Taxa oficial de desmatamento divulgada por INPE tem alta de 29,5%. Proporção de grandes áreas derrubadas (superiores a 500 hectares) também é a mais elevada em dez anos.
Taxa oficial de desmatamento divulgada por INPE tem alta de 29,5%. Proporção de grandes áreas derrubadas (superiores a 500 hectares) também é a mais elevada em dez anos.
Por Gustavo Faleiros e Stefano Wrobleski
Mapa: Juliana Mori
Resultados preliminares divulgados nesta segunda-feira (18) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) confirmaram um aumento significativo no desmatamento da Amazônia entre agosto de 2018 e julho de 2019.
A estimativa da taxa do programa de monitoramento por satélites Prodes indicou um crescimento de 29,5%, elevando a devastação da Amazônia para 9.762 km², número mais alto desde 2008.
Para dar ideia de grandeza do que foi derrubado, é possível dizer que a área é similar a 6,4 cidades de São Paulo (1522 km²).
Os novos dados do INPE evidenciam uma mudança no perfil do desmatamento, com um aumento do tamanho das áreas derrubadas no bioma.
Uma análise da base de dados que foi disponibilizada no site do INPE indica que a parcela de grandes desmatamentos – acima de 500 hectares – foi a mais elevada desde 2008.
Há 10 anos que a fatia de desmatamentos com até 50 hectares vem reduzindo constantemente. Em 2019, representou 51% da área total desmatada contra 64% em 2008. Os pequenos desmatamentos chegaram a representar 80% da taxa em 2010.
Na outra ponta, nunca, desde 2008, foi tão grande a fatia de grandes áreas desmatadas, superiores a 1 mil hectares: 5,38% do total. O número supera o valor do ano passado, que é o segundo maior da série, de 4,75%.
Em 2019, as proporções de todas as faixas de desmatamento acima dos 50 hectares atingiram os níveis mais alto da última década.
Os dados divulgados nesta segunda-feira pelo INPE ainda são preliminares e são estimados com base em 90% do coletado ao longo de 2019. Agora o instituto vai fazer um pente fino de toda a base antes de publicar a taxa final de desmatamento da Amazônia deste ano, o que geralmente é feito em meados de 2020. Os valores finais, contudo, não costumam ser muito diferentes das estimativas.
As causas por trás do aumento do desmatamento
Pesquisadores, instituições não governamentais e ambientalistas não se surpreenderam com o resultado apresentado esta manhã pelo INPE. Alertas de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), sistema de monitoramento também coordenado pelo Instituto, já mostravam uma inequívoca tendência de aumento ao longo de todo os meses
Na semana passada, acadêmicos de universidades de Lavras (MG), Lancaster e Oxford no Reino Unido, apontaram uma conexão direta entre os aumentos de queimadas ainda nos primeiros meses da seca como um esforço coordenado para abrir novas áreas na Amazônia. O que mostraram é que novas áreas de alertas do Deter foram coincidentes com os focos de queimada.
O pesquisador Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM) diz que daqui para frente «a tendência é sim de crescimento».
«A taxa do ano que vem pode ser ainda maior. Boa parte da derrubada de agosto e setembro deste ano não foi capturada pelo Prodes que saiu, já que cobre de agosto de 2018 a julho de 2019.»
Para governo Bolsonaro, estados tem que ajudar
Em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, na sede do INPE em São José dos Campos, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, reconheceu a gravidade dos números. Afirmou que haverá “reforço na fiscalização” e seu colega da Ciência , Tecnologia e Telecomunicações, Marcos Pontes, falou em prover a melhor tecnologia possível para combater o desmatamento.
Salles não concordou com o estabelecimento de uma conexão direta entre os ações do governo Bolsonaro e o aumento do desmatamento. Segundo ele, a falta de ações de repressão ao que chamou de um crescimento da «economia ilegal» na Amazônia é resultado de déficits orçamentários deixados por gestões passadas.
Durante toda a coletiva, os ministros e o presidente do INPE, Dacton Damião, enfatizaram que o recente aumento do desmatamento é parte de uma tendência iniciada em 2012, quando houve uma reversão em uma série histórica de quatro anos de queda consecutivas.
Ainda de acordo com o ministro do Meio Ambiente, o governo vai buscar soluções em conjunto com os estados da Amazônia Legal. Na semana passada, houve uma reunião entre técnicos do Ministério do Meio Ambiente e dos governos estaduais. Nesta quarta outra reunião está marcada para o que seria um plano de repressão ao desmatamento.
Uma das críticas ao governo Bolsonaro é a desmobilização do PPCDAm – o Plano de Prevenção e Combate do Desmatamento na Amazônia, que funcionava desde 2004 e coordenava a ação de diversos ministérios e outros entes da Federação. «Não há como atingir resultados sem trabalhar com os entes federativos», disse Sales.
Desmate explode no Amazonas e em Roraima
Os estados que apresentaram maior área desmatada foram Pará, Mato Grosso e Amazonas. Historicamente, os dois primeiros sempre estiveram no topo do ranking. Mas o Amazonas é uma novidade. Pela primeira vez, desde que o monitoramento por satélites foi iniciado em 1988, o estado ocupa o terceiro lugar, à frente de Rondônia.
A cifra confirma processo amplamente alertado por pesquisadores e organizações não-governamentais de um avanço do desmatamento no sul do Amazonas. Esse ciclo de expansão agropecuária está atrelado a atividades ilegais, como o roubo de madeira e a grilagem de terras.
As derrubadas no Amazonas chegaram a 1.421 km², um aumento de 36% com relação ao biênio anterior. Os maiores crescimentos percentuais ocorreram em Roraima (216%), Acre (55%) e Pará (41%). Confira no site do INPE a tabela completa por estados.
O InfoAmazonia atualizou seu mapa de desmatamento com os dados preliminares do Prodes. Aqui em destaque as áreas de corte raso em Roraima