InfoAmazonia e equipe do Greenpeace sobrevoaram território em chamas que é alvo de invasão de madeireiros e grileiros. Lideranças pedem aos órgãos do governo urgência no combate ao incêndio.
A floresta na Terra Indígena Karipuna, em Rondônia, está sendo consumida pelo fogo de queimada ilegal provocada por invasores. O InfoAmazonia flagrou focos de incêndio no território indígena nesta quinta-feira, 18, durante sobrevoo com a equipe de monitoramento do Greenpeace.
Segundo os indígenas, o incêndio começou na terça-feira, dia 16, o que também foi confirmado pelos sistemas que monitoram focos de calor na Amazônia. Desde então, o fogo se alastra pela floresta às margens do rio Formoso e em diversos pontos da terra indígena. Até o momento, não há presença de qualquer órgão para conter o fogo e deter o avanço das chamas denunciadas pelos Karipuna como uma ação criminosa.
“Nós fomos ao local, vimos a fumaça subindo na floresta e encontramos novas derrubadas e picadas abertas pelos invasores. Não está acontecendo só em um ponto do território, mas em várias regiões da terra indígena”, relatou a liderança Adriano Karipuna.
Localizada nos municípios de Nova Mamoré e Porto Velho, a TI Karipuna é o 8º território mais desmatado nos últimos três anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE). A violação dos direitos do povo Karipuna tem sido constantemente denunciada às autoridades brasileiras e em órgãos internacionais, como na ONU e no Vaticano. A pressão chegou a motivar uma série de operações da Polícia Federal e do Ibama. Mas os crimes continuam.
“Não foi por falta de aviso, desde 2018 os Karipuna denunciam o avanço da grilagem e do desmatamento no pouco que sobrou do seu território original. Mesmo percorrendo todas as instâncias do Estado brasileiro, os Karipuna seguem reféns do crime organizado, e pedindo socorro ao mundo, haja vista a incapacidade do Estado brasileiro de por fim ao avanço do crime ambiental organizado na Amazônia”, disse Danicley de Aguiar, porta voz da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil.
Mais de 4,8 mil hectares do território já foram desmatados para o roubo de madeira. Mas são os dados de degradação (não divulgados pelo governo brasileiro desde 2014) que mostram a trágica dimensão da destruição do território Karipuna. Somando, as áreas de desmatamento e degradação, monitorada pelo Greenpeace, a área de floresta degradada e desmatada passa de 10 mil hectares.
Em 2021, o governador de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), sancionou uma lei que reduziu os limites da Reserva Extrativista Jaci-Paraná e do Parque Estadual Guajará Mirim, áreas tradicionais de uso dos povos indígenas e que serviam também de proteção ao território, permitindo o avanço de fazendas de gado nessas áreas.
Em 22 de novembro, a lei foi declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO), mas o estrago e o incentivo a grileiros e desmatadores estava feito. Estimativas do próprio governo de Rondônia apontam que as áreas protegidas do entorno da terra indígena Karipuna abrigam mais de 150 mil cabeças de gado. E mesmo ilegal, todo esse rebanho é vacinado e acompanhado pelos órgãos sanitários do estado, enquanto os indígenas denunciam completo abandono.
Estimativas do próprio governo de Rondônia apontam que as áreas protegidas do entorno da terra indígena Karipuna abrigam mais de 150 mil cabeças de gado
“Já pedimos inúmeras vezes providências para proteção do território e da nossa integridade física. Mas até o presente momento não foi tomada nenhuma providência”, reclama Adriano, que alerta para as ameaças contra o seu povo.
O contato forçado dos Karipunas com não-indígenas na década de 1970 quase os dizimou nessa região da Amazônia, onde foram reduzidos a um grupo de oito pessoas na década de 1990.
Adriano Karipuna conta que as ameaças de morte por madeireiros constantes já chegaram a encurralar o povo num raio de um quilômetro da aldeia, o que acabou revertido após operações da PF que retirou invasores da área. Desde então, próprios Karipunas fazem a segurança e o monitoramento da área, documentando e denunciando as invasões na esperança de ações mais enérgicas do estado brasileiro.
O InfoAmazonia tentou contato com a Funai e Ibama, mas até o fechamento desta reportagem os órgãos não responderam os questionamento pedidos sobre uma ação concreta no território Karipuna.
Inicialmente esta reportagem informou que as queimadas não tinham sido detectadas pelos sistemas que monitoram focos de calor da Amazônia. No entanto, após a publicação do texto, o INPE esclareceu que, ainda no dia 16, mesmo que um possível atraso na divulgação das informações, já havia alertas de focos de calor na TI Karipuna, como pode ser comprovado na plataforma BD Queimadas do Inpe. O texto foi atualizado para refletir essa informação.