Carlos Augusto da Silva, que trilhou o caminho das escavações de artefatos e peças milenares, agora é doutor em arqueologia pela Universidade Federal do Amazonas.

Filho de um pescador e carpinteiro, Carlos Augusto da Silva, 59, nasceu no município de Manaquiri (a 60 quilômetros de Manaus), no Amazonas. De origem indígena, seus avós eram das etnias Munduruku e Apurinã. Ele tinha apenas o ensino fundamental quando passou no concurso público para auxiliar de serviços gerais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em 1976. No final da década de 60, havia trabalhado como auxiliar de carpinteiro do pai, Clóvis Inácio da Silva (falecido), em obras de ampliação do campus da Ufam. Terminou o ginásio e o segundo grau na década de 80 em uma escola pública de Manaus. Em 1992, ingressou no curso de Ciências Sociais da Ufam.

Quando concluiu o curso de Ciências Sociais, poderia seguir carreira em algumas das áreas de sua graduação, mas ao conhecer o arqueólogo Eduardo Góes Neves, em 1998, professor titular de Arqueologia Brasileira e membro do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), a amizade e parceria entre os dois causaram uma reviravolta nos campos profissional e acadêmico da vida de Silva. Ele passou a trilhar o caminho da arqueologia.

Carlos Augusto da Silva, também conhecido entre os amigos como Tijolo, apelido antigo em referência a uma canção da época da Jovem Guarda que ele costumava assobiar [“você é um tijolinho que faltava na minha construção”, diz trecho], fez mestrado em Ciências do Ambiente com foco em Arqueologia, também na Ufam, em 2010. Em 2013, ele se filiou à Sociedade Brasileira de Arqueologia.

No meio da arqueologia da Amazônia, Silva é um dos pioneiros no resgate de urnas funerárias milenares. Ele já resgatou mais de 70 urnas em quintais, em ruas e em obras púbicas realizadas em Manaus e no interior do Amazonas, muitas delas bastante degradadas pela ação do tempo, ação do homem e pelo desprezo do poder público com o patrimônio arqueológico da cidade.

Os arqueólogos Eduardo Góes Neves e Carlos Augusto da Silva (Foto: Alberto César Araújo/Amreal)

Os arqueólogos Eduardo Góes Neves e Carlos Augusto da Silva em Urucurituba, no Amazonas. (Foto: Alberto César Araújo/Amreal)

No último dia 4 de março, Carlos Augusto da Silva apresentou o resultado de seu trabalho, na defesa de tese de doutorado em arqueologia. Ele teve como orientador o amigo Eduardo Góes Neves, hoje o principal nome no mundo nas pesquisas arqueológicas da Amazônia Central.

A relevância científica trazida pela tese de Silva não se restringiu a um ritual acadêmico de defesa de tese, com banca examinadora e uma plateia atenta. Representou também a conquista acadêmica carregada de emoção, pela beleza do momento e pela importância e ineditismo do trabalho apresentado por ele.

Em 2012, quando ingressou no doutorado no programa de pós-graduação Sociedade e Cultura da Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Carlos Augusto da Silva decidiu se aprofundar na história das peças, das cores, dos desenhos e dos traços encontrados nos objetos cerâmicos do município de Urucurituba (distante a 208 de Manaus).

Ele conheceu o acervo no ano 2000, quando participou de uma expedição científica pelos rios da Amazônia. Em Urucurituba descobriu um grandioso acervo de peças arqueológicas recolhidas desde a década de 70 em uma casa modesta e arborizada, coletadas, mantidas e preservadas voluntariamente pelo professor aposentado da rede pública de ensino do município de Urucurituba, José Alberto Neves, hoje com 77 anos. A expedição comemorava os 200 anos do percurso que o botânico alemão Alexander von Humboldt realizou na região amazônica.

Eram peças as mais diversas, de cuias a alguidares, de colheres a panelas, de potes a urnas funerárias. Havia muitos fragmentos, pedaços desgastados. Mas também muitas peças intactas.

