Santarém, cidade do estado do Pará, é uma pacata testemunha do longo namoro entre dois deuses da Amazônia. Dois rios que com seus meandros brincam entre a floresta por milhares de quilômetros. É frente a este auditório, de quase trezentos mil espectadores-habitantes, que acontece o encontro final de dois dos maiores rios do planeta, o Tapajós e o Amazonas, que seguem juntos, agora dando mais vida a um rio ainda maior, que dali segue até o oceano Atlântico. Como sempre, na Amazônia, os rios são determinantes para a vida, ou para a morte.
Em Santarém, assim como em outras cidades e comunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira, não se sabe ao certo quem poderia estar consumindo água contaminada. A contaminação ocorre devida à veloz urbanização, sem controle e sem planejamento, causando uma forte pressão sobre os recursos naturais e provocando doenças e novos problemas para a população local.
Por isso, ali, no encontro do Tapajós com o Amazonas, é onde começou o trabalho de campo do projeto Rede InfoAmazônia.
“Nosso objetivo é monitorar a qualidade da água e oferecer aos cidadãos informação real para que eles possam exigir às lideranças seu direito à saúde”, explica Ricardo Guimarães, mais conhecido como Guima San, pesquisador da equipe do projeto Rede InfoAmazônia.
Democratização da informação sobre a qualidade da água que usam os ribeirinhos é o que procura o projeto. O Rede InfoAmazônia é um dos ganhadores do Desafio de Impacto Social promovido pelo Google no Brasil. O projeto instalará 25 sensores de baixo custo na Amazônia brasileira para fazer um mapeamento sobre a qualidade da água para consumo humano, medindo alguns parâmetros físico-químicos. Uma vez feita a avaliação destes fatores e o tratamento dos dados, a informação será disponibilizada ao público, de forma direta, através de torpedos SMS, e também aos governos e lideranças locais.
Essa informação é de alta importância para a saúde e a vida da população ribeirinha, já que eles vivem dia a dia e em uma dependência quase total dos rios e suas águas. Esse foi também um dos motivos pelos quais o projeto Rede InfoAmazônia decidiu realizar três oficinas com grupos de habitantes de comunidades ribeirinhas, coordenados pela organização não governamental Saúde e Alegria e pelas Secretarias Municipais de Meio Ambiente de Santarém e de Belterra.
Experiências com o protótipo do sensor
Estamos no começo de março, uma madrugada de muita chuva, mas também com muito calor, coisa bem normal nesta época na região. São às 5 da manhã e chegamos a esta cidade três membros da equipe do InfoAmazônia: VJ Pixel, Guima Sam e Giovanny. A razão da viagem: mobilizar voluntários para participar da experiência piloto do projeto Rede InfoAmazônia.
Nos sete dias que durou o percurso, foram visitadas organizações e lideranças da região para pesquisar, com eles, lugares onde realizar o monitoramento da água. Com o apoio das prefeituras locais, foram realizadas duas oficinas de jornalismo cidadão, meio ambiente e cidadania em Santarém, e uma em Belterra, com uma participação de quase 100 participantes, entre ribeirinhos, lideranças, jovens voluntários e membros de ONGs
As oficinas se caracterizaram pelo engajamento dos participantes, e mais ainda quando eles mesmos puderam fazer testes da qualidade da água, usando kits comerciais de monitoramento. Foram eles que escolheram lugares para recolher amostras de água para verificar seu estado.
Com a ajuda do instrutor Guima San, os participantes realizaram testes das mesmas amostras com o sensor criado pelo projeto Rede InfoAmazônia. Assim foi possível demonstrar as variações de parâmetros observadas no kit comercial e confirmá-las com o sensor do projeto.
Comunidades contanto suas próprias histórias
As oficinas de monitoramento da qualidade da água foram feitas para lideranças de sete comunidades ribeirinhas de Santarém, seis na bacia do Amazonas (Pixuna do Tapará, Nova Vista do Ituqui, São Josẽ do Ituqui, Pixuna do Tapará, Igarapé da Praia e Castela) e uma do Tapajós (Alter do Chão).
Como resultado foi criada uma lista de voluntários interessados em serem monitores dos sensores de qualidade de água que serão instalados em 20 comunidades. Com o treinamento básico para contar suas histórias, foram escritas seis notícias positivas ocorridas nas comunidades participantes. Confira a visualização abaixo: