Operação revela sofisticação do grupo que pratica desmatamento e grilagem para pecuária e soja no sudoeste do Pará. Principal suspeito é pecuarista de SP.
Menos de uma semana após o assassinato do policial João Luiz de Maria Pereira, morto durante operação de combate ao desmatamento e garimpo do IBAMA na Floresta Nacional do Jamanxim (PA), a Polícia Federal desarticulou nesta quinta-feira (30), quadrilha que atuava com grilagem de terra e desmatamento na região de Castelo dos Sonhos e Novo Progresso, no sudoeste do Pará. Segundo informou a Polícia Federal, a organização criminosa se dividia em várias camadas e tinha como objetivo atividades como criação de gado e cultivos de soja e arroz. O segundo passo da operação é chegar nas empresas por trás das atividades agropecuárias nas fazendas ilegais.
O principal investigado é Antonio José Junqueira Vilela Filho, pecuarista de São Paulo, considerado foragido. Ele comandaria uma quadrilha, com tarefas divididas de maneira tão sofisticada, que parece uma grande empresa. Junqueira é dono da Sociedade Comercial AJJ LTDA, uma empresa sediada na cidade de São Paulo, na região dos Jardins, cuja atividade é a criação de bovinos para corte.
No seu site, a PF disse que o grupo desmatou, entre os anos de 2012 e 2014, mais de 29 mil hectares de floresta, a maior parte a leste da rodovia BR-163, uma área semelhante a de Belo Horizonte ou a do Parque Nacional de Itatiaia. A multa do IBAMA neste caso chega a R$ 119 milhões. No total, a quadrilha movimentou mais de R$ 1 bilhão entre os anos de 2012 e 2015. Ela é acusada dos crimes de organização criminosa, desmatamento ilegal, grilagem de terras públicas federais e falsificação de documentos.
A região já foi alvo de operação semelhante em 2014, quando foi desmantelada a quadrilha comandada por Ezequiel Castanha, que atuava em Altamira e Novo Progresso, área que concentrou 10% de todo o desmatamento da Amazônia entre os anos de 2012 e 2014, segundo o Ministério Público Federal do Pará. O grupo de Castanha invadia terras públicas para criar fazendas ilegais que chegavam a ser vendidas ilegalmente por até R$20 milhões. Castanha cumpriu tempo de prisão, mas agora foi posto em liberdade e circula em Novo Progresso usando tornozeleira eletrônica.
A operação se chama Rios Voadores, em referência às correntes de ar que carregam umidade da Amazônia e formam parte das chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Além de 95 policiais federais, inclui o Ministério Público Federal, Receita Federal e o próprio IBAMA, para cumprir 51 medidas judiciais, 24 prisões preventivas, 9 conduções coercitivas e 19 mandatos de busca e apreensão em Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira (PA), Novo Progresso (PA), além de ramificações nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Crime Organizado
O desmate e a grilagem — fraudes para obter títulos ilegais de terra — começam com a escolha da área e a contratação, através de pessoas apelidadas de “Gatos”, da mão-de-obra que abre a mata com motosserras, tratores e correntões. A quadrilha vende a madeira nobre que consegue extrair, queima o que sobrou e joga sementes de capim para iniciar um pasto. A terra é dividida em áreas menores, entregues a “laranjas”, que atuarão como se fossem os posseiros. Isso facilita o processo de legalização das áreas, junto ao INCRA, e dissimula a organização por trás da ação.
O gado colocado na propriedade pode vir de um arrendatário, que impede outras ocupações da área e a regeneração da mata, além de reforçar a impressão de ausência de uma organização criminosa por trás de toda a ação. Na realidade, trata-se de uma operação complexa envolvendo financiadores e compradores ilegais, que, por trás dos “laranjas”, se tornam os donos de fato dessas áreas desmatadas.
Ao descrever a quadrilha, a PF a dividiu em quatro núcleos: (1) Operacional, inclui os “Gatos” que comandam o desmatamento, gerentes que administram a fazenda, técnicos que delimitam a área e fraudam o Cadastro Ambiental Rural, e os “laranjas” que assumem a posse da terra; (2) Financeiro custeava a operação de desmatamento; (3) Familiar promovia a lavagem de dinheiro através de negócios com fachada legalizada; (4) Compradores Ilegais, pecuaristas que adquirem a terra da quadrilha e se escondem atrás dos “laranjas”. (veja o infográfico)
– Esta matéria foi originalmente publicada no OEco e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.