Mapa Vivo de Mídias da Amazônia
O noticiário socioambiental que vem de dentro da Amazônia
Mapeamento da Rede Cidadã InfoAmazonia identifica mídias locais que lançam olhar para temas como desmatamento, mudanças climáticas e comunidades tradicionais.
Conheça o mapeamento
Veja agoraIntrodução
Na região do rio Negro, Amazonas, um podcast faz as informações circularem entre os povos indígenas que vivem nos territórios. No conflituoso município de Novo Progresso, no Pará, um jornal denuncia uma ação organizada para fazer queimadas na mata. No Acre, um blog com foco em assuntos amazônicos; no Maranhão, um canal de televisão produzido por uma comunidade quilombola; no Amapá, uma iniciativa jornalística que trata de questões ambientais, tocada por uma universidade.
Mergulho no levantamento
Amazônia conta com 49 rádios que tratam de temas socioambientais
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Estado de Chico Mendes tem cobertura acanhada e interesse sazonal.
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Menor número de mídias mapeadas fica no estado mais preservado.
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Estado onde Bruno e Dom foram assassinados tem o maior número de mídias.
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Menor percentual de editorias está no estado nordestino da Amazônia.
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Estado do ‘dia do fogo’ traz maior percentual de editorias temáticas.
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Considerações finais
Desafios para a cobertura socioambiental na Amazônia
A concentração, a cultura e dependência político-econômica dos meios na Amazônia está em transformação. E o que é preciso para abraçar os temas socioambientais?
O Mapa das Mídias na Amazônia é um mapa vivo. Ele continuará sendo atualizado com a ajuda do público e dos comunicadores da Amazônia.
Conhece alguma mídia amazônica que não esteja no mapeamento? Ou tem uma correção para indicar?
Apoie a continuidade desse trabalho!
Se você não encontrou um veículo de comunicação no mapeamento ou deseja reportar algum erro, pode indicá-lo preenchendo o formulário.
Rede Cidadã
InfoAmazonia
Este mapeamento é parte de um projeto que está construindo uma rede de meios de comunicação amazônicos.
Equipe
Coordenação do Projeto
Helena Bertho [2024 – atualmente]
Débora Menezes [2022 – 2023]
Joyce Cursino [2022]
Direção InfoAmazonia
Juliana Mori
Stefano Wrobleski
Pesquisa e análise
Guilherme Guerreiro Neto
Matheus Botelho Braga
Site
Disarme Grafico
Bruno Ventura: Direção criativa
Thaís Mello: Design
Mário Medina: Desenvolvimento
Lançamento | Mídias sociais
Luiza Toledo
A Rede Cidadã InfoAmazonia é apoiada pela Porticus.
Agradecimentos
Aos entrevistados que participaram da construção deste relatório, fontes que ajudaram a localizar as rádios, e jornalistas e mídias que forneceram informações complementares:
Adecio Piran (Folha do Progresso – PA)
Alan Milhomem (Unifap)
Amazônia Real – AM
Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (MA)
Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (MT)
Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (PA)
Benezildo da Silva (Rádio Floresta – PA)
Bruno Pacífico (Comitê Chico Mendes – AC)
Claudia Ferraz (Rede Wayuri – AM)
Cleber Barbosa (Diário do Amapá – AP)
Coalizão Vozes do Tocantins
Comitê Chico Mendes
Edilene Mafra, Portal Edilene Mafra
Emílio Azevedo (Agência Tambor – MA)
Evelyn Morales (Unir)
Fabio Pontes – AC
Gabriel Veras (Abaré – AM)
Gil Reis (Escola de Cidadania Amazônia da Viração Educomunicação)
Hutukara Associação Yanomami
Instituto Mapinguari
Izani Mustafá (UFMA)
Jéssica Botelho (Atlas da Notícia)
Leticia Cardoso (UFMA)
Lilian Rodrigues (Agcom/Unifap)
Leandro Chaves (InfoAmazonia/Plena Mata)
Observatório Socioambiental de Mato Grosso
Observatório Socioambiental de Rondônia
Projeto Saúde e Alegria
Raimundo Quilombo (TV Quilombo – MA)
Rosa Rodrigues (UFOPA)
Rosane Steinbrenner (UFPA)
Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas do Rio Negro
Rômulo D’Castro (Redação News – PA)
