O oeste, o noroeste e uma parte da área central da Amazônia brasileira enfrentam nos últimos três anos cheias extremas causadas por chuvas acima da média.

Cidade de Boca do Acre, no Amazonas, ficou submersa em 2015. (FotoAmazonas/ Alberto Cesar Araujo)

Desde 2012 até primeira quinzena do mês de maio de 2015, 1,1 milhão de pessoas foram afetadas por inundações na Amazônia

O oeste, o noroeste e uma parte da área central da Amazônia brasileira enfrentam nos últimos três anos cheias extremas causadas por chuvas acima da média. Esta condição hidrológica e climática afeta cidades e comunidades ribeirinhas do Acre, Amazonas e Rondônia. Os cientistas dizem que o fenômeno de cheias e secas extremas pode estar associado ao aquecimento global do planeta.

Este cenário vem sendo constatado nas pesquisas que os especialistas fazem sobre o clima da floresta: uma parte da Amazônia está ficando mais úmida do que o normal. Por outro lado, em outras áreas da região, a tendência é de períodos mais secos, como é o caso da parte leste. A consequência do período chuvoso rigoroso nas populações são os sucessivos alagamentos nas áreas urbanizadas com danos econômicos e sociais graves. O mesmo ocorre nas zonas rurais que, em muitas cidades, são as mais atingidas.

Do ano de 2012 até primeira quinzena do mês de maio de 2015, 1,1 milhão de pessoas foram atingidas por inundações de suas casas, plantações e comércios pelas águas dos rios Acre (AC), Madeira (RO e AM) e Purus, Japurá, Juruá, Jutaí, Solimões e Negro, no Amazonas. Dos três Estados afetados por cheias extremas, o Amazonas é que detém o maior número de pessoas atingidas: 915 mil desde o ano de 2012.

Os números são de dados apurados pela agência Amazônia Real no Ministério da Integração Nacional e nas secretarias de Defesa Civil dos Estados e municípios.

A ajuda humanitária governamental às populações desabrigadas e desalojadas destes Estados somaram R$ 270 milhões, sem contar as inúmeras doações de gêneros alimentícios e de higiene que chegam da população solidária ao flagelo das cheias na Amazônia.

Em entrevista à Amazônia Real, o geólogo e especialista no estudo da hidrologia dos rios da Amazônia, Marco Antônio Oliveira, diz que no cenário de mais umidade na região as cheias são grandes e recorrentes e, ao mesmo tempo, com menos chuva na região Sudeste do país. É o que está acontecendo atualmente.

“Num cenário de mudanças do clima, pequenas ou grandes, está se prenunciando uma Amazônia mais úmida. Em consequência, haverá estiagem mais prolongada na região Sudeste. Se vai se consolidar, não sei”, afirma Oliveira, que é superintendente do Serviço Geológico do Brasil (de sigla CPRM), órgão que monitora e faz os alertas às autoridades da Amazônia para prevenir desastres naturais de grande magnitude às populações.

Uma das maiores incógnitas sobre os efeitos das cheias extremas é encontrar uma solução para as populações que vivem à margem dos rios, tanto as que estão em regiões de várzea do meio rural quanto às que possuem moradias em áreas inundáveis e alagadiças das zonas urbanas. Para Marco Oliveira, o lema é “resistir e se adaptar” ou criar outros instrumentos de adaptação.

O cenário projetado pelo especialista é de mudança nas áreas que são mais inundadas todos os anos. “Nas comunidades ribeirinhas será necessário construir casas mais elevadas e morar em flutuantes (casa de madeira que boia no rio) melhores e mais resistentes. Nas cidades, os municípios terão que incluir os efeitos das inundações nos planos diretores. Será preciso ainda dar outro uso para a área onde alaga”, disse Marco Oliveira.

O geólogo não considera a opção de transferir as populações ribeirinhas para áreas não inundáveis como uma medida viável devido às especificidades naturais da realidade amazônica.

“O mesmo ribeirinho que é afetado pela cheia, quando esta vai embora, ele lança a semente da batata, por exemplo, e ela já cresce logo. As pessoas moram nessas áreas por causa dos recursos naturais e abundantes”, disse Marco Oliveira.

