Preocupados com a atual crise hídrica no Brasil, profissionais de diversas disciplinas se reuniram no evento “Hackatona: dados e sensores para medir a qualidade da água”, promovido pela equipe da Rede InfoAmazonia, plataforma de dados e mapeamento focada na maior floresta tropical do mundo.
O objetivo dos dois encontros, realizados em São Paulo nos dias 5 e 15 de setembro, foi discutir formas alternativas de monitoramento da qualidade da água (como sensores de baixo custo) e de difundir esses dados de maneira eficaz e transparente.
O primeiro encontro foi focado na Amazônia e o segundo na crise da água em São Paulo. Ao todo, participaram 60 pessoas, entre acadêmicos, consultores na área de recursos hídricos, programadores, jornalistas e ativistas, que se dividiram em duas trilhas de pesquisa: desenvolvimento de hardware livre e uso de dados públicos.
A trilha de hardware foi liderada por Ricardo Guima, pesquisador e desenvolvedor de hardware livre. Para Guima, a criação de sensores de baixo custo é um desafio frente aos equipamentos patenteados que hoje são utilizados para monitoramento do meio ambiente. Ele acredita que o desenvolvimento desses sensores garante a transparência dos dados desde a captura até a publicação.
Já a trilha de dados públicos foi coordenada pelo jornalista Gustavo Faleiros, da InfoAmazonia. O grupo de trabalho buscou relacionar bases de dados públicas de saúde e saneamento e disponibilizá-las na internet por meio de mapas e infográficos. O trabalho deu origem aos portais Visaguas e mananciais.tk, realização dos desenvolvedores da InfoAmazonia Miguel Peixe e Vitor George. Os dois aplicativos fazem acompanhamento de dados da qualidade e disponibilidade da água na Amazônia e em São Paulo, respectivamente.
Os ativistas Rodrigo de Luna e Maru Whately apresentaram a plataforma “Cidade Democrática” como exemplo de participação cidadã em políticas públicas, como aquelas relacionadas à crise da água em São Paulo, além de mostrar como a visualização de dados pode ser um fator decisivo para articulação e fomento de propostas.
Desenvolvimento de sensores
Nos encontros, foram discutidas metodologias de análise da água que utilizam uma amostra maior do que aquelas atualmente empregadas pelos órgãos oficiais da Amazônia Legal.
A discussão foi orientada por especialistas em monitoramento de qualidade da água e por meio da literatura de ciência cidadã disponível na internet, a qual descreve projetos semelhantes que passaram por obstáculos já conhecidos daqueles que trabalham com sensores.
Alguns participantes chegaram à conclusão de que sistemas de sensoriamento autônomo, por ficarem expostos às intempéries da natureza, encontram dificuldades em seguir padrões rigorosos de coleta de dados. Por exemplo, o fato de ter que deixar o eletrodo químico para leitura de pH na água por aproximadamente um mês, sem manutenção ou limpeza, aumenta consideravelmente a imprecisão dos dados adquiridos. Ricardo Guima conta alternativas apresentadas pelo grupo para contornar o problema:
“Foi sugerido um sistema capaz de bombear um volume de água em uma câmara interna da caixa do sensor e decidimos investigar tecnologias que solucionem a leitura de dados a partir de técnicas in vitro. O projeto ganhou cara de um microlaboratório de espectrometria (técnica que utiliza a luz para medir concentrações em soluções por meio da interação da luz com a matéria). Para muitos dos colaboradores de São Paulo, que desejavam um sistema para análise da própria água em casa, a solução é viável, mas colocar um microlaboratório de espectrometria à deriva em um rio, lago ou reservatório, é um desafio. O sistema precisaria de uma colaboração mínima da comunidade local.”
Com lançamento previsto para o final deste ano, o InfoAmazonia projetou um hardware que utiliza sensores menos complexos e que podem atender aos padrões mínimos de coleta de dados exigidos. De acordo com Gustavo Faleiros, será possível articular com as comunidades locais um grupo para analisar a água utilizando este sensor.