Depois do alto índice de poluição registrado na cidade, Governo do Amazonas cria às pressas centro para combater as queimadas.
O coordenador do Programa de Monitoramento de Queimadas e Incêndios Florestais por satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Alberto Setzer, disse em entrevista exclusiva à Amazônia Real, que a fumaça que encobriu Manaus nos últimos três dias foi em decorrência das queimadas que acontecem nos municípios vizinhos da capital amazonense. O governo do Amazonas atribuiu a fumaça com sendo proveniente principalmente de queimadas que ocorriam no Pará.
“A fumaça na atmosfera de Manaus é proveniente dos municípios vizinhos da capital do Amazonas e decorreu das queimadas dos últimos três dias. Não adianta colocar a culpa para mais longe”, afirmou Alberto Setzer.
O Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas), órgão ambiental do governo estadual, divulgou para imprensa de Manaus nota no dia 1o. de outubro onde afirmava que “a fumaça que encobriu (a cidade) e que teve início na noite da quarta-feira (30/09), por conta dos ventos, a maior parte da mesma viria do oeste do Pará”.
Como publicou a Amazônia Real, a intensificação das queimadas no Amazonas ocorreu a partir do mês de agosto, mas em setembro o Inpe registrou um recorde: 5.882 focos de calor, o que representou aumento de 95% em relação a todo o mês de setembro do ano passado, quando houve 3.057 focos.
A fumaça produzida por essas queimadas é transportada pelos ventos para várias partes do Amazonas. O coordenador do Inpe disse que, no caso de Manaus, ela veio dos municípios vizinhos, entre eles, Autazes, Careiro, Careiro da Várzea, Manaquiri, Manacapuru e Itacoatiara. Essas cidades pertencem à região metropolitana da capital.
Alberto Setzer destacou que neste ano de 2015, o Amazonas apresentou um recorde de detecções de queima de vegetação feitas por satélites, conforme a série histórica. O Inpe monitora queimadas na Amazônia desde 1998.
De janeiro a setembro deste ano, foram registrados 11.104 focos de queimadas no Estado do Amazonas, um crescimento de 49% em comparação ao mesmo período de 2014, quando foram detectados 7.401 focos.
O coordenador do Programa de Monitoramento de Queimadas e Incêndios Florestais do Inpe afirmou, que até então, o maior número de queimadas registrado no Amazonas foi em 2014, com 9.322 focos.
Nesta sexta-feira (02/10), a reportagem da Amazônia Real acompanhou via internet o monitoramento e a evolução dos focos das queimadas no Amazonas com a orientação do coordenador Alberto Setzer As imagens são transmitidas pelos satélites da NASA aos equipamentos do Inpe. Podem ser acessadas em tempo real por qualquer pessoa pelo site do órgão federal.
No site do Inpe é possível observar que as queimadas entre os dias 30 de setembro e 02 de outubro estavam concentradas principalmente a leste, ao sul e a oeste de Manaus.
Na quarta-feira (30/09), os oito satélites detectaram 1.117 focos de queimadas no Amazonas. Destes, 257 foram registrados no município de Careiro; 115 em Autazes; 102 em Manacapuru; 62 em Manaquiri; 61 em Lábrea; 57 em Boca do Acre; 49 no Careiro da Várzea; 46 em Itacoatiara; 38 em Maués e, 33 em Silves.
Na quinta-feira (01/10), o número de queimadas reduziu para 469 focos no Amazonas. Foram detectados 46 focos em Lábrea; 40 em Barreirinha; 32 em Silves; 25 em Canutama; 23 em Caapiranga e 22 em Urucurituba, entre outros. Nesta sexta-feira (02/10), o número caiu quase 90%. O Inpe detectou 36 focos, sendo que dez foram em Manacapuru.
“O município (Manaus) em si não está com muitos problemas. São os vizinhos de Manaus que estão com essa situação (de queimadas). Nesses municípios se percebe que são áreas de ocupação humana. Tirando Lábrea e Boca do Acre, o resto todo é pertinho (de Manaus)”, disse Setzer.