Com a enchente, água fica contaminada e imprópria ao consumo. (Danilo Melo/FotoAmazonas)

O doutor em Hidrologia Rodrigo Paiva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), que desenvolve modelos de projeções a longo prazo para grandes bacias, confirma que a região oeste da Amazônia andina e brasileira está mais úmida e a área leste da região mais seca. Rodrigo Paiva esteve em Manaus nesta semana participando da conferência internacional “Águas Amazônicas: Escalas, Conexões e Desafios”, promovida pela organização WCS Brasil.

Paiva disse que nos rios da região andina e o Solimões e seus tributários, a tendência para um período entre 2070 e 2100, é de aumento de vazão e de inundações. Já em rios do leste da Amazônia, como Xingu e Tapajós, a tendência é de redução de disponibilidade de água, com menos vazão.

Para um futuro próximo, segundo o hidrólogo, as projeções são semelhantes, embora mais fracas. “O que tenho observado em notícias e em artigos científicos é que nos últimos anos existe tendência de mais inundação naquela região (referindo-se à bacia amazônica tanto nos Andes quando no território brasileiro). Mas isto são previsões”, disse Rodrigo Paiva.

As projeções indicam a predominância de chuvas intensas nas áreas oeste e noroeste, onde ficam municípios como Tabatinga, Benjamim Constant e Atalaia do Norte, localizados na calha do Alto Rio Solimões. Estes três municípios estão entre os mais afetados pela cheia em 2015. Foi o que aconteceu também no Acre, onde o rio do mesmo nome atingiu em 2015 a marca de maior cheia de sua história. O rio Acre, assim como o Solimões, também nasce no Peru.

Em entrevista à Amazônia Real, José Marengo, chefe de pesquisa do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), afirmou que as chuvas acima da média Amazônia do Peru e da Bolívia são as responsáveis pelas maiores enchentes no Acre, recorrentes em 2014 e 2015. Cerca de 283 mil pessoas foram afetadas por inundações no Estado nestes dois anos.

“Tem chovido sim bastante no oeste da Amazônia do Brasil, mas a atmosfera não tem fronteiras e as chuvas no Alto Amazonas (Amazônia Andina Peru e Bolívia) têm impactos nas vazões dos rios como Madeira, Solimões e Acre e Branco (Roraima) ”, afirmou Marengo.

Para o pesquisador, a tendência atual é acontecer cheias e secas mais intensas e frequentes no mundo. “Houve secas em 1998, 2005 e 2010 (chamadas de secas do século) e depois enchentes em 1999, 2009, 2012 e agora 2014-15, mas em áreas diferentes da Amazônia. Ou seja, podem aumentar as secas e enchentes mais intensas e frequentes, não somente na Amazônia, mas em todo o mundo”, disse José Marengo. (leia entrevista completa aqui).

Desequilíbrio: pouca chuva e muita chuva na mesma região

Segundo dados do Departamento de Meteorologia do Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia) enviados à Amazônia Real, as chuvas no noroeste e oeste do Amazonas em 2015 estão acima da média desde o início de maio, embora o monitoramento aponte um período “chuvoso” e “muito chuvoso” desde março. Em abril, as chuvas se concentraram sobre o Alto Rio Solimões e seus afluentes (rios Japurá, Juruá e Jutaí) e Alto Rio Negro, com acumulados de 400 a 450 mm. Esta condição deverá permanecer em junho e, em menor proporção, em julho.

A equipe de meteorologia do Sipam informou, com base em imagens disponibilizadas pelo National Oceanic and Atmospheric Administration /Climate Prediction Center (NOAA/CPC), um órgão governamental dos Estados Unidos, que o oeste do Amazonas e países vizinhos, principalmente Norte do Peru e sul da Colômbia, têm apresentado anomalias positivas de precipitação, ou seja, chuva acima da média.