Acervo do Museu Pindorama. (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)

Acervo do Museu Pindorama. (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)

Influenciado por leituras de pesquisadores – entre botânicos, padres missionários, antropólogos, arqueólogos, etc – que trabalharam e moraram na Amazônia, nomes da envergadura de João Barbosa Rodrigues, Gaspar de Carvajal, Padre João Daniel, Charles Frederico Hartt e Curt Nimuendajú, Silva descobriu que as peças eram mais do que objetos utilitários. Eram a própria identificação do cotidiano das populações pré-colombianas, cujos desenhos e pinturas tinham correlação direta com as pinturas e com as incisões (hoje podemos chamar de tatuagens) encontradas nos corpos enfeitados de homens e mulheres das populações ameríndias. Muitos dos desenhos eram inspirados nos formatos e nas cores dos peixes amazônicos.

Este ano, Carlos Augusto da Silva completa 40 anos como servidor público, mas nem pensa em se aposentar. “Estou muito bem de saúde”. Ele divide seu trabalho entre as atividades administrativas no Centro de Ciências do Meio Ambiente, e a Divisão de Arqueologia da Ufam, onde é voluntário. Leia a entrevista exclusiva do arqueólogo abaixo:

Amazônia Real – Sobre o que trata sua tese de doutorado?

Carlos Augusto da Silva – Trabalhei com a pintura da cerâmica voltada para o desenho corporal da sociedade indígena. A cor que tem na cerâmica do sítio Urucurituba aparece em corpos principalmente dos povos Munduruku e Parintintin. São corpos tatuados, riscados com dente de paca ou espinho de tucumã [fruto de uma palmeira amazônica] e pintados com tinta de jenipapo ou cumacê. Com cores avermelhada ou azul escuro.

Amazônia Real – O que a coleção tem de importante para descrever a Amazônia pré-colombiana?

Carlos Augusto da Silva – A coleção são as vozes pré-colombianas da Amazônia. Cada artefato representa um olhar e o respeito pelas vidas. E essas vidas estão associadas ao ecossistema da região e ao ser humano que aqui vivia. A Amazônia teve vários canais de comunicação. Percebi durante as análises essas conexões.

Para mim, portanto, as peças dessa coleção são as digitais de cada indivíduo que olhou e fabricou suas peças e usou e deixou essa história. Para mim é uma grande história dessas populações grafadas na cor da cerâmica e nas incisões dos corpos.

A pintura no copo do cacique Munduruku.(Foto: Marcio Isensee e Sá/APública)

A pintura no corpo do cacique Munduruku. (Foto: Marcio Isensee e Sá/APública)

Amazônia Real – O que eram essas incisões e em que povos foram identificadas?

Carlos Augusto da Silva – Essas incisões apareceram na pintura corporal das sociedades que viviam aqui. Os Munduruku, por exemplo, eram mestres em usar esse tipo de pintura associada à cor da floresta. Azul do jenipapo, vermelho do urucu ou do cumacê. Isso em seus corpos nus. Essa propositura é porque eles estavam num ambiente tropical. Por que usar tanta roupa num ambiente onde faz muito sol e chove todo dia? Eu vou para a caça e pesca e não preciso ir com vestimenta bastante alegórica. Eu vou despido, mas com pintura que representa essa forma de estar neste espaço.

Amazônia Real – O que elas significavam?

Carlos Augusto da Silva – Para mim essa pintura corporal nessas populações era também uma espécie de roupa para se defender das espécies. Das pragas e insetos como carapanã e mutuca. Para se defender, usavam recursos da floresta. Como copaíba e andiroba [óleos amazônicos].

As mesmas cores estão presentes na cerâmica. Os tracinhos aparecem no corpo do Munduruku e também aparecem nas cerâmicas. Essas pinturas também estão nos peixes. O surubim, a pirarara, o pacu e o bodó também fizeram parte da pintura na cerâmica.

Então, voltando à pergunta anterior, para mim, as pinturas seriam exatamente as digitais desse povo manifestadas na cerâmica.

Amazônia Real – Outros povos também adotavam essas pinturas corporais e faziam as incisões?

Carlos Augusto da Silva – Sim, ela pode estar associada a outros povos também. Mas eu falo mais dos Munduruku e dos Parintintin porque eles ocuparam toda aquela área (baixo rio Amazonas). Teve uma época em que toda a ilha de Parintins era domínio dos Munduruku, embora me parece que eles tenham perdido com a chegada de outras populações. Se retiraram e subiram ou desceram para outros rios, como o Madeira e o Tapajós.

Amazônia Real – Como é acervo do professor José Alberto Neves?