Sindicato dos Jornalistas (AC)
Sindicato dos Jornalistas (MT)
Sindicato dos Jornalistas (RO)
Sindicato dos Jornalistas (TO)
Tácita Muniz (G1 Acre)
Tatyana Lima (UFAC)
Valquíria Guimarães (UFT)
Vanessa Vieira (Correio do Lavrado- RR)
Vilso Santi (UFRR)
Referências
Atlas da Notícias (Projor) – principal base de dados utilizada neste mapeamento
Ecologia da Mídia Regional na Amazônia Legal (NetLab/UFRJ) – pesquisa ainda não publicada sobre a cobertura socioambiental dos meios locais na Amazônia Legal
Amazonas, Mentira Tem Preço (FALA/InfoAmazonia) – levantamento sobre notícias falsas e temática socioambiental no estado do Amazonas
Combate à Desinformação Sobre a Amazônia Legal e Seus Defensores (Intervozes) – projeto do GT de Combate à Desinformação e Discurso de Ódio na Amazônia Legal que identifica sites, páginas e perfis que propagam esse tipo de conteúdo na região
10 Anos da Lei de Acesso à Informação: de Onde Viemos e Para Onde Vamos (Artigo 19) – relatório que traz um balanço sobre a implementação da Lei de Acesso à Informação (LAI) no Brasil
Introdução
Na região do rio Negro, Amazonas, um podcast faz as informações circularem entre os povos indígenas que vivem nos territórios. No conflituoso município de Novo Progresso, no Pará, um jornal denuncia uma ação organizada para fazer queimadas na mata. No Acre, um blog com foco em assuntos amazônicos; no Maranhão, um canal de televisão produzido por uma comunidade quilombola; no Amapá, uma iniciativa jornalística que trata de questões ambientais, tocada por uma universidade.
Essas e outras experiências despontam no Mapeamento de Mídias da Amazônia, iniciativa da InfoAmazonia para identificar meios de comunicação locais e regionais que trazem a temática socioambiental em sua pauta. O mapeamento é ponto de partida para a Rede Cidadã InfoAmazonia, projeto que estimula a produção colaborativa de conteúdos com veículos da região.
O levantamento das mídias locais/regionais foi feito a partir de bases de dados e coletas complementares, identificando conteúdos socioambientais publicados durante o período de janeiro a dezembro de 2021 que compuseram análises sobre os cinco estados apresentados neste especial. E em 2024, o mapeamento foi atualizado com levantamento focado especificamente nas rádios com cobertura socioambiental na região. Para as análises, também foram realizadas entrevistas com pesquisadores, ativistas, comunicadores e jornalistas da região, na intenção de compreender o cenário midiático e as dificuldades da cobertura jornalística.
O mapeamento valoriza a importância da comunicação e do jornalismo locais, e traz reflexões sobre experiências e desafios da cobertura jornalística socioambiental produzida na Amazônia. Há, ao longo dos capítulos, relatos de alguns casos que se destacam ou são relevantes entre os meios mapeados.
Dados gerais do mapeamento
meios de comunicação nos nove estados da Amazônia trouxeram a questão socioambiental em 2021
dos veículos analisados são rádios
é o estado com mais mídias identificadas
é o estado com menos mídias identificadas
As mídias presentes no mapeamento
Entre as mídias identificadas, há TVs, impressos, sites, rádios e podcasts veiculados apenas no universo on line.
Ao todo, fazem parte do mapeamento 307 mídias dos nove estados da Amazônia Legal, sendo o Amazonas o que concentra maior número de veículos mapeados. Apenas dois em cada dez meios de comunicação apresentaram editorias, seções ou categorias agrupando notícias socioambientais. Essas editorias aparecem nomeadas em geral por Meio Ambiente ou Amazônia, mas também por Sustentabilidade, Ecologia & Ação, Biodiversidade, Povos Indígenas, entre outros.
Embora não fosse o objetivo deste mapeamento, pareceu importante tomar nota da ocorrência de editorias voltadas para o agronegócio. O maior volume está no Mato Grosso, onde 51% das mídias têm seções específicas voltadas para pautas desse setor. Nos nove estados da Amazônia Legal, quase 17% apresentam espaço setorizado para o agronegócio, um pouco abaixo dos 20% com editorias socioambientais.