Segundo os meteorologistas do Sipam, as chuvas anômalas de um modo geral estão ligadas a variação da temperatura da superfície dos oceanos tropicais. “O aumento da temperatura do oceano pacifico tropical acaba gerando um aumento de precipitação na Amazônia ocidental. Somado a isto, esta região esteve nos últimos meses sob a influência da Zona de Convergência Intertropical, que aumenta o aporte de umidade, gera movimento ascendente do ar o que propicia a formação de nuvens e por consequência o aumento da precipitação”, disse a equipe, em nota.

Muita chuva no oeste, chuva abaixo da média em outras áreas da Amazônia. O monitoramento do Sipam aponta anomalia de chuvas em outras áreas do Amazonas, com períodos de seco a muito seco no sul, centro e norte do Estado. Outros Estados da região também estão com chuvas abaixo da média, como é o caso do Centro e Sul do Pará e Maranhão, Centro e Norte do Tocantins, do Amapá, Mato Grosso e Roraima.

No Acre, a cheia virou uma “atração turística”. (Foto: Rafael Vilela/MídiaNinja)

Grandes cheias atingiram três Estados da Amazônia

Dos três Estados da Amazônia afetados por cheias extremas, o Amazonas é que detém o maior número de pessoas atingidas, quase 1 milhão desde o ano de 2012. Em 2015, são 150 mil pessoas sofrendo inundações em 24 dos 62 municípios, incluindo a capital Manaus, até o momento.

No Acre, a cheia histórica deste ano afetou 130 mil pessoas, segundo dados da Secretaria Estadual de Comunicação do Estado.

O rio Acre nasce no Peru e suas águas nos primeiros meses de 2015 inundaram nove municípios, incluindo a capital, Rio Branco. Destes, quatro ficaram em situação de calamidade pública: Brasiléia, Xapuri, Rio Branco e Tarauacá. (Leia matéria do Conta D`Água produzida em março deste ano).

O governo do Acre disse à Amazônia Real que a cheia recorde provocou prejuízos econômicos de R$ 140 milhões, entre despesas com alimentação, maquinários e todo e qualquer serviço que se concretizasse em auxílio diretor as famílias atingidas pelas águas. O governo federal, por meio do Ministério da Integração Nacional, repassou R$ 18.223.933,00 para a ajuda humanitária em 2015.

Com o fim da cheia, em março passado, as famílias retornaram para suas casas e as que não tinham mais condições estão morando em casas custeadas pelo programa de aluguel social, afirma o governo do Acre.

A recorde do rio Madeira, em 2014, atingiu 153 mil pessoas em Rondônia, segundo a Defesa Civil do Estado. Ficaram desabrigadas quase 48 mil pessoas e cerca de 15 mil, desalojadas. (Leia série de reportagens da Amazônia Real sobre a cheia do Madeira).

Segundo informações do governo de Rondônia, foram destinados R$ 22 milhões para atendimento às famílias afetadas. Já o governo federal, enviou R$ 15,420 milhões.

O governo de Rondônia informou também que prejuízos públicos foram de R$ 620.577,00 e os privados, na ordem de R$ 2.819.133.912,50. Em 2015, a cheia do Madeira foi menor, mesmo assim afetou 8 mil pessoas em Rondônia.

Em 2015, a chuva acima da média no Peru e no Oeste e Noroeste da Amazônia brasileira é a causa de uma das maiores cheias já registradas no Estado do Amazonas, atingindo especialmente o rio Solimões e afluentes.

Até o momento, conforme a Defesa Civil do Amazonas, 23 municípios dos 62, estão em situação de emergência. Um (Boca do Acre) está em situação de calamidade pública. O Ministério reconheceu a situação de emergência de 19 municípios do Amazonas.

A maioria das 150 mil pessoas afetadas pela enchente está desabrigada ou desalojada, afirmou o governo do Amazonas. O governo do Amazonas disse que repassou R$ 30 milhões para os 24 municípios afetados pela cheia.

Mais de 3 mil alunos estão com aulas suspensas em 16 municípios do Amazonas, disse a Seduc (Secretaria Estadual de Educação). Essas escolas estão com as salas de aula debaixo d´água.