Carlos Augusto da Silva – A coleção do Acervo Arqueológico José Alberto Neves tem fragmentos, mas também tem peças intactas. Algumas deram para perceber que foram feitas para ritual fúnebre, usadas uma só vez. Por causa desse uso, talvez tenham ficado preservadas. Já os de uso doméstico, cotidiano, foram gastas por excesso de uso, como é caso da colher. Por isso que ela estava desgastada, pelo uso.

Professor José Alberto Neves. (Foto: Alberto César Araújo/Ameal)

Professor José Alberto Neves. (Foto: Alberto César Araújo/Ameal)

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Amazônia Real – Como o senhor tomou conhecimento da coleção do professor José Alberto Neves?

Carlos Augusto da Silva – Eu conheço desde 2000. Foi assim. Nessa época eu estava trabalhando no Museu Amazônico (Universidade Federal do Amazonas). O professor Francisco Jorge era o diretor e foi convidado para participar da expedição Humboldt, que fazia 200 anos. A expedição era coordenada pelo professor Victor Leonardi, da Universidade de Brasília (UnB). A equipe de cientistas fez um trajeto que desceu o rio Negro e quando passou por Manaus, embarcamos junto. Assim, fomos até o Amapá. Passamos por quase todos os municípios do baixo Amazonas. Um deles foi Urucurituba. Chegando lá, encontramos por acaso a coleção. Quem nos falou dela foi a então secretária municipal de educação, Maria Alberto. Ela nos deu o endereço e fomos na casa do seu Alberto Neves. Vimos que a coleção tem entre 25 e 35 mil, com 2.600 catalogadas.

Amazônia Real – Como o professor José Alberto construiu seu acervo e como ele mantém?

Carlos Augusto da Silva – Ele construiu um espaço e alocou o material. Tem estante, prateleira. Com meu trabalho estamos renovando a estante. São 12 estantes. Ele mantém com seu recurso próprio de professor do Estado aposentado. A prefeitura de Urucurituba também era detentora de uma coleção, mas através do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico), ela foi levada para o abrigo do seu José Alberto Neves.

Ele cuida sozinho. Limpa, paga energia. Recentemente, com meu salário de servidor comprei um ar condicionado para refrigerar e um aparelho para retirar a umidade. A umidade maltrata muito a coleção. É um homem de 77 anos que cuida sozinho, com ajuda da esposa.

Amazônia Real – Onde as peças foram encontradas? Estavam em diferentes sítios?

Carlos Augusto da Silva – A coleção vem de quatro sítios arqueológicos da cidade. Consegui identificar uma espécie de arruamento de intervenção desses sítios. Então, tem uma coleção da própria cidade de Urucurituba. Vem também de um local chamado hoje Fazenda Tabocal e de uma área de nome lago do Arrozal. Há também de outra área chamada Tabocalzinho. Como ele soube e recolheu? Através da interferência das pessoas que trabalham com agricultura familiar ou então quando tem as terras caídas (erosão de terras à margem dos rios Amazonas). Cai (a terra), a população retira o material e leva para o abrigo. Se não fosse ele, não haveria essa história. Tudo tinha sido levado pelo barro ou estaria debaixo dos arruamentos da cidade.

Amazônia Real – Qual a idade estimada dessas cerâmicas e de que épocas elas são?

Carlos Augusto da Silva – Eu identifiquei algumas cerâmicas da chamada Tradição Pocó, que são sítios na calha do rio Amazonas com idade que vem de três a cinco séculos antes de Cristo. Tem também coleção da chamada Tradição Guarita, que vem depois de Cristo, com sítios encontrados no baixo rio Negro, do século 9 até o século 16. Então, podemos estimar em peças com mais de dois mil anos, abrangendo todo o segundo milênio.

As urnas estão com as características (identificadas com pinturas indígenas). São principalmente as urnas miracanguera, com traços de pinturas usados pelos Munduruku e Parintintin. A maior concentração dessa tradição [miracanguera] está à margem direita e esquerda do rio Amazonas. Na esquerda, entre a foz rio Preto da Eva e o rio Urubu, Itacoatiara (a 176 quilômetros de Manaus em linha reta). Também essa mesma tradição é encontrada na foz do rio Madeira até o rio Amazonas, onde hoje é Parintins (a 369 quilômetros de Manaus). Essa tradição de urnas foi identificada pelo explorador e botânico João Barbosa Rodrigues (1842-1909).