Por que olhar para o jornalismo local?
A Amazônia foi historicamente inventada por olhares e narrativas vindas de fora. Mas as vozes da região há muito contam suas próprias histórias. A forma como a região e seus desafios são comunicados varia drasticamente se comparamos as perspectivas locais, regionais e, finalmente, globais. O problema, no caso da cobertura jornalística, não é apenas a falta de notícias ou informações sobre a Amazônia. A questão é: sobre que Amazônia estamos falando. E qual público queremos sensibilizar sobre as questões e os problemas da Amazônia? São públicos locais, regionais ou globais?
Nossa hipótese é que essa desconexão, esse problema de entendimento, emerge da falta de diálogo entre distintas perspectivas sobre o que é a Amazônia e, principalmente, qual deve ser o destino da região. É patente que existe um desacordo entre as perspectivas locais e aquelas consideradas globais, seja através do já conhecido dilema do desenvolvimento e a preservação do meio ambiente, seja através da continuidade de posturas colonialistas em discursos variados em prol de “uma solução” para a Amazônia.
Se sabe hoje muito pouco do ambiente de informações na região. Não há uma conexão entre os meios locais, incluindo os comunitários, e as narrativas fora dos territórios, inclusive em nível global. E fora das grandes concessões de televisão e dos jornais baseados nas capitais, existe sim um deserto de informação. Como revelou o estudo “Atlas da Notícia”, a região Norte do Brasil é aquela com o maior número de municípios sem nenhum veículo de comunicação.
O noticiário local tem, potencialmente, a condição de tratar da Amazônia com o olhar de quem vive nela. Há desafios nessa missão, que envolvem desde pressões político-econômicas, a segurança dos profissionais que narram sobre assuntos desde uma ótica que contraria interesses de quem está no poder e até o próprio tema do financiamento. A Amazônia tem longas distâncias e a logística para a produção de conteúdo pode demandar viagens de barco e carros 4×4, o que certamente encarece a produção.
Mapear mídias amazônicas que, de algum modo, tratam da questão socioambiental e conhecer algumas experiências e histórias de veículos do imenso território que é a Amazônia é o ponto de partida desse projeto para identificar as demandas do jornalismo local. A escuta das realidades locais fortalece iniciativas de cooperação.
Como usar este mapeamento?
A busca pode ser feita por estado, por tipo de mídia ou pelo nome do veículo. Há uma pequena descrição sobre cada veículo que consta no mapeamento, a periodicidade do meio de comunicação, e se há editoria ou seção temática sobre Meio Ambiente, Amazônia ou temas afins. Também é possível identificar em que categoria cada veículo oferece seus conteúdos: impresso, online, rádio e TV.
Este mapeamento não traz uma análise sobre a qualidade da cobertura socioambiental de cada meio, mas serve como ponto de partida para futuras pesquisas qualitativas e ainda como lista de veículos para a divulgação de pautas socioambientais que dizem respeito à região onde a mídia está presente.
O mapeamento não pára por aqui. Se você tem/faz parte de uma mídia na Amazônia, ou quer indicar um veículo de comunicação, acesse o formulário.
Considerações finais
Desafios para a cobertura socioambiental na Amazônia
A concentração, a cultura e dependência político-econômica dos meios na Amazônia está em transformação. E o que é preciso para abraçar os temas socioambientais?
O Mapa das Mídias na Amazônia é um mapa vivo. Ele continuará sendo atualizado com a ajuda do público e dos comunicadores da Amazônia.
O que já podemos dizer neste primeiro esforço do InfoAmazonia em entender a paisagem midiática da Amazônia é que existe proliferação de ideias novas, de formas novas de produzir e distribuir conteúdos socioambientais. Vimos iniciativas, como a TV Quilombo no Maranhão, que busca visibilizar causas em um estado de alta concentração midiática.
As iniciativas independentes estão abrindo caminhos para a cobertura socioambiental e ajudando a desconcentrar e descolonizar o jornalismo.
Essa, para nós, é a visão deste projeto de mapeamento colaborativo. Como parte da iniciativa Rede Cidadã InfoAmazonia, este mapa é um instrumento de diálogo. Os comunicadores da Amazônia Legal encontrarão, aqui, portas abertas para mostrar seu trabalho.
Mas falemos um pouco dos desafios…
A concentração dos meios mapeados nos principais centros urbanos de cada estado aponta para o que os pesquisadores do Atlas da Notícia chamam de desertos de notícia. No noticiário socioambiental, as áreas da Amazônia sem cobertura local se agudizam. Ao longo dos séculos, a ideia de ausência, de deserto, é reiteradamente imputada à Amazônia, por ignorância ou projeto de poder. Terra de ninguém, terra sem história, terra sem gente. A pouca produção e circulação de informação reforça esse apagamento.
A importância da imprensa local fica patente em casos emblemáticos citados ao longo do mapeamento. Desde a denúncia do ‘Dia do Fogo’, que, antes de ganhar repercussão nacional, foi publicada pelo jornal Folha do Progresso, do município de Novo Progresso, no Pará, até a produção midiática comunitária que, seja entre os povos indígenas vinculados à Rede Wayuri, no Amazonas, seja entre os quilombolas que fazem a TV Quilombo, no Maranhão, assume um papel de elo social.
Embora, para este mapeamento, não tenha sido feita uma avaliação qualitativa detalhada dos meios, certamente há, na lista, veículos de comunicação que fazem coberturas socioambientais de baixa qualidade, mídias que seguem linhas de jornalismo declaratório ou mesmo que publicam informações duvidosas, como mostrou o projeto Amazonas, Mentira Tem Preço. Os casos mais evidentes de desinformação, considerando tanto o levantamento sobre o Amazonas – que foi ampliado e segue agora para além do estado, com o nome Mentira Tem Preço – quanto o do Intervozes que abrange a Amazônia Legal, foram retirados do nosso apanhado de veículos.
Parte dos desafios da pauta socioambiental no jornalismo amazônico envolve questões culturais, tanto de dentro das redações quanto do modo como se dão as dinâmicas da sociedade. Na cultura jornalística, esse noticiário não ganha o devido destaque, basta ver a baixa incidência de editorias sobre meio ambiente, apontada neste mapeamento, ou a raridade com que aparecem mídias regionais especializadas na discussão socioambiental, como a Agência Amazônia Real, no Amazonas.
Na questão cultural da sociedade, o dilema é pensar em estratégias para que o ‘socio’ e o ‘ambiental’ sejam percebidos como indissociáveis e as pautas socioambientais quebrem as barreiras de assunto de nicho, assumindo a centralidade que têm nas várias dimensões da vida. As comunidades tradicionais já guardam e propagam essa compreensão. Mas, por exemplo, no Acre, por questões políticas, e no Amapá, onde há extensa porção de áreas protegidas, a cobertura socioambiental enfrenta resistências. E, em geral, as mídias sabem pouco sobre as audiências e suas demandas.
A oposição social às demandas do meio ambiente cresce, por vezes, diante de um preservacionismo apartado da realidade dos povos. Mas, fundamentalmente, cresce pela reiteração de discursos em que a ecologia aparece como inimiga da economia, da geração de riquezas. Essa é uma construção que envolve grupos empresariais e financeiros, além de representantes políticos, caso da bancada ruralista. A pauta socioambiental como inimiga é um dos motes do ideário bolsonarista.
Tudo isso em um cenário de crescente dificuldade de acesso a informações socioambientais, como indicou em entrevista a editora do G1 Acre. Uma pesquisa sobre os dez anos da Lei de Acesso à Informação, publicada em 2022 pela organização Artigo 19, mostrou que pedidos feitos, entre 2019 e 2021, a secretarias de meio ambiente de estados da Amazônia Legal levaram, em média, mais dias a serem respondidos em comparação a outros estados – no caso do Acre, não houve respostas. Os estados da Amazônia Legal também dão menos acesso integral às informações e têm índices maiores de acesso negado e sem resposta.
