Análise mostra como a destruição da floresta cresce a partir do sul do estado, antes um dos mais preservados

Sul do Amazonas é nova fronteira do desmatamento da Amazônia

DESMATAMENTO
O desmatamento da Amazônia disparou entre agosto de 2020 e julho de 2021, última taxa do sistema Prodes, do Inpe.
Foram 13,2 mil km² de florestas perdidas - área 22% maior que a do período anterior.

Antes um dos mais preservados, o Amazonas assumiu o segundo lugar entre os estados líderes em desmatamento da Amazônia, atrás do Pará e tomando a posição histórica de Mato Grosso.
Análise feita pelo IPAM para o InfoAmazonia e PlenaMata, com base nos dados do INPE, revela que o desmate se concentra em uma região entre o Amazonas, Acre e Rondônia conhecida como Amacro (iniciais dos 3 estados).
Nos últimos cinco anos, essa região foi responsável por
77%
do desmatamento em Rondônia
63%
no Acre
82%
no Amazonas
Hoje seu nome mudou para ZDS Abunã-Madeira.
O desmatamento entre 2017 e 2020 foi crescendo a partir do sul do Amazonas e se concentrou na Amacro, em 2021.
A Amacro foi responsável por 83% do desmatamento em 2021 no estado do Amazonas, que cresceu também devido à recuperação da BR-319.
Esta região recebeu apoio oficial do governo Bolsonaro para se tornar uma “zona de desenvolvimento sustentável (ZDS)” e se tornou um epicentro da grilagem de terras.
454 mil km²
35 abatedouros
8 milhões de bois
1,7 milhão de pessoas
AMACRO
Grandes áreas griladas e desmatadas para exploração madeireira, pecuária e outras atividades apontam para uma criminalidade bem capitalizada e que tem ‘vida mansa’ graças ao descontrole governamental sobre o uso do território, onde disparam as derrubadas e a violência no campo.
Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam
DESMATAMENTO NA AMACRO
46% em florestas públicas não destinadas
32% em assentamentos
15% em áreas privadas

Os assentamentos de reforma agrária foram a segunda área mais desmatada, representando 32% do total derrubado na região da Amacro no Amazonas.

O Projeto de Assentamento (PA) Rio Juma, em Apuí, foi o mais desmatado em 2021
na Amazônia inteira, com 246 km² de florestas derrubadas.
O Juma vem sendo o assentamento mais desmatado de toda a região desde 2017
e em 2021, segundo a análise do IPAM.
Com quase 7mil km², o projeto de assentamento surgiu nos anos 1980 para ampliar a ocupação humana da Amazônia. Mas até hoje não foi implantado: apenas 17,6% de sua área está titulada e mais de 50% está ilegalmente ocupada por fazendeiros.
É preciso resolver urgentemente a falta de governança sobre terras públicas na Amazônia antes que mais desmatamento, invasões e outros crimes sejam consolidados e politicamente tolerados. Não é só ausência de controle, é uma autorização para que tudo siga como está.
Afonso Chagas, do Departamento de Ciências Sociais na Universidade Federal de Rondônia
A escalada do desmatamento na Amazônia fere preceitos constitucionais pela defesa da natureza e de povos tradicionais, além de pôr em xeque compromissos internacionais para proteger florestas e reduzir a emissão de gases-estufa.
REPORTAGEM
Aldem Bourscheit

EDIÇÃO
Sílvia Lisboa e Juliana Mori

MAPAS
Carolina Passos

DADOS
Análise do IPAM, a partir dos dados brutos do INPE

MONTAGEM
Laiza Lopes

IDENTIDADE VISUAL
Clara Borges