Segundo o Ministério da Integração Nacional, foram liberados R$ 3,9 milhões para municípios banhados pelos rios Juruá e Purus, no Amazonas. Destes valores, R$ 1,7 milhão foram repassados para as cidades de Envira, Tapauá, Eirunepé, Canutama, Itamarati, Boca do Acre e Carauari. O valor de R$ 2,2 milhões para a compra de 5.850 kits de alimentos, 4.000 galões de água, 1.500 kits de higiene pessoal e 2.050 colchões.

Em resposta a perguntas enviadas pela reportagem, o Ministério da Integração Nacional disse que nos anos de 2012 e 2013, o Estado do Amazonas foi o que mais recebeu recursos federais para resposta a desastres causas pelas cheias dos rios.

Os valores correspondem a R$ 84,02 milhões, em 2012, e R$ 8,9 milhões, em 2013. Em 2014, o Amazonas recebeu R$ 2,4 milhões, disse o ministério.

O Ministério da Integração Nacional disse ainda que no ano de 2014, o Estado de Rondônia recebeu o maior repasse: R$ 17,9 milhões. Em 2015, o Acre, que registrou sua maior cheia, recebeu um total de mais de R$ 18 milhões.

As águas do Solimões inundaram a cidade de Anamã em 2015. (Foto: Defesa Civil de Anamã)

Pela segunda vez Anamã fica 100% submersa

O município de Anamã (a 165 quilômetros de Manaus) está “100% debaixo d´água”. Assim foi no ano de 2012, e agora em 2015 a situação se repete.

Anamã é um município fundado uma área de várzea (alagadiça). Os cerca de 10.200 habitantes, das zonas urbana e rural, estão com as casas de madeira ou alvenaria quase submersas. Toda a rotina da cidade é afetada: postes de iluminação, atendimento de saúde, comércios, escolas, coleta de lixo. Quem tem carro ou bicicleta, anda agora de canoa.

Pela reincidência das cheias, segundo o prefeito Jecimar Pinheiro Matos (PSD) os moradores passaram a construir casas com 30 metros acima do nível do rio.

O coordenador geral da Defesa Civil do município, José Luiz Batista da Costa, disse à Amazônia Real que a cheia de 2015 é “maior do que a de 2014” e “quase igual a de 2012”. Na zona rural da cidade, mais de 5 mil famílias estão afetadas.

Costa disse que, até uma semana atrás, quase 200 casas estavam com assoalhos de madeira construídos dentro das casas, como se fosse um “segundo andar” onde as pessoas podem se abrigar até a descida do rio.

Por causa da recorrência da cheia e dos transtornos causados pela subida do rio, o coordenador da Defesa Civil de Anamã diz que o Município teve, em 2012, a ideia de transferir a cidade para outra área, mas a população não aceitou.

“Ninguém quer sair daqui. O que as pessoas fizeram foi aumentar a altura das casas. As pessoas não querem ir para terra-firme, onde o solo é menos fértil e a população fica longe do peixe”, disse José Luiz da Costa.

Segundo o prefeito Jecimar Pinheiro Matos, por consequência da enchente atual foi decretada a situação de emergência, mas ainda aguarda que a Defesa Civil do Amazonas reconheça seu ato.

Conforme Matos, Anamã já gastou mais de R$ 300 mil em para atender a população com compra de madeira, medicamentos e cestas básicas.

Sede da Funai em Atalaia do Norte fica alagada com a cheia do rio Javari, afluente do Solimôes. (Foto: Bruno Pereira/Funai)

No extremo noroeste do Amazonas a situação não é diferente. A população de Atalaia do Norte (a 1.138 quilômetros de Manaus) está vivenciando uma cheia que tem semelhanças com a de 1999, considerada a maior do Alto Solimões, desde que as medições começaram a ser feitas, no final da década de 70. Atalaia do Norte é banhado pelo rio Javari, afluente do Solimões.