Para que as mídias fiquem menos à mercê das pressões dos poderes político-econômicos de governos locais e empresas anunciantes (até onde é possível, já que muitas rádios são propriedades de políticos), para estimular movimentos criativos e disruptivos diante da cultura social e jornalística – girando a chave da Amazônia vista enquanto recurso para a Amazônia vivida enquanto comunidade interespecífica -, para aprofundar os focos de cobertura e o pensamento crítico na imprensa local, as entrevistas feitas neste mapeamento do InfoAmazonia apontam alguns caminhos:
Financiamento
Os pequenos meios fazem grande esforço para operar e permanecer em atividade. As mídias de maior porte não contam com verbas para os longos e caros deslocamentos amazônicos. Cria-se uma dependência de anúncios dos poderes locais. Editais de incentivo e bolsas nacionais e internacionais ainda atendem mais repórteres de fora que vêm cobrir a Amazônia do que veículos e jornalistas da região. A melhora na cobertura socioambiental local depende da busca por alternativas de financiamento.
Política pública
As dificuldades de sobrevivência e cobertura de mídias na Amazônia são também problemas de Estado. Os desertos de notícia configuram entraves ao direito à comunicação e à informação. O trabalho da imprensa pode ser útil no enfrentamento a crimes ambientais e violência no campo. A pesquisadora Jéssica Botelho ( Atlas da Notícia ) trata da necessidade de pensar políticas públicas para o jornalismo. Incentivos à cobertura socioambiental podem fazer frente à força econômica de empresas e governos.
Segurança
Os assassinatos do repórter britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira expuseram para o mundo os riscos de fazer jornalismo e denunciar as ilegalidades e violências que se espalham na Amazônia. A insegurança é contínua para jornalistas e comunicadores locais, que não podem ir embora depois que as informações apuradas são publicadas ou vão ao ar. Ameaças e medo geram silêncios. Para seguir o trabalho, meios e jornalistas amazônicos carecem de segurança física e jurídica.
Relação mídia-fontes
Representantes da mineração, do agronegócio e dos governos são eficientes na influência que exercem nas mídias, seja como anunciantes, seja como fontes. Grupos e instituições que produzem informação e atuam na defesa dos povos e da floresta nem sempre têm a mesma inserção. A professora Rosane Steinbrenner (UFPA) alerta para a importância de estreitar a relação entre as fontes socioambientais e os veículos. Um rumo complementar é pensar nessas fontes-ativistas criando seus próprios meios de comunicação.
Mas não só os desafios são compartilhados. Também as experiências podem ser. É o que busca a Rede Cidadã InfoAmazonia, com o diálogo entre mídias da Amazônia Legal e a parceria na produção de conteúdos que possam circular tanto local quanto nacionalmente.
Caminhos para o mapa
O mapeamento foi realizado em sete fases. As duas primeiras abrangeram todos os nove estados da Amazônia Legal, as três seguintes avançaram em conteúdos de cinco estados que compunham a fase inicial da Rede Cidadã InfoAmazonia: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão e Pará. A sexta etapa foi alargada novamente a todos os estados e eliminou, com base em outros levantamentos existentes, casos de evidente prática de desinformação. A última etapa focou no levantamento de mídias no formato de rádio em todos os nove estados da Amazônia Legal.
FASE 1
Busca geral por mídias da Amazônia
A principal base de dados utilizada para o levantamento inicial de mídias foi o Atlas da Notícia; tanto os registros da região Norte, quanto os das regiões Nordeste (onde constam os meios de comunicação do Maranhão) e Centro-Oeste (que agrega os meios do Mato Grosso). Também foram consideradas experiências midiáticas indicadas por jornalistas, pesquisadores e ativistas socioambientais.
FASE 2
Seleção de veículos que fazem cobertura socioambiental
A partir da busca inicial de mídias da Amazônia Legal, foram pesquisados conteúdos disponíveis na internet – basicamente meios online e impressos -, publicados entre janeiro e dezembro de 2021. O critério utilizado para identificar quem traz na pauta temas ligados à questão socioambiental foi a combinação de expressões-chave como Amazônia, mudanças climáticas, desmatamento, queimadas, garimpo, terras indígenas e unidades de conservação. Nessa etapa da pesquisa, foram feitas seis combinações, por exemplo, desmatamento/terras indígenas. Entraram no mapa os meios com registros positivos em ao menos metade das combinações realizadas. Ainda nessa fase, houve identificação de editorias, seções ou categorias que reuniram notícias socioambientais – também foram apontadas as editorias voltadas para o agronegócio.
