MPF abriu inquérito para apurar denúncias. Irregularidade foi flagrada em fotografias aéreas e publicada no site Olhar Direto.
Enormes troncos boiam no reservatório da Usina Hidrelétrica de Teles Pires, construída no rio de mesmo nome entre os municípios de Paranaíta, no Mato Grosso e Jacareacanga, no Pará. Pelo céu, são observadas vegetação ainda verde encoberta pela água do reservatório recém cheio. A usina começou a operação de enchimento do reservatório em dezembro, semanas após o Ibama dar a licença de operação.
A denúncia partiu de um leitor do site Olhar Direto que sobrevoou a área da usina e constatou um número expressivo de toras boiando e árvores submersas. As fotos são da primeira semana de janeiro. A usina finalizou o processo de enchimento do reservatório no dia 10 de janeiro.
Se confirmado, trata-se um crime ambiental grave. Árvores submersas são uma bomba para o clima: o material orgânico decomposto de transforma em dióxido de carbono e em metano, um gás 10 vezes mais poderoso que o CO2. A hidrelétrica de Balbina é um exemplo claro dessa história: lá também não retiraram a vegetação do reservatório. O final da história é conhecido. A hidrelétrica se transformou em uma fábrica mais poluente que uma termoelétrica a carvão, como mostra a reportagem de Vandré Fonseca.
Veja algumas das imagens
Outro lado
Através da Assessoria de Imprensa, a Companhia Hidrelétrica Teles Pires, responsável pela construção da usina, informou que todos os procedimentos antes do enchimento do reservatório foram feitos com a anuência do Ibama.
A assessoria de imprensa encaminhou uma nota na manhã desta sexta (30) se defendendo. Leia Abaixo:
A Companhia Hidrelétrica Teles Pires (CHTP), realizou antes do enchimento do reservatório, o Estudo de Modelagem da Qualidade da Água, que indicou as áreas a serem suprimidas. Em seguida, foi executado o trabalho de supressão vegetal, que incluiu o corte e a retirada do material lenhoso das áreas definidas pelo Estudo de Modelagem da Qualidade da Água.
Ao todo, quatro empresas foram contratadas para realizar o trabalho de supressão, tanto no canteiro de obras quanto no reservatório. Essa limpeza foi executada conforme as orientações definidas no Estudo de Modelagem da Qualidade da Água, e nas autorizações de supressão da vegetação (ASV’s) aprovados pelo Ibama.
Já o material lenhoso, retirado das áreas suprimidas, foi direcionado para os pátios de estocagem e encontra-se aguardando a inspeção e liberação pelo órgão licenciador, Ibama-MT, que indicará a sua destinação final.
Em algumas áreas, não houve a necessidade de suprimir a vegetação. Esse procedimento foi importante, entre outros fatores, para garantir a fuga e o resgate de animais; a manutenção e estabilização das encostas e barrancos no entorno do lago; além de servir de berçário para os futuros peixes do reservatório.
Apenas depois de perguntada pela reportagem se a empresa iria retirar a madeira que aparece boiando no lago do reservatório foi que a assessoria afirmou que as mesmas já haviam sido retiradas pela empresa.
O Ministério Público Federal de Mato Grosso (MPF/MT) abriu inquérito para apurar as supostas irregularidades.
Procurado desde a segunda-feira (26), até o fechamento dessa edição o Ibama não havia se pronunciado.
– Esta matéria foi originalmente publicada no O Eco e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.