A Amazônia Real falou com o coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio) no município, Bruno Pereira, que enviou fotografias da sede do órgão afetado pela cheia. Morando em Atalaia do Norte há cinco anos, Pereira afirmou que ainda não tinha testemunhado uma cheia tão grandiosa quanto a de 2015. Ele se viu obrigado a interditar o primeiro andar da sede da coordenação da Funai e construiu plataformas de madeira no prédio.

“A chuva atrasou um pouco este ano, mas começou a apertar em abril e maio. Ano passado não inundou como em 2015. Temos informação que pode subir mais. Tem vários bairros alagados e pessoas desabrigadas”, disse Pereira.

As comunidades da Terra Indígena Vale do Javari, em Atalaia do Norte, não estão afetadas pela cheia, pois a maioria está localizada em terra-firme, com exceção da aldeia Soles, no rio Jaquirana, onde vivem indígenas da etnia mayoruna. Outra comunidade que poderia ser atingida era Mâncio Lima, no rio Ituí, dos índios marubo.

Cheia do rio Purus alaga ruas de Canutama (FotoAmazonas/Danilo Mello)

Cheias na Amazônia ocorrem em ciclos

Embora já tenha se estabilizado, segundo o último boletim divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil (sigla CPRM), órgão federal cujas estações monitoram as cotas dos rios da Amazônia, o nível atual do Solimões está próximo da cheia recorde de 1999, cujo pico máximo foi de 13,82 metros, medida na estação de Tabatinga. A medição na mesma estação feita no último dia 18 e novamente neste dia 21 apontava a estabilidade da marca em 13,77 metros. Em Fonte Boa, porém, o rio Solimões atingiu a cheia histórica. Nesta quinta-feira (21), a cota em Fonte Boa (a 678 quilômetros de Manaus) atingiu 22,50 metros, ultrapassando a marca anterior, registrada em 1999, de 22,24 metros.

O Secretário Estadual de Defesa Civil, Coronel Roberto Rocha, acredita que a cheia no Solimões deve ficar entre as três maiores já registradas. Ele explica que no Amazonas há três ciclos de cheias que ocorrem em épocas próximas e afetam alguns municípios com mais força.

O rio Juruá, por exemplo, afetou fortemente município de Eirunepé. A cheia do rio Purus levou Boca do Acre a decretar situação de calamidade. No Alto Rio Solimões, o mais afetado é Benjamim Constant.

O terceiro ciclo começa a acontecer neste momento, atingindo os municípios de Codajás, Manaquiri, Anori, Anamã e Manacapuru. Por fim, o chamado “ciclo do Pará”, pois atinge cidades na divisa com este Estado (é o caso de Parintins, Nhamundá e Maués), terá seu pico vigorando no final de junho.

Cheia do rio Negro, em Manaus, deve ficar entre as maiores

Em Manaus, a expectativa é que a cheia também fique entre as maiores, embora seja pouco provável que bata o recorde de 2012. Roberto Rocha afirma que ainda há expectativa de que a cheia do Solimões e do Purus tenha impacto em Manaus. “Acho que aqui (Manaus) deve ficar entre as maiores. Falo isso com base nos nossos históricos. Essa cheia em Manaus tem muita semelhança com a de 2009 e não com a de 2012. A informação que a gente tem é que ainda tem bastante chuva na Amazônia peruana”, disse Roberto Rocha.

Na última quarta-feira (20), o prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB) decretou situação de emergência na capital amazonense por causa da cheia do rio Negro. Segundo a Semcom (Secretaria Municipal de Comunicação), mais de mil famílias de 24 comunidades na zona rural de Manaus já foram afetadas pela cheia dos rios em 2015. O reconhecimento desobrigará a Prefeitura de realizar licitações para ações de atendimento às pessoas afetadas.

O decreto ainda será avaliado pela Defesa Civil Estadual e, posteriormente, pela Defesa Civil nacional, para então ser reconhecido. Em 2014, embora também tenha decretado emergência, a Prefeitura de Manaus não recebeu recursos federais.

