Floresta com tipos diferentes de planta se recupera melhor após ser submetida a aquecimento moderado, conclui pesquisa, que amplia entendimento da importância da biodiversidade.
Um grupo internacional de cientistas pôde, pela primeira vez, demonstrar em larga escala que florestas com maior diversidade de características e funcionalidades de plantas têm também maior potencial de adaptação a mudanças no clima, utilizando a Amazônia como estudo de caso. O estudo, publicado no periódico Nature Climate Change nesta segunda-feira (29), reforça a importância da preservação da biodiversidade como instrumento de políticas públicas contra o agravamento da crise climática.
“É nítido que a biodiversidade não é um benefício adicional, e sim um aspecto fundamental para a sobrevivência a longo prazo das grandes reservas de biomassa da Terra, como a floresta amazônica”, afirmou Boris Sakschewski, do Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos de Potsdam, que liderou o trabalho. “A diversidade vegetal pode permitir que o maior ecossistema tropical do mundo se ajuste a certo nível de mudança climática – árvores que hoje são espécies dominantes, por exemplo, poderiam dar lugar a outras que seriam mais adaptadas às novas condições.”
Para estudar como a diversidade funcional de plantas contribui para a resiliência de florestas tropicais, o grupo primeiro investigou uma pequena área de floresta no Equador, com base em sua resposta, realizou simulações em computador para toda a bacia amazônica. “É um modelo bastante interessante e que traz a mensagem de que, além da diversidade de espécies numa floresta, devemos olhar para a diversidade de características e funcionalidades das plantas para a manutenção do serviço cumprido por elas”, afirma o ecólogo Daniel Piotto, da Universidade Federal do Sul da Bahia.
O modelo biogeoquímico desenvolvido, que simula ambientes florestais diversos, mostrou que essa diversidade pode permitir que a floresta se ajuste a novas condições climáticas e mantenha seu potencial de sumidouro de carbono: enquanto árvores acima de 30 m, atuais maiores contribuintes para a biomassa do ambiente, seriam reduzidas no médio prazo, a vegetação do sub-bosque, de tamanho médio e árvores mais jovens, teria oportunidade de receber mais luz e se regenerar para as novas condições. No modelo, essa mudança melhorou o equilíbrio de carbono e a taxa de sobrevivência das árvores, o que causou recuperação de biomassa e estrutura para as espécies.
A notícia, porém, não representa um alívio de preocupações: enquanto, num cenário de cumprimento das metas do Acordo de Paris e emissões moderadas, a taxa de recuperação seria em torno de 84% após alguns séculos, o dano causado por emissões em massa, sem respeito ao acordo ou aumento de ambição das propostas sobre a mesa, permitiria que apenas 13%. da área se recuperasse pelas mesmas condições.
O novo estudo é mais um de uma série de trabalhos recentes mostrando relações importantes entre biodiversidade florestal e clima. Desde o ano passado, por exemplo, pesquisas chefiadas pelo ecólogo paraense Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), e pelo biólogo Mauro Galetti, da Unesp de Rio Claro, têm mostrado, entre outras coisas, que a caça de mamíferos como queixadas e antas ajuda a reduzir a dispersão de árvores grandes, diminuindo a fixação de carbono pelas matas na Amazônia.
– Esta matéria foi originalmente publicada no OEco e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.