E esta não é uma boa notícia, pois significa que o animal retirado da vida livre tem poucas chances de voltar a viver na natureza.

10042015-peixe-boi-alimentadoFilhote de peixe-boi-da-amazônia toma o leite especial preparado pela Associação Amigos do Peixe-Boi. Este macho jovem foi o segundo a ser entregue ao Inpa este ano. Foto: Fernanda Farias/Ascom Inpa

Manaus, AM – A fêmea de 33 quilos é o terceiro filhote de peixe-boi a chegar ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) este ano. Encontrada em uma malhadeira, rede usada por ribeirinhos para pescar, foi resgatada e entregue às autoridades. Azar dela. Agora é uma órfã que vai passar os próximos dias se adaptando a vida em tanques. Não precisava ser assim.
“Há cerca de cinco anos, a gente constatou que filhotes presos ou avistados em malhadeiras, e que estão em condição física boa, têm que ser soltos imediatamente, a não ser que a mãe tenha sido morta”, disse o veterinário Anselmo d´Affonseca, do Inpa. “Mesmo sem ser vista, a mãe não abandona o filhote”.

A jovem fêmea já completou pelo menos o terceiro mês de vida, mas é difícil ter certeza da idade. Está com 1,20 metro de comprimento e saudável. Enfrenta porém dificuldades para se acostumar à nova vida. D´Affonseca explica que animais que já atingiram alguns meses de vida sobrevivem com o leite especial, fornecido em cativeiro.

Se tivesse mais algumas semanas de vida, os cuidadores já forçariam a alimentação com sólidos, mas por enquanto vão insistir um pouco mais com a mamadeira. Como chegou saudável, acreditam que ela tenha forças suficientes para superar este período difícil.

Claro que existem ocasiões em que não há alternativa, a não ser tirar o filhote da água e entregar aos cuidados da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa), uma organização não-governamental que atua junto ao Inpa em pesquisas e na conservação de mamíferos aquáticos. Um dia antes da chegada da fêmea, a viagem até Manaus significou a salvação para outro peixe-boi, um macho mais jovem.

Depois de dez horas viajando em uma lancha rápida (que no Amazonas é apelidada de barco-a-jato), o filhote desembarcava em Manaus, onde foi medido com 90,3 centímetros de comprimento e 13,8 quilos de peso. Seu resgate ocorreu na comunidade de São João do Jacu, em Parintins, cidade que fica a 370 quilômetros de Manaus. Entregue por ribeirinhos à Marinha e posteriormente ao Ibama, viajou aos cuidados do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).

O filhote nadava com dificuldades. Os veterinários acreditavam que ele estava com gases. Além disso, tinha marcas de uma zagaia (arpão com ponta em forma de tridente), que pareciam superficiais. Além de ser alimentado com o leite especial, recebeu antibióticos e remédios para ajudar na digestão. Na segunda-feira, já estava melhor.

A chegada de um filhote de peixe-boi encanta, mas é também um problema. “Quando você tira um animal da natureza, qualquer que seja, ele praticamente morre para aquela população”, diz D´Affonseca, destacando que a soltura é sempre complicada, porque pode significar a morte do bicho. E já são quase 60 peixes-bois em tanques artificiais ou açudes mantidos pelo Inpa e pela Ampa. “A prioridade nossa é manter esse animal na natureza”.

– Esta matéria foi originalmente publicada no OEco e é republicada através de um acordo para compartilhar conteúdo.

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