De acordo com o superintendente da CPRM, Marco Oliveira, o rio Negro em Manaus tem subido em média três centímetros por dia. Nesta sexta-feira (22), atingiu a marca de 29,07 metros. A estimativa da CPRM é que o nível do rio Negro na capital amazonense fique entre 28,92 e 29,62 metros em 2015. Quanto atinge 28,92 metros, a marca já é considerada como “cota de emergência” pela CPRM. A cheia recorde do rio Negro é de 2012, quando a marca chegou a 29,97 metros.

Em Manaus, a Defesa Civil do município estima que cerca de 3 mil famílias poderão ser afetadas pela cheia do rio Negro.

O subsecretário executivo da Defesa Civil Municipal, Capitão Mário Aníbal, disse que este número só não é maior porque aproximadamente 500 famílias que viviam na bacia do São Raimundo, bairro localizado na zona Oeste de Manaus, foram retiradas pelo governo do Estado desde o ano passado e alojadas em unidades residências do Prosamim (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus) ou receberam indenização.

“Ainda não podemos prever quantas pessoas serão atingidas, mas a nossa referência é a cheia de 2012, que chegou a 29,97 metros. Estamos tomando providências a partir do que aconteceu nas últimas cheias, com construção de pontes e entrega de madeira para obras de assoalho”, disse o subsecretário. Conforme Mário Aníbal, a prefeitura de Manaus ainda não estipulou um orçamento fixo para o atendimento às famílias afetadas pela cheia deste ano.

Mas, segundo dados levantados pela assessoria de imprensa da Defesa Civil Municipal a pedido da Amazônia Real, a Prefeitura de Manaus tem como estimativa de gastos por conta da cheia do rio Negro o valor na ordem de R$ 641,139,29. Segundo a assessoria, esse número foi previsto calculando as necessidades caso o rio alcance a cota máxima prevista pelo CPRM para este ano, que é de 29,62.

Nos últimos três anos (2012, 2013 e 2014), os cofres da Defesa Civil Municipal liberaram mais de R$ 700 mil para as ações de atendimento às pessoas afetadas pela cheia. Os valores liberados pelo órgão foram os seguintes: 2012: 18.787,08; 2013: 87.199,14; 2014: 594,820,02. A prefeitura de Manaus, segundo a Defesa Civil Municipal, recebeu os seguintes valores do governo federal: 2012 – R$ 3.890.895,60; 2013 – R$ 2.469.600,00. Em 2014, o Município não recebeu recursos federais.

A Amazônia Real não conseguiu obter os valores totais liberados pela Prefeitura de Manaus para o atendimento da cheia nos últimos anos. A Secretaria Municipal de Comunicação disse que esses dados estão diluídos nos orçamentos de cada uma das secretarias e não teria tempo hábil para conseguir apurar.

Segundo dados da Semasdh (Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos), em 2013, foram atingidas pela cheia do rio Negro, 2.060 famílias em Manaus. Em 2014, a quantidade foi de 2,815 famílias. A Semasdh afirmou que não tinha, no momento, o número de pessoas afetadas em 2012, quando a cheia do rio Negro atingiu o nível máximo em mais de 100 anos.

Rua do Centro de Manaus afetada pela cheia recebe descontaminação da água. (Foto: Tácio Melo/Semcom)

Para entender os impactos da cheia de cada grande rio da bacia amazônica é preciso compreender o regime hidrológico. Em 2015, o rio Madeira teve uma cheia considerada “normal”, diferente do que ocorreu em 2014. Foi a cheia recorde do Madeira de 2014 que influenciou na cheia de alta magnitude no ano passado em Manaus. O Madeira influenciou também a cheia no município de Itacoatiara, vizinho de Manaus, pois ajudou a represar o rio Amazonas.

Já em 2015, é o Solimões que pode impactar o rio Negro na capital amazonense. Isto vai depender das chuvas no Norte do Amazonas, segundo do superintendente da CPRM, Marco Oliveira.

“O Solimões está empurrando a água para baixo. É uma grande cheia, mas as águas estão escoando com mais facilidade. O efeito pode impactar para menos no baixo Amazonas. Mas toda a calha vai sofrer com a cheia grande”, disse Oliveira.

– Esta matéria foi originalmente publicada no Amazônia Real e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.

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