Defender os rios, montanhas, florestas e rios da América Latina nunca foi tão perigoso.

Seis dos 10 países mais hostis para líderes e comunidades que defendem o meio ambiente e suas terras, citados no relatório que o relator especial das Nações Unidas sobre a situação de defensores de direitos humanos apresentou em 2016 estão na América Latina.

Por isso, uma equipe de 30 jornalistas, desenvolvedores, fotógrafos e videomakers de sete países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, México e Peru) se reuniu para investigar episódios de violência contra líderes ambientais e suas comunidades.

O resultado desse projeto investigativo, no qual trabalhamos por cinco meses, está associado a um banco de dados com quase 1.400 ataques registrados nos últimos dez anos (2009-2018) e 16 reportagens em profundidade.

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Oito das reportagens feitam relatam violência contra líderes na Amazônia, que têm enfrentado interesses de mineração, portos, exploração de petróleo, rodovias, hidrelétricas, tráfico de drogas e comércio de madeira ilegal.  Entre todos os trabalhos, nove  documentam ataques contra comunidades indígenas que buscam salvaguardar suas terras ancestrais, e outro relata esforços similares de povos afrodescendentes. De assassinatos e atentados a perseguição judicial e deslocamento forçado, eles pagaram um preço alto para defender seu direito a um ambiente saudável e proteger os ecossistemas estratégicos no seu território.

Terra de Resistentes é um projecto organizado pelo Consejo de Redacción, uma organização colombiana de jornalistas investigativos, e generosamente financiado pela Deutsche Welle Akademie e pela Cooperação Alemã.

Entre os meios regionais que participam estão Mongabay Latam, Agência Ocote (Guatemala), Convoca.pe (Peru), El Deber (Bolívia), GK (Equador), Infoamazonia (Brasil), México contra a Corrupção e Impunidade (México), El País de Cali, El Tiempo, RCN Notícias e a Silla Vacia (Colômbia).

O projeto recebeu apoio adicional a partir do Pulitzer Center on Crisis Reporting e Rainforest Journalism Fund, Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), da Sociedade Peruana de Direito Ambiental (SPDA), Direito, Meio Ambiente e Recursos Naturais (DAR), a Fundação Pachamama e União Europeia.

É importante ressaltar que não pretendemos ter uma visão completa dos ataques ocorridos no período, uma vez que a subnotificação é grande. No entanto, nosso banco de dados – construído a partir de inúmeras fontes, entre entidades oficiais, arquivos de imprensa, organizações sociais e relatórios de campo – mostra um panorama sombrio.

As reportagens feitas no Brasil

Sitiados pelo Progresso
A construção de um porto de águas profundas na região amazônica do Maranhão, por um consórcio sino-brasileiro que busca aumentar as exportações agrícolas para a China, tem sido marcado por uma longa lista de episódios de violência contra comunidades camponesas na região. onde o projeto é desenvolvido e por causa da suspeita de manobras ilegais para se apropriar de suas terras.
Por Aldem Bourscheit (@AldemBC)


Operação Cerca Índio
2. Duas comunidades indígenas da Amazônia brasileira, que viviam em isolamento até a década de 1970, estão vendo suas terras ancestrais na região de Rondônia cercadas por colonos que extraem madeira ilegalmente, ameaçando-os e recorrendo ao desmatamento para questionar sua posse de terra. Com a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência, a pressão está aumentando.
Por Gustavo Faleiros (@gufalei)

O que encontramos?

Em nossa pesquisa, encontramos 1.179 atos vitimadores contra homens e mulheres e 177 contra comunidades ou organizações que defendem o meio ambiente e o território. Do total, 81,7% ocorreram contra homens, talvez porque eles são os que têm tradicionalmente exercido cargos de liderança, embora foram registrados 216 ataques contra as mulheres – incluindo aqueles que podem ser conhecidos nas histórias sobre Saweto no Peru e Patricia Gualinga no Equador.