FASE 3
Contato com emissoras de rádio e TV
No caso de rádios, tevês, e outras mídias sem conteúdo online, houve contato direto para identificar se a programação ou as ações contavam com espaços voltados à temática socioambiental. A partir desta etapa, o mapeamento abrangeu apenas os cinco estados que integram inicialmente a Rede Cidadã.
FASE 4
Entrevistas com pesquisadores, jornalistas e comunicadores
Para a compreensão do cenário midiático e socioambiental nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão e Pará, foram realizadas 16 entrevistas com jornalistas e comunicadores, além de pesquisadores da área da Comunicação e ativistas socioambientais.
FASE 5
Capítulos-reportagem sobre cada um dos cinco estados
A interpretação dos dados iniciais do mapeamento, incluindo indicações de como desmatamento e queimadas aparecem nas pautas, as análises de especialistas e a apresentação de algumas experiências midiáticas dão forma à essa etapa: um capítulo-reportagem contextualizando a cobertura socioambiental nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão e Pará.
FASE 6
Revisão geral e exclusão das mídias de desinformação
Além de uma revisão geral das descrições dos meios de comunicação mapeados nos nove estados, esta etapa final eliminou as mídias que mantinham práticas emblemáticas de desinformação. Foram considerados os casos apontados por duas fontes: o projeto Combate à Desinformação Sobre a Amazônia Legal e Seus Defensores, do Intervozes, e o especial Amazonas, Mentira Tem Preço, da produtora Fala e do InfoAmazonia.
FASE 7
Atualização do mapa com rádios e checagem de links
O mapeamento partiu de uma lista, com dados do sistema de estações por localidade da Anatel, de quase 800 emissoras. A lista indicava os nomes das entidades que tinham concessão de rádios nos estados. Foi feita uma busca para identificar nomes e contatos das estações. A Rede Cidadã InfoAmazonia tentou contatar mais de 400 emissoras por e-mail ou aplicativos de mensagem. Paralelamente, foram consultadas fontes parceiras em todos os estados da Amazônia Legal, com pedido de indicação de rádios para o mapeamento. Entre as fontes, estão organizações socioambientais, sindicatos de jornalistas, associações de rádios comunitárias, professores, pesquisadores, comunicadores e jornalistas. Na primeira versão do Mapa Vivo de Mídias da Amazônia, a busca ocorreu pelo cruzamento de palavras-chave. Àquela altura, entraram principalmente veículos que mantinham conteúdo de texto disponível online. Por isso, desta vez, com foco nas rádios, foi adotado como ajuste metodológico o envio de formulário online. Sete emissoras que responderam ao formulário não entraram no mapa. O critério de corte foi a frequência da cobertura socioambiental. Para identificar essa frequência, houve perguntas sobre o aparecimento de temas como desmatamento, povos tradicionais e mudanças climáticas. Das três perguntas do formulário a respeito da frequência, em pelo menos duas os assuntos questionados deveriam ser tratados toda semana ou todo mês. Também foi verificado se os sites da primeira versão do mapa, publicada em 2023, continuavam no ar. Os sites foram visitados em três datas diferentes, e aqueles que estavam inacessíveis na última verificação foram removidos do mapa. No total, 20 mídias foram removidas.
O resultado deste mapeamento é uma base de dados com mídias da Amazônia Legal que trazem na pauta temas socioambientais.
É importante destacar que a qualidade das coberturas não foi um critério, na medida em que o objetivo foi a identificação dos espaços das mídias para a cobertura socioambiental.
A partir do levantamento e das entrevistas, é possível traçar alguns pontos de ação para aprofundar o noticiário local da região amazônica a respeito da temática socioambiental. Financiamento, política pública, segurança e aproximação com fontes são elementos para serem pensados de modo coletivo.
Os dados mostram uma pesquisa em aberto, em busca de novos caminhos. Por isso, você pode indicar um veículo ou coletivo midiático que não tenha entrado em nosso radar, além de fazer novas análises a partir das mídias que constam no mapeamento.