“Por outro lado, as queimadas urbanas de lixo e vegetação não podem ser desprezadas. Como temos acompanhado, este verão amazônico também tem sido crítico para os manauenses”, complementou o coordenador do Inpe .
Sobre as atuais queimadas nas proximidades de Manaus, o monitoramento da Amazônia Real junto com Alberto Setzer identificou ainda que há focos em Unidades de Conservação (UC´s), administradas pelo Governo do Amazonas, no interior e no entorno delas.
É o caso da APA (Área de Proteção Ambiental) Caverna do Maroaga,em Presidente Figueiredo, e a RDS (Reserva do Desenvolvimento Sustentável) do Rio Negro, localizada entre os municípios de Iranduba e Novo Airão.
A RDS do Rio Negro, onde foram detectados focos de queimadas em seu interior, foi criada em 2008 pelo governo do Amazonas. As famílias que vivem no local recebem ações sociais e de gestão e recursos do Bolsa Floresta, um programa criado pela ong público-privada Fundação Amazonas Sustentável (FAS), justamente para não desmatar, como uma espécie de pagamento por serviços ambientais.
“Essa fumaça não é imaginária, ela existe. Todas as detecções também existem. Estamos com 50% a mais do que ano passado (no Amazonas), que já foi um ano de muitas queimadas. Isso indica que as coisas estão queimando mais do que no passado. Existe uma realidade. Agora, o que está por trás dessa realidade é bem mais complexo. Com certeza, podemos dizer que todos esses casos são contravenções ambientais”, declarou Alberto Setzer à Amazônia Real.
Queimadas se agravaram a partir de agosto
Segundo Inpe, a média de queimadas em setembro no Amazonas é de 1.392 focos, sendo que a máxima era de 3.091 focos, registrada em 2009. Em setembro deste ano, o Amazonas registrou 5.882 focos de queimadas. Agosto também registrou queimadas acima da média. Em 2015, foram 4.548 focos. A máxima era de 3.852, registrada em 2014.
Para Alberto Setzer, o que está acontecendo é um “grande descontrole do fogo na vegetação” que precisa ser observado.
Os focos de queimadas e incêndios florestais no Amazonas começaram a se agravar em agosto, sobretudo em cidades do sul do Estado, como Lábrea e Humaitá.
Um incêndio florestal queimou 5.517 hectares do Parque Nacional Campos Amazônicos, unidade de conservação federal no sul do Amazonas, e 6.783 hectares da Terra Indígena Tenharim Marmelos, segundo o superintendente do Ibama no Amazonas, Mário Lúcio Reis. O incêndio durou quase uma semana. Brigadas do Ibama levaram três dias para apagar as chamas.
Segundo Mário Lúcio Reis, o Ibama colocou suas brigadas à disposição do governo do Amazonas para atuar no combate às atuais queimadas. Ele disse que as ações de combate do Ibama ao fogo no Estado ocorrem apenas em grandes incêndios florestais, com duração de três a cinco dias. No caso dos municípios próximos a Manaus, ele afirmou que cabe ao Governo do Amazonas executar as ações de combate as queimadas.
“Nossa ação é no sul do Amazonas, onde estão os municípios do arco do desmatamento. O Ibama atua em cidades como Apuí, Humaitá, Canutama, Boca do Acre. Temos brigadas do Prev-Fogo lá”, disse Reis.
A reportagem também analisou as informações do Boletim de Monitoramento de Focos de Calor na Amazônia realizado pelo Ibama com base em dados do Inpe.
O Ibama levantou as ocorrências de focos de calor detectados de 30 de setembro a 02 de outubro. O órgão confirmou a presença de queimadas em 33 dos 62 municípios do Amazonas.
Segundo o instituto, a quantidade total de focos analisados dá a dimensão dos eventos monitorados. Na lista estão os municípios de Careiro (com um total 354 focos), Lábrea (233), Autazes (226), Manacapuru (204), Careiro da Várzea (116), Manaquiri (110), Presidente Figueiredo (94), Coari (89), Itacoatiara (88), Barreirinha (85), Maués ( 84), Novo Aripuanã (83), Silves (79), Borba (64), Caapiranga (59), São Sebastião do Uatumã (51), Parintins (50), Humaitá (48), Boa Vista do Ramos (42), Iranduba (38), Manicoré (36), Novo Airão (36), Barcelos (32), Apuí (31), Urucurituba (30), Jutaí (26), Nhamundá (26), Anori (21), Rio Preto da Eva (19), Manaus (14), Urucará (13), Itapiranga (11) e Tapauá (11).
