A região reúne 23 áreas protegidas e 2 milhões de hectares de floresta. Projetos buscam promover o desenvolvimento sustentável da área.
É grande a distância e difícil o acesso à chamada Calha Norte do rio Amazonas, no noroeste do Pará. E são justamente estes os motivos que garantem a conservação do mosaico de áreas protegidas que formam o Escudo das Guianas, uma das formações geológicas mais antigas do planeta Terra, com 4,5 bilhões de anos, e que se distribuiu entre as Guianas, Venezuela e Brasil.
Localizada no Pará, a Calha Norte representa 12% do Escudo das Guianas. Apenas neste pedaço há 23 áreas protegidas e 2 milhões de hectares de floresta tropical.
Ao todo são 11 Unidades de Conservação (UCs) – das quais 7 estaduais e 4 federais, além de 5 Terras Indígenas (TIs) e 7 Territórios Quilombolas. Para se ter uma ideia da dimensão das áreas protegidas, a Calha Norte equivale aos estados do Paraná e Alagoas juntos.
Este grupo de UCs se conecta com outras no Amapá e Amazonas e, assim, forma o maior corredor do mundo de áreas protegidas e biodiversidade em florestas tropicais. Entretanto, está ameaçado por invasões a UCs pela sua porção sul, e por empreendimentos como hidrelétricas e minerações, inclusive às feitas pelo garimpo ilegal.
“Como essa área toda foi destinada a UCs, além de Terras Indígenas e Territórios Quilombolas, a grande questão é potencializar o desenvolvimento da região que concilie com a conservação da natureza. É a oportunidade de mostrar novos rumos para a Amazônia”, disse Leo Ferreira, coordenador de projetos do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).
Uma cadeia sustentável
Há cinco anos Leo Ferreira se divide entre Piracicaba e a Calha Norte, onde realiza projetos com 35 comunidades quilombolas no município de Oriximiná, com cerca de 60 mil habitantes e maior do que países como Portugal e Dinamarca em extensão territorial.
Ferreira passa 10 dias por mês na floresta. Em um breve momento em que tinha sinal de celular, o coordenador do Imaflora conversou com o Blog do Observatório de UCs.
Ele havia acabado de retornar de uma das comunidades quilombolas incluídas no projeto Florestas de Valor, iniciado em 2009, e voltado a promover atividades econômicas sustentáveis, que incluem produtos florestais não madeireiros e agroecologia.
“Apoiamos empreendimentos como a implantação de quatro unidades de beneficiamento de alimentos para atender a merenda escolar. Também apoiamos a comercialização de óleo de copaíba e produtos florestais como a castanha do Pará e o cumaru. Estamos prospectando outros produtos com potencial junto às comunidades”, disse Ferreira.
Tanto o óleo de copaíba como a semente cumaru têm propriedades medicinais e são ingredientes muito apreciados pela indústria de cosméticos. Há dois anos, uma parceria comercial firmada entre as comunidades extrativistas quilombolas e uma empresa de suíça que opera no Brasil já possibilitou a comercialização de 6 mil litros de óleo de copaíba.
Novo modelo de desenvolvimento
Este parece ser um novo modelo de desenvolvimento florestal. Ferreira assegura que 3 mil pessoas na região estão diretamente envolvidas nestas atividades, que também beneficiam de forma indireta outras 20 mil.
“Estamos refinando os estudos para fazer cálculos dos impactos econômicos. Estas atividades são uma motivação para as pessoas. É algo também que valoriza a floresta em pé”.
Ferreira ressalta que esta é uma região em que é incipiente a presença do Estado como fiscal e agente de conservação. Por isso, defende que a melhor forma de conservar a Calha Norte é continuar a desenvolver programas como o Florestas de Valor, que estabelecem parcerias com as comunidades locais de ribeirinhos, quilombolas e indígenas, e que geram um incentivo à conservação.
*Este texto é original do blog Observatório de UCs, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo, e reproduzido no InfoAmazonia através de um acordo para compartilhar conteúdo.