. O ex-chefe de Estado mexicano já é um dos porta-vozes de uma “nova economia climática” para gerar crescimento econômico e mitigação dos impactos das mudanças do clima.

Ele se diz favorável à implantação do REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), além do pagamento por serviços ambientais e do imposto do carbono para quem polui. “É preciso romper o dilema da pobreza versus conservação”, afirmou.

Brasil fica mais uma vez de fora

No entanto, o Brasil não aderiu à Iniciativa 20×20, embora seja o maior país em área geográfica, população e florestas.

“O Brasil já não fez parte da Declaração de Nova York (na Cúpula do Clima em setembro), e até mesmo em compromissos mais ambiciosos. Surpreende, o Brasil que deveria ter protagonismo em todas essas agendas não está. Parece que a gente caminha sozinho sem necessidade de fazer articulação com os demais paises”, disse Carlos Rittl, do Observatório do Clima, a ((o))eco.

Apenas a implementação do código florestal vai levar à necessidade de restauração de milhões de hectares. No Plano Nacional de Mudanças Climáticas, o compromisso mais ambicioso não está sendo cumprido, criticou Rittl: o desmatamento líquido zero de todos os biomas em 2015. A articulação entre os países latinoamericanos e caribenhos ocorre num momento de crise climática e pressão sobre as florestas, além da perda de biodiversidade. “É fundamental promover sinergia e o Brasil tem, muitas vezes, ficado fora de tudo isso”, disse.

Se o Brasil tivesse ingressado na iniciativa, o país poderia ter elevado o compromisso 20×20 a um total de 30 milhões de hectares.

O World Resources Institute, que apoiou a iniciativa, garante que o fato de o Brasil não ter entrado decorreu das eleições que ocuparam boa parte da agenda do governo, sem espaço para este tipo de conversa.

Para a diretora do WRI no Brasil, Rachel Biderman, o fato do país não ter entrado a tempo do anúncio da iniciativa não quer dizer que ele não esteja comprometido, pois é possível que venha a aderir ao coletivo no próximo ano.

“O movimento criado já está tentando trazer o Brasil, o que impediu que estivesse aqui hoje foram as eleições. O movimento 20×20 quer trazer não só o governo federal mas estaduais também como o Espírito Santo e São Paulo”, disse Biderman a ((o))eco.

O diretor geral do Centro Internacional para Pesquisa Florestal (CIFOR), Peter Holmgren, afirma que os países da região passaram a incluir em suas agendas o conceito de restauração de paisagens. “Este é um complemento para as negociações internacionais”, disse.

Daniel Nepstad, do Earth Innovation Institute, criado há cerca de um ano, segue na mesma linha ao argumentar que a grande inovação para mitigação do clima acontece fora do contexto da ONU. “O assunto de paisagens está ganhando espaço. Não há grandes temas sendo debatidos na COP20. O que a gente pode esperar de Paris é um documentozinho de até 15 páginas”, comentou.

Esta matéria foi originalmente publicada no O Eco e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.

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