Ipaam mantém Pará como autor da fumaça
Em nota enviada à Amazônia Real nesta sexta-feira (02/10), o Ipaam afirmou que a fumaça em Manaus é proveniente “de mais de 47 mil focos de calor existentes em toda a Amazônia Legal, composta por nove estados”. Desse número, diz o Ipaam, “o Amazonas apresenta em torno de 5 mil focos”.
O Ipaam manteve na nota a responsabilidade das queimadas no Pará pela emissão de fumaça para Manaus e atribuiu a fonte da informação ao próprio Inpe.
“A informação repassada de que queimadas na Amazônia Legal, inclusive no oeste do Pará, de uma forma geral colaboraram para a fumaça que presenciamos, é fruto de análise do cenário geoprocessado pelo Inpe”, disse o Ipaam.
O Ipaam informou que as frentes de trabalho no combate às queimadas estão concentradas no sul do Estado, apontado como a área mais crítica pelo órgão, na região metropolitana de Manaus e na RDS Rio Negro. O órgão não citou os municípios do sul do Amazonas onde está atuando.
“É nesta região que acontece desde o início de setembro uma operação de combate às queimadas, junto com outros parceiros, como Ibama e Corpo de Bombeiros”, diz o órgão.
O Ipaam afirmou na nota que também “há os focos de queimadas na Região Metropolitana que engloba, entre outros municípios, Iranduba, Novo Airão e Manacapuru”.
Amazonas cria centro de combate às queimadas
Nesta sexta-feira, o Governo do Amazonas anunciou a criação do Centro Integrado de Multiagências para o Combate às Queimadas no Amazonas (CIMAAM). A partir deste sábado (03) uma grande operação de monitoramento, combate e fiscalização dos focos de calor será realizada na Região Metropolitana de Manaus.
A medida ocorre sete meses depois que o governador José Melo (Pros) cortou 88% do orçamento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS) (saiba mais aqui), demitiu funcionários de cargos comissionados e extinguiu órgãos importantes que poderiam prever e monitorar as queimadas e incêndios florestais no Amazonas, como o CEUC (Centro Estadual de Unidades de Conservação) e a Unidade Gestora do Centro Estadual de Mudanças Climáticas, a Secretaria Adjunta de Compensação e a Secretaria Adjunta de Floresta.
A SDS perdeu até o status do nome. Passou a ser denominada de Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), pois a ação de desenvolvimento sustentável foi transferida para a Sepror (Secretaria de Estado de Produção Rural), que cuida do agronegócio.
O novo centro CIMAAM (é formado por representantes do Ipaam, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Defesa Civil do Amazonas, Corpo de Bombeiros, Batalhão Ambiental e Polícia Militar.
Segundo o governo do Amazonas, as equipes vão se concentrar nas áreas de Iranduba, Novo Airão e Manacapuru, onde estão concentrados os maiores índices de queimadas próximas à capital.
Bombeiros apagam 16 incêndios florestais
Em entrevista à Amazônia Real, o tenente Janderson Lopes, do Corpo de Bombeiros, disse que entre os dias 28 e 29 de setembro, foram registradas 16 queimadas em terrenos na zona urbana de Manaus.
Equipes e bombeiros atuam também nos municípios de Coari, Anori, Anamã, Itacoatiara e Rio Preto da Eva. Nesta sexta-feira (02/10), os bombeiros começaram a deixar o município de Caapiranga, onde apagaram um grande incêndio florestal.
Segundo o tenente Janderson, nessas cidades não há bombeiros. Neste caso são as equipes de bombeiros de Manaus que precisam ser deslocadas para os municípios. Desde que se intensificaram as queimadas no Amazonas o Corpo de Bombeiros atua com 12 homens no combate aos incêndios.
– Esta matéria foi originalmente publicada no Amazônia Real e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.