Amazônia Real – A população de Urucurituba conhece essas histórias e esse patrimônio?

Carlos Augusto da Silva – A nossa ideia é que esse trabalho chegue às escolas, ao poder público. Queremos levar essas informações às sociedades que não têm esse conhecimento. Mostrar que uma simples pintura na cerâmica representa um canal de vida na Amazônia pré-colombiana. Como fazer? Acho que vai partir das escolas. As escolas de Urucutubira não sabem. Quando eu estava lá em setembro de 2015, tivemos uma conversa com os vereadores. Eles achavam que a gente ia levar a coleção. Disse que não. Que estávamos trabalhando e identificando as peças para deixar lá. Hoje, é possível conhecer e visitar. O abrigo é muito organizado, tem livro de registro.

Amazônia Real – Vamos falar sobre seu trabalho desenvolvimento com o professor Eduardo Góes Neves. Como foi seu primeiro contato com ele e o que aconteceu a partir de então?

Carlos Augusto da Silva – Fui trabalhar no Museu Amazônico a convite do professor Francisco Jorge dos Santos, que era o diretor na época. Era para eu cuidar do setor de arqueologia que estava começando. Mas não tinha nada ainda. Fiz um curso no Museu Goeldi sobre Prática de Arqueologia na Amazônia. Em 1998, houve um seminário em Manaus e o Eduardo era um dos palestrantes. O professor Francisco disse: “Carlos, vamos conversar com esse cara. Ele pode ajudar a gente”. Fomos apresentados e passei a trabalhar com ele, fazendo parte de sua equipe. Foi então que passei a ter um certo entendimento, um outro olhar sobre a Amazônia. O Eduardo foi o canal para desenvolver os trabalhos na Ufam e possibilitou que a universidade tenha hoje o seu laboratório de arqueologia. Ele é um amigo, um irmão e um parceiro.

Carlos Augusto no resgate de urna na Colônia Antônio Aleixo, em Manaus (Foto: Valter Calheiros)

Carlos Augusto no resgate de urna na Colônia Antônio Aleixo, em Manaus (Foto: Valter Calheiros)

Amazônia Real – Como partiu o convite para o senhor ir trabalhar no Museu Amazônico?

Carlos Augusto da Silva – Eu estava na graduação e fazia uma disciplina chamada História da Amazônia, com a professora Patrícia Sampaio. O professor Francisco Jorge foi dar uma palestra na sala de aula e ficamos amigos. Uma vez ele me perguntou se eu aceitaria tocar a Divisão de Arqueologia do Museu Amazônico. Eu aceitei, mas no início não havia nada. Eu dizia que todo arquivo da Divisão eu carregava na pasta, mas tudo que chegava de doação eu fazia vistoria. Juntava os cacos [fragmentos arqueológicos] que mandavam para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e assim fomos criando uma pequena coleção.

Amazônia Real – Em que momento a Divisão de Arqueologia começou a crescer?

Carlos Augusto da Silva – Isso aconteceu com o projeto Amazônia Central, coordenado pelo Eduardo Góes Neves, com suas pesquisas no Amazonas. Eu fiquei na Divisão de Arqueologia até 2004, quando ainda funcionava na sede do Museu Amazônico (no centro de Manaus). Depois, decidi eu mesmo construir um laboratório no campus da Ufam. Encontrei um espaço que era só escombro. Rocei tudo, levantei parede, embucei, pintei. Fiz isso porque queria que a coisa andasse. O Eduardo contribuiu muito, inclusive com dinheiro, a construir o laboratório. Mas até então o laboratório não tinha muita coisa. Tinha um espaço, onde recebia algumas peças arqueológicas resgatadas. Mas foi crescer para valer mesmo em 2009, quando recebeu as milhares de peças resgatadas para a obra do gasoduto Coari-Manaus. Em 2013, a Ufam construiu um prédio novo para a Divisão de Arqueologia, que é coordenada pelo arqueólogo Luciano Silva.

Amazônia Real – Quais os trabalhos mais relevantes que o senhor e o Eduardo Góes Neves desempenharam juntos?

