Vamos morrer de fazer vaquinhas enquanto os grandes se fazem na nossa floresta com suas vaconas?

Vaquinha? Francamente minha gente! Vamos morrer de fazer vaquinhas enquanto os grandes se fazem na nossa floresta com suas vaconas?

por Jaider Esbell*

Essa noite passei a noite sonhando e foi assim.

Eu estava numa fazenda dessas na Amazônia. Fui lá e peguei um boi grande, enorme. Botei esse boi num barco desses da Amazônia e subimos o rio até a uma aldeia. Lá matamos o boi e distribuímos sua carne. Fomos em um supermercado grande e pegamos tudo que precisávamos e levamos para o povo. Na outra parte do sonho eu andava por um barração grande lotado de quartos de carne de boi pendurada pronta para ser distribuída para o povo que estava de quarentena.

Foi um sonho muito real com todos os personagens da vida real. Governo, ONG,s, indígenas e até uns turistas gringos brancos que continuavam entrando nas terras mesmo nesse tempo de pandemia. Ontem estava escutando uma live onde estava o Ailton Krenak falando várias coisas e uma pessoa “branca” perguntava o que poderiam eles fazer para ajudar as populações indígenas. Falou-se das vaquinhas que ajudam mas não são suficientes e falou-se de mover a opinião pública e de outros frontes para enfrentar o projeto de aniquilação dos nativos que está sendo acelerado com a ajuda do Corona.

Parece loucura mas se tivéssemos políticos articulados no parlamento poderíamos fazer com que um juiz desse determinasse que cada curral da Amazônia disponibilizasse parte de seu gado para essas demandas. Comida e demais estrutura para esses tempos difíceis. Se dizemos que conhecemos o tamanho da nossa população e sua necessidade e se se conhece o tamanho das fazendas e o tamanho desse rebanho, é questão de lei, da justiça da coisa e dos tempos. Se esse gado cresce em terras da Amazônia, já tá mais que na hora de a gente reivindicar, ou usufruir da parte que nos toca pois é um direito sim. Era muita carne meu povo e muitos mantimentos. Cereais que são cultivados nas terras ancestrais do sudeste e do cerrado. Não sei como essa postagem vai chegar por aí, mas eu sonhei assim….

Isso seria ressignificar tudo, o sentido e o valor de tudo. Estaria para muito além…

*Jaider Esbell é artista – escritor – produtor cultural.
Em atividade artivista desde 2009. É INDÍGENA da etnia Makuxi nascido no território Raposa Serra do Sol. Tem 41 anos e vive em Boa Vista-RR onde mantém a Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea. Site: www.jaideresbell.com.br

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