Rebanho regional já representa 40% do nacional e desafia corte das emissões de metano
O crescimento explosivo da boiada na Amazônia
AGROPECUÁRIA
O rebanho bovino cresceu 20 vezes mais na Amazônia Legal do que no restante do país. Desde 1974, quando o IBGE começou o monitoramento, a boiada aumentou 984% nos municípios dos estados amazônicos contra 49% nas demais cidades brasileiras.
O rebanho atual soma 218 milhões de cabeças no país, mais que os 213 milhões de brasileiros.
Saltou de 8,5 milhões em 1974 para 93 milhões de animais em 2020 – quase 43% do rebanho nacional.
Entre 2004 e 2020, a boiada aumentou 30% na Amazônia Legal, enquanto nas outras regiões do Brasil encolheu 6%.
Nessas duas décadas, a Amazônia brasileira perdeu 197 mil km² de florestas, área equivalente à do Paraná, sobretudo para a abertura de pastagens. Estudo do IPAM mostra que pastagens ocupam 75% da área desmatada em terras públicas na região.
“O principal câncer do desmatamento no país é a destruição de florestas públicas não destinadas para a formação de pastagens. Voltamos ao patamar de dois dígitos de desmatamento nos últimos dois anos na Amazônia, região onde mais cresce a agropecuária nacional.”
Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

Estados com mais bois no país
23,6 mi
Goiás
22,3 mi
Pará
32,7 mi
Mato Grosso
Nos municípios paraenses de São Félix do Xingu e Marabá estão o 1º e o 3º maior rebanho do país, somando 3,7 milhões de cabeças.
“A política de incentivos fiscais se tornou a maior fonte de financiamento do desmatamento para a formação de pastagens e da pecuária nos vastos territórios da Amazônia.”
André Cutrim, economista e professor na UFPA

Essa expansão foi incentivada pela ditadura militar, cujo lema para a Amazônia era “ocupar para não entregar”.
Conforme o Observatório do Clima, as emissões de metano bovino somam
17%
de todos os gases de efeito estufa lançados no país
O metano é emitido pelo pum e arroto da boiada durante a digestão.
O tamanho do rebanho desafia a meta firmada pelo Brasil na COP26 para reduzir em 30% as emissões de metano até 2030.
“Os efeitos da redução das emissões de metano contra o aquecimento global podem ser percebidos em um prazo mais curto. Enquanto o gás carbônico demora milhares de anos para se dissolver na atmosfera, isso ocorre em apenas 11 anos no caso do metano.”
Paulo Artaxo, físico, professor da USP e colunista no plenamata.eco
REPORTAGEM
Aldem Bourscheit

EDIÇÃO
Sílvia Lisboa MAPAS E GRÁFICOS Bruno Vianna

IMAGENS Alexandre Cruz Noronha (Amazônia Real)

MONTAGEM
Laiza Lopes

IDENTIDADE VISUAL
Clara Borges