Carlos Augusto da Silva – Trabalho com o Eduardo desde 1998. Trabalhando direto. Um dos mais importantes foi o que fizemos nas obras do gasoduto Coari-Manaus. Fui um dos coordenadores de campo de resgate de alguns sítios ao longo do traçado. Foram cerca de 650 quilômetros percorridos de carro, de canoa, a pé. Encontramos mais de 65 arqueológicos. Conseguimos resgatar milhares de peça. Fragmentos, peças inteiras. Tem objetos, tem urnas. Não conseguimos contar o número, são milhares. Estão todas no laboratório da Ufam, mas só 5% do acervo são conhecidos.

Carlos Augusto durante a defesa de sua tese na Ufam. (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)

Carlos Augusto durante a defesa de sua tese na Ufam. (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)

Amazônia Real – Mesmo voltando a exercer atividades de servidor público na área administrativa, o senhor continua atuando como arqueólogo. Como desenvolve seu trabalho?

Carlos Augusto da Silva – Como servidor de carreira na Ufam estou desde 1976. Sou técnico administrativo no Centro de Ciências do Ambiente, onde trabalho na parte burocrática e auxilio dois programas de mestrado e doutorado. Na atividade arqueológica, atuo como voluntário na Divisão de Arqueologia da Ufam, que é dirigido pelo Luciano Silva.

Chego muito cedo, por volta de seis, sete da manhã e fico o dia todo. Tem sábado e domingo que também estou no laboratório. Também faço resgate de urnas que afloram em Manaus, como as do terreno da Colônia Antônio Aleixo (bairro da zona leste de Manaus). Não viso lucro, mas deixar para a sociedade essas informações.

Amazônia Real – O senhor também fez um trabalho para o Estudo de Impacto Ambiental para as obras da Cidade Universitária da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Iranduba, na parte de arqueologia. Como foi este trabalho e o que foi identificado?

Carlos Augusto da Silva – Recebi uma bolsa para fazer esse trabalho. Foi um diagnóstico. Naquela área identifiquei 17 sítios arqueológicos, a maioria na orla do Igarapé do Testa, à margem do rio Negro, próximo de Manaus. Ali foi uma área muito habitada na Amazônia pré-colombiana. É um terreno cheio de pedra. As populações que viviam nessa área utilizavam o topo para a residência e as encostas para a área agrícola. Para fazer a agricultura, eles reflorestavam. São dados interessantes para mostrar como é possível produzir alimento na área de encosta sem interferir muito no meio ambiente.

Amazônia Real – Ao terminar o EIA/Rima da Cidade Universitário, quais foram as recomendações e as condicionantes?

Carlos Augusto da Silva – A salvaguarda das peças e que o curso de Arqueologia na UEA (Universidade do Estado do Amazonas) fosse retomado. Que fosse feito um laboratório de Arqueologia. Se isto aconteceu, ótimo.

Amazônia Real – O Estado do Amazonas possui alguns dos maiores sítios arqueológicos do país. Todo o Estado tem sítio. No entanto, não possui instituição de pesquisa na área. A própria Ufam não tem um curso de arqueologia. O que o senhor acha disso?

Carlos Augusto da Silva – Na Ufam, é algo muito novo. Começou com a Divisão de Arqueologia no Museu Amazônico, com o professor Francisco Jorge. Com os esforços do professor Eduardo Góes Neves, temos hoje um espaço que para mim é um dos melhores do Brasil. No Norte, é o segundo melhor, pois o primeiro é o Museu Goeldi. O que falta é mão de obra qualificada. A ideia era criar corpo para manter este espaço de laboratório e de curso.

Amazônia Real – Apesar de todo trabalho, este esforço de resgatar a história das populações amazônicas pré-colombianas através da arqueologia, o senhor sente que falta realizar mais, que a sociedade precisa conhecer esta história? Não apenas a sociedade amazonense, amazônica, mas a brasileira?

Carlos Augusto da Silva – Sim, e eu não sei por que a história das populações indígenas não é conhecida, não é contada nas escolas, nas universidades. Parece que só é assunto no dia do índio. Ainda sabemos muito pouco. Por isso que é preciso que essas histórias sejam contadas nas escolas, nas universidades.

Eduardo e Carlos Augusto durante a apresentação da tese na Ufam. (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)

Eduardo e Carlos Augusto durante a apresentação da tese na Ufam. (Foto: Alberto César Araújo/AmReal)

– Esta matéria foi originalmente publicada no Amazônia Real e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.

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