Escolhida uma das 100 pessoas mais influentes de 2022 pela revista ‘Time’, a líder indígena, eleita deputada federal por São Paulo, ocupará a pasta inédita a partir de janeiro.
“Conquista coletiva dos povos indígenas”. É assim que a futura ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, avalia sua nomeação para a pasta a ser criada pela primeira vez no Brasil em 2023. Sua indicação foi anunciada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira (29), em coletiva de imprensa em Brasília, com a presença da líder indígena.
Para assumir a pasta, Sonia, que é filiada ao PSol, terá de abdicar da cadeira de deputada federal conquistada em outubro por São Paulo, onde obteve quase 157 mil votos. Junto a ela, também foram anunciados outros 15 nomes – entre eles o de Marina Silva (Rede), nova ministra do Meio Ambiente. Já Simone Tebet (MDB) assume como ministra do Planejamento.
Para Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), “depois de quatro anos de tanta resistência no campo ambiental, é maravilhoso saber que poderemos contar com a liderança de grandes mulheres como Marina Silva, Sonia Guajajara e Simone Tebet”.
“Apesar de o presidente Lula já ter dado em Sharm El-Sheikh, durante a COP27, o tom contundente do seu novo governo em relação ao combate às mudanças climáticas, o seu desafio será de assegurar a transversalidade e a ação conjunta de diversos ministérios ao redor da agenda climática, em particular nas pastas econômicas. Coordenação e foco serão essenciais para o sucesso das novas ministras e para a agenda do clima”, disse Ana.
Indígenas no poder
A criação de um ministério para atender aos interesses dos povos indígenas, que nos últimos quatro anos foram desprestigiados por Bolsonaro, foi uma promessa de campanha de Lula, que já comunicou que o segundo escalão da pasta também será formado por indígenas, incluindo a gestão do Fundação Nacional do Índio: Órgão federal criado em 1967 e responsável pela execução das políticas de proteção e de promoção dos direitos indígenas em todo o território nacional. (Funai).
“Sinto muito honrada e feliz com a nomeação de ministra. Mais do que uma conquista pessoal, esta é uma conquista coletiva dos povos indígenas, um momento histórico de princípio de reparação no Brasil. A criação do ministério é a confirmação do compromisso que Lula assume com nós”, comemorou Guajajara em suas redes sociais, pouco antes do anúncio.
Membro do povo Guajajara/Tenetehara, que habita a Terra Indígena Araribóia, no Maranhão, Sonia tem 48 anos e entrou para a história como a primeira representante dos povos originários eleita deputada federal por São Paulo. Ela é formada em Enfermagem e Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema), com pós-graduação em Educação Especial.
A futura ministra ascendeu politicamente em 2001, ao se tornar membro da Coordenação das Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima). Em 2009, foi eleita vice-presidente de uma das mais importantes entidades dos povos originários do Brasil, a Coordenação das Organizações Indígenas Brasileira (Coiab).
Três anos mais tarde, assume a coordenação-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), outra instituição de peso, que serve como instância de referência nacional do movimento indígena no país.
Em 2018, o PSol surpreende ao indicar Sônia para disputar a vice-presidência da República na chapa encabeçada por Guilherme Boulos, o segundo deputado federal mais votado do Brasil e o primeiro mais votado por São Paulo nas eleições de outubro deste ano.
Durante o governo Bolsonaro, Guajajara fez várias denúncias ao Parlamento Europeu, às Organização das Nações Unidas (ONU) e às Conferências Mundiais do Clima (COP) contra as violações dos direitos dos povos indígenas no Brasil, que se viram ameaçados pelo desmatamento, sobretudo na Amazônia, e por projetos de mineração em seus territórios.
A atuação de Sonia em prol dos direitos indígenas lhe rendeu o título de uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2022 pela revista Time. Após a vitória de Lula sob Bolsonaro nas urnas, integrou a equipe de transição e passou a ser cotada para assumir o Ministério dos Povos Originários, que deverá guiar as políticas indígenas pelos próximos quatro anos.
Seu nome foi sugerido em uma lista tríplice elaborada pela Apib, disputando a vaga com a primeira mulher indígena a ocupar o cargo de deputada federal, Joenia Wapichana, de Roraima, e com o vereador da cidade de Caucaia, no Ceará, Weibe Tapeba.
Reportagem da InfoAmazonia para o projeto PlenaMata.