A onça-pintada foi a espécie escolhida como símbolo da delegação brasileira. Em Manaus, depois de ser exibida no desfile da tocha olímpica, fugiu e acabou morta.
Juma, um macho de 18 anos e cerca de 55 quilos, era mascote do 1° Batalhão de Infantaria de Selva. Veterano de desfiles militares, foi incluído de última hora no trajeto da tocha olímpica pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus. Pouco depois de ser exibido em uma das passagens da tocha, escapou dos militares que o conduziam.
Juma foi usada no desfile sem a devida autorização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), órgão responsável pelo licenciamento do zoológico. O Exército diz que o animal estava ali para procedimentos veterinários. De qualquer forma, posou acorrentada para fotógrafos e cinegrafistas enquanto a chama olímpica passava de uma tocha a outra.
Embora seja uma prática condenada por especialistas em animais selvagens, onças-pintadas são usadas em desfiles militares em Manaus há décadas. Cada organização militar do Exército possui seu mascote, onças resgatadas quando filhotes que não puderam retornar a vida selvagem ou não encontraram outro abrigo. O do CIGS se chama Simba, e também estava na passagem da tocha. O próprio Comando Militar da Amazônia (CMA) tem a onça Jiquitaia. Os animais têm especial destaque nas paradas de comemoração da independência do Brasil, no 7 de setembro.
Símbolo Olímpico
Na passagem da tocha olímpica por Manaus, Juma não simbolizava apenas o poder do batalhão, era o próprio mascote da delegação brasileira nas olimpíadas do Rio de Janeiro. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) escolheu a onça-pintada como mascote brasileira nos jogos, representada pelo personagem Ginga.
Segundo o COB, a opção demonstra “valores do respeito e da proteção da nossa fauna, para a atual e futuras gerações”. A preferência pela onça-pintada se justifica pela espécie ser classificada como “quase ameaçada”, pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, em português), e “vulnerável”, pelo Ministério do Meio Ambiente.
Infelizmente, a intenção do Comitê Olímpico Brasileiro de nada serviu a Juma, uma onça de verdade.
Tragédia pronta
Militares que acompanhavam o animal estavam apreensivos. Juma estava mais inquieta do que o normal, pois estava em um local estranho e perto de outras onças do zoológico do CIGS. Havia movimentação de repórteres, atletas e gente da organização da Rio 2016.
E, então, Juma não fez mais do que seguir os seus instintos e fugiu.
De acordo com nota divulgada pelo Comando Militar da Amazônia (CMA), a equipe de veterinários militares tentou recapturá-la com o disparo de tranquilizantes, porém, após atingido, o animal foi em direção a um militar e acabou abatido.
“Como procedimento de segurança, visando a proteger a integridade física do militar e da equipe de tratadores, foi realizado um tiro de pistola no animal, que veio a falecer”, afirma a nota divulgada pelo CMA na tarde de segunda-feira (20).
O veterinário Diogo Lagroteria, analista ambiental do Instituto Chico Mendes e que já foi responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas) do Ibama em Manaus, critica a exposição dos animais em eventos: “Quando eu era do Ibama, tentava persuadir a não fazer, até porque esse tipo de atividade é a receita para problema e vai contra tudo o que se diz hoje de bem-estar animal”. Entidades e pessoas que atuam na defesa do bem-estar animal em Manaus já lançaram uma petição, para convencer o Exército a não expor mais onças durante eventos.
Embora não fosse um animal do zoológico, diz Lagroteria, devia haver um plano para tratar de situações de emergência como esta, com armas de tranquilizantes. Mas, para preservar a vida humana, considera que a opção de abatê-la foi correta. “Um animal silvestre, quando está acuado, só tem duas opções, fugir ou atacar. Pelo que disseram, ele estava em cima de uma árvore, onde não tem para onde fugir. Então, ele vai atacar.”
O Comando Militar da Amazônia informou que já foi aberto um inquérito administrativo para apurar o que aconteceu.
– Esta matéria foi originalmente publicada no OEco e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.