De assassinatos e ataques a assédio judicial e deslocamento forçado, estes defensores pagam um preço muito alto por seu direito a um ambiente saudável e por protegerem ecossistemas estratégicos – montanhas, florestas, lagos, rios e zonas úmidas – abrigados em seus territórios.

As minorias étnicas são as maiores vítimas

Alarmantes 56% desses episódios de violência (761 registros) ocorreram contra minorias étnicas, demonstrando que os territórios indígenas e de afrodescendentes (quilombolas) são especialmente vulneráveis ​​a esses interesses criminosos.

Os dados nos mostram todos os tipos de ataques contra indivíduos de 124 diferentes grupos indígenas. Apenas na Colômbia, dos 15 grupos étnicos afetados, onze estão em perigo de extinção.

Nove de nossas reportagens retratam ataques e intimidações contra comunidades indígenas que buscam salvaguardar suas terras ancestrais – os Rarámuri e Odami no México, os Shuar e Kichwa no Equador, o Zenu e Nutabe na Colômbia, os Karipuna e Uru-Eu-Wau-Wau no Brasil, o Trinitarian e Torewa Moxeños na Bolívia e os Ashaninka e Tikuna no Peru.

O banco de dados também mostra 136 episódios de violência contra populações afrodescendentes, equivalentes a 10% dos casos. Uma das histórias conta a resistência de uma comunidade no Pacífico colombiano.

O quê eles defendem e de quê eles se defendem?

Embora em muitos casos os líderes ambientais tentem proteger mais de um recurso natural, nesta investigação levamos em conta o principal recurso defendido por eles.

Da mesma forma, em muitos casos, líderes e comunidades têm se defendido de diferentes tipos de assédios. Em nossa pesquisa, levamos em consideração apenas o principal fator que afeta as comunidades defensoras – da agroindústria, exploração petroleira, mineração, hidrelétricas e estradas, até o tráfico de drogas e comércio ilegal de madeira.

A seguir, estão os tipos de violência contra os líderes que mapeamos com o banco de dados, sem mencionar que em vários casos os líderes ou comunidades que defendem o meio ambiente sofreram mais de uma violência, então decidimos escolher a principal ou a mais atual.

Verificamos que uma porcentagem significativa de ataques ocorreu nas vastas regiões da selva que fez da América Latina ser reconhecida como a região com maior biodiversidade do mundo.

Exatamente a metade de nossas reportagens investigam a violência contra líderes, comunidades e guardas florestais na Amazônia, onde enfrentam todos os tipos de interesses, legais e ilegais.

O dado mais complicado

A informação mais difícil de conseguir foi o status jurídico dos casos. Apenas encontramos dados conclusivos de sentenças (independentemente de serem condenatórias ou absolutórias) em 50 casos (3,68% do total), mostrando que a administração da justiça registra uma das maiores dívidas em ataques contra líderes ambientais. Em muitos desses casos, os julgamentos cobriram os executores mas não os mandantes, como aconteceu com a recente sentença no México pelo assassinato de Isidro Baldenegro, vencedor do Goldman Environmental Prize em 2005.

Igualmente alarmante foi encontrar informações de que, em pelo menos 545 casos (ou 40,19% do total), houve queixas das vítimas e suas comunidades para as autoridades antes dos atos violentos, tanto para instituições estatais como para organismos internacionais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Embora a nossa pesquisa não seja uma medida científica, mas sim jornalística, os dois anos em que encontramos o maior número de episódios de violência foram 2017 (com 14,8% dos casos) e 2016 (com 12,6% deles), evidenciando a gravidade da situação atual. Em relação a 2018, muitas das fontes consultadas ainda não tinham publicado ou consolidado os resultados de suas investigações.

Esses defensores protegem a terra que lhes dá vida, mas também as montanhas que nos fornecem água e as florestas que trazem ar limpo para as cidades. Eles estão sendo ameaçados e mortos. Cada um deles é mais que um número. Estas são as suas histórias de vida, de luta, de resistência.

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